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Envolvimento e participação em actividades de Mediação Sócio-Educativa

Capítulo III: Natureza(s) da Intervenção e da Participação

3.5. Envolvimento e participação em actividades de Mediação Sócio-Educativa

individualmente, durante um trimestre com uma frequência de quatro sessões semanais. O período de estágio na Escola foi mais restrito, tanto em termos da acção propriamente dita, como do período de intervenção, pois neste espaço educativo formal, a acção reduziu-se à participação em 9 aulas, cada uma com duração de 45 minutos.

Apenas a problemática difere entre ambos os espaços de intervenção. Na Casa da Juventude, deparámo-nos com a inexistência de um projecto coeso de Educação; na Escola e, precisamente nas aulas de Formação Cívica, encontramos jovens desmotivados sem qualquer sentido do que é “ser-se cidadão”. A forma de interligar estas duas problemáticas foi revelar que o objectivo da intervenção era, através de determinadas estratégias, formar identidades juvenis responsáveis e cidadãs. Ora, mediante tal objectivo, foi debatido entre os/as jovens temas como: os valores de uma cidadania democrática; o conflito; as necessidades do Ser Humano; a alimentação; a reciclagem; o ambiente; a pobreza e a exclusão social, entre outros, sendo que, por vezes, os temas eram repetidos na Casa da Juventude visto não existir assiduidade dos/as participantes em cada sessão.

As figuras que habitam este espaço vão deliberadamente conquistando um lugar na vida destes/as jovens, no sentido em que muitas vezes os/as utentes confidenciarem problemas, angústias e acontecimentos da vida pessoal. O simples facto de um/a funcionário/a perguntar ao/à jovem como correram as suas férias, tem em si significados e ocorrências da vida pessoal, emocional, familiar, etc, que requererem uma certa atenção e consideração pelas Juventudes.

Tal como refere Abrantes no seu livro Os Sentidos da Escola, as figuras e os actores sociais constituem, no espaço escolar, muita importância e carga na vida dos/as jovens. O mesmo acontece na Casa da Juventude, espaço onde os/as jovens passam a maior parte do seu tempo extra-escolar:

“o contacto diário prolongado e o envolvimento em actividades, clubes, novos espaços escolares, parece potenciar relações de cumplicidade e amizade entre alunos professores, funcionários, outros actores (como a animadora cultural), dando origem a redes densas e duradouras, que constituem um elemento-chave nas vivencias escolares dos diversos actores e na coesão do tecido social» (2003:101).

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Esta educação multicultural, que se pretende que o currículo escolar transmita, também é recíproca para com os espaços de educação não-formal, de maneira a que todos/as se envolvam socialmente na educação dos/as jovens e na construção da sua identidade.

Na sequência da rectificação e reorganização do currículo do ensino básico, o Decreto-Lei n.º 6/2001, integra na matriz curricular três novas áreas não disciplinares, cujos objectivos da disciplina de Formação Cívica, na qual esta intervenção se debruçou, tem como objectivo:

«o desenvolvimento da consciência cívica dos alunos, como elemento fundamental no processo de formação de cidadãos responsáveis, críticos, activos e intervenientes, com recurso, nomeadamente, ao intercâmbio de experiências vividas pelos alunos e à sua participação, individual e colectiva, na vida da turma, da escola e da comunidade» (Decreto-Lei nº6/2001). Entendo que o papel foi, sobretudo, de mediador, pois, para além de recorremos a técnicas e estratégias de mediação, a relação estabelecida com os sujeitos era independente, sem que houvesse qualquer poder sobre os mesmos. Na mesma linha de pensamento de Neves «tenho sérias dúvidas que um professor de uma escola possa realmente ser o mediador de um conflito entre um seu colega e um aluno, muito embora possa evidentemente utilizar técnicas e estratégias de mediação para melhorar a relação entre ambos» (2010: 42).

Para se fazer mediação, seja ela de conflitos, familiar, escolar ou qualquer outro tipo de mediação de que possamos falar, é necessário evitar, ao máximo, as tendências instintivas ou espontâneas do mediador durante todo o processo. Digo “ao máximo”, pois, o/a mediador/a, também ele é humano, também ele está inserido numa sociedade, também ele/a tem pré-conceitos, também ele/a erra. Contudo, se já desejando ser neutro e imparcial, [inevitavelmente] nem sempre o é, imaginemos se não o pretendesse…É, por isso, necessária uma aprendizagem técnica e metodológica para que o mediador/a não possa julgar nem se comprometer no processo. Neste sentido, surge a problemática da neutralidade e imparcialidade do/a mediador/a, características fulcrais em qualquer processo de mediação. No entanto, penso que, manter uma relação equidistante dos/as mediados/as, de forma a não realizar preconcepções, torna-se uma tarefa bastante árdua e, quiçá impossível de obediência rigorosa.

A natureza do trabalho de mediação através da multiplicação e diversificação das actividades, teve como objectivo promover a reflexão individual e colectiva sobre

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experiências dos/as jovens, contribuindo, portanto, para a crescente responsabilização dos/as alunos/as numa lógica de educar o indivíduo para a cidadania.

O meu papel de mediadora não foi tanto de resolução de conflitos, mas antes de aproximação dos sujeitos envolvidos, quer no espaço escolar, quer na Casa da Juventude. No espaço escolar, um dos objectivos foi fundamentalmente incutir nos/as jovens a responsabilidade de “ser cidadão”, isto é, através do respeito pelas diferenças e da responsabilização dos/as jovens pretendeu-se melhorar o clima desta turma em particular, consoante as actividades dinamizadas, recorrendo a técnicas de comunicação e de negociação entre os sujeitos.

Penso que esta actuação enquanto mediadora, através das actividades e experiências de mediação em ambos os lugares, foi, de uma maneira geral, alcançada, no entanto, há que referir que no espaço escolar a acção tornou-se mais limitada do que no contexto não-formal, como foi o caso da Casa da Juventude:

«Por um lado, isto poderá levá-lo a alhear-se da dinâmica da escola, centrando a sua acção na comunidade. Por outro, estando como é próprio dos mediadores institucionais, intimamente associados ao poder instituído, poderá ser tentado a procurar o seu próprio estatuto na escola, à qual não pertence, o que o poderá levar a contornar algumas situações e conflitos, a fim de não se confrontar com o poder instituído que ele representa, mas do qual não faz parte» (Freire, 2010:68).

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