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Esta mini teoria, elaborada a partir da Teoria da Autodeterminação, propõe que as regulações externas podem ser internalizadas e transformam-se em regulação internas. Desse modo, a motivação extrínseca pode se tornar uma motivação autodeterminada. A presente teoria sugere a existência de um continuum de autodeterminação que varia da desmotivação até a motivação intrínseca. Segundo Reeve, Deci e Ryan (2004), os estudantes são naturalmente inclinados a internalizar os aspectos sociais que os rodeiam e, eventualmente, a integrar os valores e os modos de comportamento ao seu próprio sistema.

Seguindo as definições iniciais e mais disseminadas, a motivação extrínseca é aquela em que o indivíduo age em resposta a algo externo à atividade, ou seja, trabalha para receber recompensas, elogios, reconhecimento ou para demonstrar competência naquela atividade. Em contraposição, a motivação intrínseca aconteceria quando a ação fosse totalmente autodeterminada, de tal modo que a atividade é realizada com um fim em si mesma, não havendo necessidade de ameaças ou de recompensas pela sua realização. Nessa perspectiva, efeitos positivos e adaptadores eram relacionados à motivação intrínseca e, por outro lado, envolvimentos menos duradouros e piores resultados de desempenho à motivação extrínseca. No entanto, o que se revelava nas pesquisas era que um comportamento regulado por consequências externas também resultava em desempenho de qualidade, aprendizagem

em nível profundo de processamento, persistência, entre outros indicadores de motivação (DECI; RYAN, 2000).

Com o amadurecimento teórico e com os resultados de investigação empírica começa a ser questionada essa concepção dicotômica dos dois tipos de motivação. Considerou-se, então, que a motivação extrínseca poderia envolver uma ação intencional, que seria regulada de maneiras diferentes, dependendo da internalização feita pela pessoa das regras ou dos valores colocados externamente. Para tanto, foram propostos quatro tipos de regulações do comportamento, resultando em quatro tipos progressivamente mais autônomos de motivação extrínseca: por regulação externa, introjetada, identificada e integrada. O continuum, acrescido da desmotivação e motivação intrínseca, é apresentado no Quadro 1.

Comportament

o ausência autodeterminado de motivação Motivação Ausência de

Motivação Motivação Extrínseca Motivação Intrínseca Estilos

Reguladores Sem regulação Regulação Externa Regulação Introjetada Regulação identificada Regulação integrada Regulação Intrínseca Lócus de

causalidade percebido

Impessoal Externo Algo

Externo Algo Interno Interno Interno

Processos

Reguladores Ausência de intenção, desvalorização , falta de controle Submissão, recompensa s externas e punições Autocontrole, ego envolvimento , recompensas internas e punições Importânci a pessoal, valorização consciente Concordância , consciência, síntese com o eu Interesse, prazer e satisfação inerente

Quadro 1 – Continuum de autodeterminação, tipos de motivação com seus lócus de causalidade e processos correspondentes

Fonte: (DECI; RYAN, 2000)

A desmotivação, ponto inicial do continuum, é um tipo de envolvimento caracterizado pela ausência de intenção ou motivação. A motivação extrínseca por regulação externa representa o nível menos autônomo de motivação extrínseca. Nesse caso, a pessoa age para obter os benefícios que a situação pode lhe trazer ou para evitar consequências desagradáveis. Como exemplos dessa situação, temos: uma criança que arruma a cama para

poder assistir televisão ou um estudante que lê um livro para entregar um resumo para o professor. O foco de atenção está no fim, no resultado da atividade, e não no processo.

Indivíduos que agem de acordo com a motivação extrínseca por regulação introjetada tendem a sentir culpa por seu comportamento ou medo de romper com o grupo. Apesar de já ser entendida como algo interno, ainda são necessários estímulos externos para a realização da tarefa. No entanto, tais estímulos não são concretos, pois a regulação já foi, de algum modo, internalizada pela pessoa, apesar de a mesma não percebê-la ou integrá-la ao conjunto de valores pessoais. É considerada pouco estável, mas, mesmo assim, já é um avanço em relação ao nível anterior. Um exemplo deste comportamento é o estudante que permanece em sala de aula para evitar ser avaliado como relapso pelo professor. Segundo Bzuneck e Guimarães (2007), essas duas primeiras formas de regulação do comportamento não são autodeterminadas ou autônomas, mas correspondem a formas de motivação controlada, sendo a primeira por controles externos e a segunda por controles internos.

Na motivação extrínseca por regulação identificada, o indivíduo aceita a regulação como pessoal pelo fato de se identificar com as exigências ou regras apresentadas para a realização da atividade. Este nível já é mais autônomo que os dois anteriores. Por exemplo, o aluno pode gostar de matemática por que o professor é simpático, atencioso, o que leva a acreditar que o que ele pensa é interessante ou importante. Também pode se envolver em atividades com cujos objetivos concorda ou se identifica.

O tipo mais autodeterminado de motivação extrínseca é por regulação integrada. Nele, os estímulos externos são encarados como fonte e apoio para realização de tarefas. O comportamento resultante é praticamente similar ao da motivação intrínseca, ou seja, existem: esforço, persistência, criatividade e processamento profundo das informações. Neste caso, o indivíduo não age por coerção, os estímulos externos regulam o comportamento, mas a sua internalização foi total, as regras ou valores externos foram integrados ao self. No entanto, diferente da motivação intrínseca, a regra externa está presente, ou seja, a pessoa não realizaria a atividade caso não houvesse a exigência externa. Por exemplo, um médico que tem paixão por sua profissão, trabalha em um hospital e recebe um salário por seu trabalho, provavelmente se ele parasse de receber o salário não trabalharia mais naquele hospital.

Os dois últimos níveis da motivação extrínseca muito se assemelham à motivação intrínseca, pois já prevêem iniciativa interna em relação a uma determinada atividade. Na escola, nem sempre é possível proporcionar um ambiente que estimule a motivação intrínseca do aluno. No entanto, a promoção das formas autoreguladas, identificada

e integrada, já representa um avanço na direção de uma motivação qualitativamente mais adequada que proporcione bom desenvolvimento e aprendizagem.