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ARTIGO 4 REPERCUSSÕES DO PROJETO DE AQUISIÇÃO DE GÊNEROS

5.2 Repercussões do Projeto de Aquisição de Gênero Alimentício da Agricultura Familiar

5.2.6 Envolvimento Familiar na Produção

Segundo Cunha (2015), o envolvimento familiar nas atividades cotidianas do meio rural é fator importante para a sobrevivência e fixação do pequeno agricultor no campo, pois garante a manutenção de várias necessidades dos mesmos para reprodução da vida rural. Essa constatação foi retratada nos registros do diário de campo e das fotografias decorrente das observações da mestranda durante as visitas realizadas na propriedade dos agricultores, conforme apresentado na Figura 14.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

Figura 14 – Envolvimento dos membros da família na atividade agrícola

Nesse dia, era um feriado, 02 de novembro de 2016, encontrei a esposa do agricultor fazendo a limpeza dos canteiros da horta sozinha, enquanto isso, seu marido entregava produtos na cidade de Viçosa, MG. Seus filhos se encontravam em casa, a menina, segundo a agricultora deveria estar estudando e o menino brincando com o joguinho na televisão da cozinha (DIÁRIO DE CAMPO E OBSERVAÇÃO, 2016).

Observa-se que é comum esse tipo de integração nas famílias pesquisadas, onde há trabalhos coletivos, por meio de ajuda entre os membros da família, com o intuito de atender aos prazos estipulados e os pedidos de entrega dos produtos conforme representado nas Figuras 15 e 16.

Fonte: Dados da pesquisa, 2016.

No mesmo dia, 02 de novembro de 2016, presenciei o trabalho de uma mãe, de um filho e uma ajudante que trabalhavam limpando feijão para entregar no comércio de Coimbra, MG. É importante relatar que o pai nesse momento, estava na lavoura de tomate colhendo os alimentos (DIÁRIO DE CAMPO E OBSERVAÇÃO, 2016).

Fonte: Dados da pesquisa, 2016

Figura 16 – Envolvimento das mulheres na atividade agrícola

Nas visitas realizadas nas propriedades dos agricultores constatou-se por relatos e ações, o envolvimento das mulheres no processo do PAGAAF no município de Coimbra, MG. Dois dos agricultores que detém a DAP Principal e assinam o contrato com as Entidades Executoras do Projeto, disseram que eles fazem o contrato com as escolas, mas são suas esposas que ficam responsáveis por todo processo, ou seja:

Elas plantam, colhem e entregam os alimentos nas escolas. Nós trabalhamos em outras produções mais pesadas, como café, granja, tomate, e outros, mas ajudamos elas também na horta. Verificou-se que dois agricultores trabalham sozinho na condução de suas produções agrícolas. Constatou-se que um agricultor tem dificuldade de incentivar os filhos a ajuda-lo na condução de sua plantação (DIÁRIO DE CAMPO E OBSERVAÇÃO, 2016).

Nos relatos acima confirma o que Cunha (2015) destaca em seu trabalhado, mostrando que o trabalho agrícola que exige maior força física é realizado predominantemente pelos homens, enquanto os que exigem menor força física são efetuados pelas mulheres e jovens. Observa-se que o trabalho da mulher na agricultura é, habitualmente, divido em suas tarefas domésticas e o trabalho agrícola, e é considerado muitas vezes como ajuda. Essa afirmação é reforçada na fala de uma agricultora:

Nossa vida é muita correria, eu tenho que levar filho para escola, arrumar a casa, fazer comida e ajuda na roça. Meu marido sai cedo pra entregar as verduras, eu tenho que ficar atendendo os telefonemas para marcar os pedidos. Tem vez, que levo o telefone para horta, é uma loucura, muitas vezes, esqueço de levar o caderno, tenho que anotar tudo na cabeça. Meu marido fala que eu sou boa de memória, que lembro de tudo e ele é muito esquecido, não guarda nada (Agricultora 09 A).

Percebe-se que o trabalho da agricultora está divido entre as tarefas domésticas e o trabalho agrícola. Segundo Silva (2012), o envolvimento da mulher trabalhadora no meio rural como força de trabalho, tem levado a sociedade a observar melhor o papel da mulher diante da organização familiar, na economia, nos movimentos sociais, na política e no trabalho coletivo. A mulher passa a contribuir de forma mais ativa para a manutenção da propriedade, no processo de produção e comercialização dos produtos. Essa afirmação é encontrada no trabalho de Manfiolli (2014), que destaca o aumento da participação da mulher na produção, além de ser responsável pela elaboração dos produtos fornecidos, principalmente os manipulados ou processados.

No que se refere ao envolvimento dos jovens no trabalho agrícola, constatou-se pouco envolvimento com as atividades desenvolvidas pelos pais na propriedade:

Minha filha ajuda de vez enquanto, muito pouco, pois ela estuda na UFV, ela está fazendo o curso de enfermagem, foi o que ela sempre quis fazer. Ela estuda muito, quando chega da UFV, descansa um pouco e volta para os livros (Agricultora 09 A). É meu sonho comprar essa propriedade, antes não tinha nada, eu venho cuidando, e agora produz muitas bananas, [...], se os meus filhos quisessem trabalhar e me ajudar, eu conseguiria. Mas, estou velho de mais, e não consigo lutar mais sozinho, e os meninos não querem nada com a dureza (Agricultor 111).

Nas narrativas acima confirmam um tema muito discutido no meio acadêmico, sucessão familiar rural, abordados por Abramovay (1992; 2001), Schneider (2010) e Barcellos (2014), como grande dificuldade encontrada no meio rural, pois a permanência do jovem na agricultura revela-se importante para dar continuidade às atividades das pequenas propriedades, garantindo a produção agrícola e sua diversificação.

O PAGAAF tem contribuído para a manutenção destas famílias no meio rural, evidenciando que o envolvimento das mulheres e dos jovens na agricultura também passou a ter maior relevância, pois quanto maior for o envolvimento de todos os membros da família no processo de produção para o mercado institucional, maior será a renda familiar e melhor qualidade de vida (MANFIOLLI, 2014; CUNHA, 2015; OLIVEIRA, 2015).