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A família corresponde a um grupo social importante que exerce uma influência decisiva no desenvolvimento do indivíduo, sendo encarada como uma organização complexa, inserida num contexto social com o qual estabelece interacções constantes (Biasoli-Alves, 2004).

Para Drummond e Drummond Filho (1998), aquela organização, através da sua conduta e valores, tem, por isso, um papel fundamental na formação pessoal, sendo responsável pelo primeiro processo de socialização da criança.

Para Schumacher (1998), as atitudes tomadas pelos pais e pela escola poderão ser determinantes na existência de maior ou menor stress na fase da transição.

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Wilcock (2010), na entrevista anteriormente mencionada, sublinhou, por sua vez, que as preocupações com a transição foram igualmente focadas em dois estudos realizados no Reino Unido: “The Manchester Transition Project” (iniciado em 2002 e ainda em desenvolvimento) e “What Makes a Successful Transition from Primary to High Schoool” (estudo de 2008), do Department of Children, Schools and Families. “The Manchester Transition Project” focou a atenção na transição da Educação Pré-Escolar para a Escola e tem tido um enorme impacto no estabelecimento de relações entre as escolas e as famílias. Os directores e o pessoal mostraram grande entusiasmo pelo projecto e os resultados foram extraordinários em termos de um esforço conjunto para uma ligação, a médio e espera-se a longo prazo, entre a escola e a família. Um professor envolvido no projecto considerou que finalmente pais e escola estavam a trabalhar em conjunto, como uma equipa, na educação das crianças. O segundo estudo sobre transições da primária para o secundário, que envolveu mais de quinhentas famílias, concluiu que é necessário desenvolver trabalho em três áreas: adaptação social, adaptação institucional e manutenção do interesse e continuidade do currículo.

Vários investigadores (Canavarro, J. et al., 2002), no âmbito de um projecto financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, sobre Pesquisa Educativa, apontaram para a importância do envolvimento parental e da comunidade, tendo salientado o seguinte:

o envolvimento parental na escola e o seu papel no ajustamento académico tem sido alvo de múltiplos estudos, que revelam, na sua maioria, uma associação positiva entre envolvimento parental na escola e desempenho académico e apontam o baixo envolvimento parental na escola como um factor de risco para o abandono escolar.

Naquele estudo foi ainda recolhida evidência de que o desenvolvimento da criança é não apenas influenciado pela família e pela comunidade escolar mas também pelas interacções que estas criam entre si.

Nesse sentido, foram, pelos mesmos investigadores, apontadas diversas sugestões de envolvimento da família na vida escolar, destacando-se as

seguintes: informação à família sobre as condições básicas a um bom desenvolvimento das crianças e jovens e sobre as suas necessidades nas várias fases de desenvolvimento; realização de várias reuniões e encontros para informação sobre os projectos integradores da escola, estabelecendo uma comunicação efectiva e continuada que promova a partilha sobre o percurso de cada aluno/educando, bem como transmissão de informação sobre a forma como cada um pode ajudar na promoção do sucesso; participação na supervisão de recreios, no desenvolvimento de actividades na Biblioteca e/ou salas de estudo, por parte da família, de acordo com a sua disponibilidade; criação de grupos de trabalho que envolvam a família nas decisões a tomar para melhoria da escola; informação à família sobre os diversos recursos/parceiros de que dispõe no meio.

É ainda dada especial atenção às medidas que a escola pode pôr em prática, nomeadamente no âmbito da Área de Estudo Acompanhado, no sentido de promover competências de organização e gestão do tempo, bem como a articulação nos Conselhos de Turma, levando a que, por exemplo, possa ser doseada a realização de trabalhos de casa. A participação em actividades extra-curriculares na nova escola (escola do 2º ciclo), pelos alunos do 4º ano, é outra sugestão feita. O recurso a tutorias por outros alunos e a promoção de relações entre colegas de anos anteriores são medidas igualmente sugeridas.

O estudo supracitado mostra, por outro lado, que o combate ao stress será tanto mais eficaz quanto melhor se conheça a realidade de cada contexto específico.

Neste sentido, considera-se pertinente conhecer e analisar as expectativas, as percepções e os sentimentos dos alunos sobre as transições; caracterizar as representações dos professores dos 1º e 2º ciclos sobre o seu papel e o do “outro” no processo de transição; conhecer as expectativas, procedimentos e preocupações dos pais/encarregados de educação relativamente às transições dos seus educandos e recolher dados que

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sustentem o reconhecimento de papéis e conduzam à construção de percursos balizados por sequencialidade e articulação, visando experiências enriquecedoras e o sucesso educativo.

Para minimizar, ou mesmo inverter, os factores negativos associados às transições e transformar este processo numa fase potencializadora de crescimento e desenvolvimento, é imprescindível conhecer esses factores, bem como os contextos em que se fazem sentir. A eficácia das estratégias e dos mecanismos de transição pode, com efeito, depender em muito do grau de conhecimento que se tem da realidade.

Também Schumacher (1998) indica algumas sugestões para evitar transições difíceis: organização de várias actividades que envolvam os alunos, pais, professores e pessoal de ambas as escolas envolvidas; estabelecimento de um protocolo que possa facilmente ser actualizado anualmente; estabelecimento de um calendário de transição; existência de reuniões entre grupos que vão deixar de ter os alunos e os que os vão receber, bem como conversas com adultos e alunos sobre os problemas sentidos; identificação de líderes, quer entre adultos, quer entre alunos, que possam ajudar no processo; avaliação do processo implementado por alunos, pais e professores.

Como actividades, sugere o mesmo autor as que se enunciam: articulação curricular, de modo a que ambos os níveis conheçam o currículo e as práticas pedagógicas; visita, pelos professores que vão receber os alunos, à escola que eles frequentam para iniciação de contactos pessoais; convite a alunos e pais para actividades na escola; envolvimento da Associação de Pais, no sentido de que dê as boas vindas a cada família; passagem de informação entre professores, tutores e técnicos; constituição de uma equipa de “embaixadores de boas vindas” com os alunos que já frequentam a nova escola; troca de cartas entre os alunos de ambas as escolas (1º e 2º ciclos); elaboração de um folheto informativo, contendo o número de telefone, a história da escola, os horários, os professores, o serviço de almoço e outras que se julguem pertinentes. Apresentam-se de seguida dois projectos

implementados em escolas portuguesas, como exemplo de operacionalização de algumas dessas estratégias.

1.8. Dois Projectos Desenvolvidos no Âmbito das Transições

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