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2 A T EORIA N EOCLÁSSICA E O POSITIVISMO NA C IÊNCIA E CONÔMICA : BREVE INTRODUÇÃO

A economia positiva pode ser definida como um conjunto de hipóteses capazes de fornecer previsões significativas a respeito de fenômenos ainda não observados ou cujas observações não sejam conhecidas pelo pesquisador responsável por formular a teoria. Pode-se dizer que uma teoria desse tipo é constituída por duas dimensões: a) uma dimensão instrumental-metodológica: conjunto lógico de proposições, que faz uso da linguagem matemática, destinado a prover o pesquisador de um sistema de métodos de raciocínio (MARSHALL, 1885 apud FRIEDMAN, op. cit., p. 7) e b) uma dimensão teórico- epistemológica: conjunto de hipóteses construídas para que se possa compreender a complexidade da realidade que se pretende estudar, ou, nas palavras de Friedman (Ibidem), “[...] designed to abstract essential features of

complex reality.”

É importante ter em mente que essas duas dimensões representam dois lados importantes de uma teoria positiva: a) uma vertente lógica, responsável por classificar a consistência, do ponto de vista formal (não necessariamente

matemático14), das hipóteses da teoria, e b) a contrapartida empírica, isto é, a validação da capacidade da teoria em solucionar problemas práticos (idem, op. cit., p. 7).

Não obstante, a vertente verificacionista do positivismo é fonte de algumas críticas, especialmente realizadas por Popper (1988, 1992, apud HERSCOVICI, 2002, p. 28-9). O grande risco associado à verificação dos resultados de um modelo com os fatos empíricos reside na possibilidade de que tal confirmação não seja alcançada; neste sentido, como forma de contornar o problema, facilmente podem ser adotados estratagemas de imunização, ou seja, pode-se sempre alegar a não confirmação da teoria porque as condições iniciais adotadas foram divergentes das efetivamente verificadas.

A tese de Duhem-Quine15 não crê na possibilidade de que as hipóteses fundamentais (no sentido lakatosiano) de um modelo sejam testadas, uma vez que não se consegue isolar a hipótese-alvo, a qual sempre está acompanhada de uma ou outras auxiliares (BLAUG, op. cit., p. 55). Nas palavras de Cross (1982, p. 320):

The Duhem-Quine Thesis (DQ from now on) states that it is not possible to falsify single hypotheses because it is invariably conjunctions of hypotheses which are being tested. Thus if a particular hypothesis is found to be in conflict with some piece of empirical evidence all that we can say is that the conjunction of the particular hypothesis with a set of auxiliary hypotheses is false.

Neste sentido, o pressuposto da racionalidade substantiva, per se, não tem significado algum; é um conceito abstratamente concebido, que possui função crucial no modelo neoclássico quando associado a outras hipóteses.

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Consistência formal quer dizer coerência lógica, no sentido exato dessas palavras. Obviamente, teorias fundamentadas em demonstrações matemáticas também necessitam de que estas estejam elaboradas conforme as regras e procedimentos preconizados por tal linguagem. A este respeito, Dequech (2007) compartilha a mesma opinião: “[...] I refer to mathematical formalization because “formal” – in logic, for example, does not need to mean the same as “mathematical,” so that formalization is not necessarily the same as mathematization.”

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Friedman assume que testar a validade de uma teoria a partir do realismo de suas premissas não parece ser o melhor critério. Em contrapartida e em sintonia com a filosofia positivista, deve-se avaliar a cientificidade de uma teoria a partir do poder de suas previsões, cuja pertinência é julgada a partir de sua convalidação empírica. Friedman (op. cit., p. 8-9), em poucas palavras resume a questão: “[...] the only relevant test of the validity of a hypothesis is

comparison of its predictions with experience.” Friedman quer dizer que a

verificação de uma teoria se dá por meio da comparação dos resultados empíricos de suas predições com os fatos realmente observados. Por exemplo, dizer que o aumento da taxa de juros é eficaz na redução da inflação é empiricamente verificável? Ou seja, se o Governo aumentar a taxa de juros a inflação será diminuída? Se sim, tem-se uma evidência a favor da teoria.

Aqui cabe distinguir entre explicação e predição. O segundo conceito está relacionado à seguinte metodologia: parte-se de uma lei universal16 e de um conjunto de condições iniciais, formando-se, dessa forma, as premissas do modelo. Depois, tendo em vista as explanans a priori estabelecidas, deduz-se um enunciado, ou, explanandum, a respeito de um fenômeno desconhecido até então. Cabe ressaltar, assim como o faz Blaug (op. cit.), que um modelo pode prever muito bem sem, no entanto, explicar como acontece.

Evidentemente, conclusões dessa natureza são bastante suscetíveis a críticas. Herscovici (2002, p. 32, itálico do autor), por exemplo, faz os seguintes questionamentos:

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Por lei universal se entende a ocorrência de determinado evento condicionada ao acontecimento de outro. Blaug (op. cit., 39) afirma que a lei pode ser universal de duas formas: a) determinista, ou seja, sempre que ocorrer o evento A, ocorrerá o evento B e b) estatística, isto é, em todos os casos em que ocorrer o evento A, o evento B

ocorrerá com uma probabilidade de p , sendo 0< p<1 . Considerando

0< p ≤1 , tem-se que a primeira definição é a segunda com p=1 . Observe que pela definição de Blaug, uma lei universal é, na verdade, um silogismo, no qual se estabelece uma condição suficiente, porém não necessária, para a ocorrência de um evento. Notadamente, é suficiente para a ocorrência de B que A ocorra, mas B pode ocorrer mesmo que A não, devido a outros fatores.

[...] Qual é, então, a natureza da “explicação” científica? Ela tenta fornecer uma compreensão do fenômeno estudado, compreensão essa concebida em termos de causas possíveis ou simplesmente previsões? Qual é a natureza da causalidade em Ciências Sociais? Essa causalidade é do tipo mecanicista, probabilística ou caótica? Com respeito às explicações, estas são fundamentais: a) pois elucidam o conhecimento humano a respeito das causas que culminaram no evento estudado e b) porque fornecem elementos conceituais e metodológicos consistentes para que predições sejam feitas. A partir do conhecimento gerado pelas explicações, torna-se possível a construção de modelos de predição, muito embora sua capacidade de obter resultados satisfatórios seja bastante atenuada pela forte incerteza que permeia a realidade. E por predição entende- se dizer, a partir dos dados e da teoria, que determinado fenômeno é justificadamente iminente. E isto é o mais próximo a que se pode chegar.

.3. A ECONOMIA DA INFORMAÇÃO: NOVO PROGRAMA DE PESQUISA NA