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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.3 BIOQUÍMICA

2.3.6 Enzimologia

A enzimologia clínica estuda e testa atividade enzimática no soro, plasma, urina ou outros fluidos corporais, com o propósito de ajudar a estabelecer o diagnóstico e prognóstico de doenças e fazer uma triagem para anormalidades nas funções dos órgãos (Kaneko et al., 2008). Embora as células do organismo contenham o mesmo DNA, nem todos os genes são expressados em cada uma delas. Ao invés disso, as proteínas necessárias à função celular são sintetizadas, enquanto outros genes são suprimidos. Desta forma, cada célula contém sua própria “impressão digital” de enzimas. Usualmente, baixos níveis de enzimas estão presentes no plasma, refletindo o equilíbrio entre a sua liberação durante os processos normais de renovação celular, e o seu catabolismo ou excreção (Kerr, 2002).

Considerando-se a importância da enzimologia como ferramenta diagnóstica, alguns princípios básicos devem ser considerados. Órgãos, tecidos ou células distintos, irão conter enzimas diferentes. Em alguns casos, somente poucos órgãos ou tecidos são responsáveis por produzir determinada enzima. Esta especificidade tissular, tende a ser uma ferramenta diagnóstica mais útil. A detecção de atividade enzimática sérica aumentada, sugere lesão das células de origem ou estímulo da produção celular da referida enzima. Assim, o diagnóstico enzimológico é uma forma de se localizar em qual tecido ocorreu a lesão ou estímulo à produção enzimática aumentada (Thrall et al., 2012). Atividade enzimática sérica aumentada pode ser resultado de extravasamento ou indução. As enzimas podem ser liberadas na corrente sanguínea quando a lesão altera a membrana celular, as quais receberão a denominação de enzimas de extravasamento. Por outro lado, indução envolve aumento da produção de uma enzima pelas células que normalmente produzem as mesmas em pequenas quantidades. Este aumento de produção é induzido por algum tipo de estímulo, o qual resulta em aumento da liberação da enzima

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pelas células e consequentemente, elevação na sua atividade sérica. As enzimas que passam para o soro por meio deste mecanismo, são denominadas de enzimas de indução (Thrall et al., 2012).

A redução da atividade enzimática é muito menos frequentemente usada para interpretação clínica, e na maioria das vezes, este achado é decorrente de estocagem inadequada da amostra. Entretanto, há poucos casos específicos, onde baixa atividade enzimática poderá indicar que o órgão correspondente esteja hipoplásico, atrofiado ou destruído. O exemplo mais comum disto é a redução nas concentrações de tripsina imuno reativa (IRT) na deficiência pancreática exócrina (Kerr, 2002).

A atividade da aspartato aminotransferase (AST) é relativamente alta nos hepatócitos, musculatura esquelética e cardíaca de todas as espécies, embora possam haver variações entre elas (Boyd, 1983). Desta forma, a mesma não é considerada uma enzima hepato-específica. AST enquadra-se como uma enzima de extravasamento, encontrada predominantemente no citoplasma, com cerca de 20% localizada dentro da mitocôndria (Keller, 1981). Atividade aumentada da AST pode ser decorrente de lesão moderada a grave de hepatócitos ou células musculares (Thrall et al., 2012). Em equinos e ruminantes, AST é frequentemente usada como teste de rotina para detecção de lesão nos hepatócitos e incluída na maioria dos perfis bioquímicos de s animais de grande porte, já que a alanino aminotransferase (ALT), tem baixa atividade nos hepatócitos destas espécies. Em grandes animais, aumento da atividade sérica de AST pode ser resultado do mesmo espectro de doenças hepáticas associadas à ALT em cães e gatos. O principal problema com AST em detectar lesão hepática é a sua falta de especificidade para este órgão, embora tal problema possa ser minimizado pela avaliação conjunta da mesma com a creatino quinase (CK), que é uma enzima músculo-específica (Thrall et al., 2012). A gama-glutamil transferase (GGT), considerada uma enzima de indução, é

sintetizada pela maioria dos tecidos, com atividade mais alta ocorrendo no pâncreas, rins e glândula mamária de caninos, bovinos, capinos e ovinos (Keller, 1981; Kaneko et al., 2008). Também está presente, em menores concentrações, nos hepatócitos, epitélio dos ductos biliares, pulmões, vesícula seminal e mucosa intestinal (Kaneko et al., 2008; Thrall et al., 2012).

Nas espécies de animais de grande porte, a elevação da GGT sérica é um dos indicadores mais confiáveis de lesão hepática e obstrução biliar. Está mais associada com lesão hepática crônica que a sorbitol desidrogenase (SDH) e a glutamato desidrogenase (GDH), já que frequentemente sua concentração está normal quando ambas estão elevadas e aumenta quando SDH e GDH declinam. Processos mórbidos como intoxicação por alcalóides pirrolizidínicos, hepatite crônica ativa, colângio-hepatite e colelitíase, provocam lesões hepáticas, principalmente na região periportal, levando ao aumento marcante e persistente da atividade sérica da GGT (Kerr, 2002; Smith, 2006)

A fosfatase alcalina (ALP) é uma enzima de indução, e uma das mais amplamente distribuídas no corpo. Consiste de um grupo de várias isoenzimas, as quais hidrolisam fosfato em pH alcalino e são encontradas particularmente nos osteoblastos, fígado e parede intestinal, embora também sejam sintetizadas nos rins, pâncreas e placenta. Atividade mais alta de ALP é encontrada em animais jovens com elevada atividade osteblástica. Após o fechamento das placas de crescimento epifiseal, a atividade da mesma é reduzida e é principalmente de origem hepática (Keller, 1981; Kerr, 2002). A ALP é utilizada na maioria das espécies como marcador de obstruções intra ou extra-hepáticas do sistema biliar. Aumentos na atividade da ALP sérica estão relacionados à atividade osteoblástica em animais jovens e em fase de crescimento rápido, riquetsioses e em consolidações de fraturas (Smith, 2006).

A lactato desidrogenase (LDH) catalisa a conversão reversível piruvato a lactato e é

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uma das maiores moléculas protéicas do corpo (Kerr, 2002). A LDH é encontrada em concentrações relativamente altas em diversos órgãos e tecidos corpóreos, desde coração, fígado, músculos e rins, passado por eritrócitos e leucócitos. Tal característica implica em uma redução do seu uso como ferramenta diagnóstica, já que seus limites de sensibilidade e especificidade, são reduzidos. Elevação na atividade enzimática sérica de LDH deverá ser avaliada com relação ao outras enzimas que sejam mais específicas para determinados órgãos (Smith, 2006; Kaneko et al., 2008).

2.4 FLUIDOTERAPIA EM BOVINOS

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