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Mapa 4 Localização das cidades noticiadas com enfoque pelo “Estadão” em 2013

2.4 EPIDEMIAS NO BRASIL

A dengue foi registrada no Brasil pela primeira vez no século XIX (BRASIL, 2009b; TAUIL, 2015). Dentre os registros de epidemias no país, há o do Rio de Janeiro em

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1846, de São Paulo em 1852 (TAUIL, 2015) e 1916 e de Niterói em 1923 sem diagnóstico laboratorial (BRASIL, 2009b; BRASIL, 2015b; TAUIL, 2015). Entre este último ano e 1981 houve um silêncio epidemiológico30 no território nacional (TAUIL, 2015).

Esse silêncio epidemiológico foi rompido no fim de 1981 e início de 1982 em Boa Vista/RR (BRASIL, 2009b; TAUIL, 2015; TEIXEIRA et al., 2015), tendo tido a estimativa de ocorrência de 12 mil casos (TEIXEIRA; BARRETO, 1996). Boa Vista apresentava grande número de criadouros, principalmente no centro da cidade, onde 18% das casas visitadas possuíam o vetor em sua forma alada ou larval (BENCHIMOL, 2001).

Foi neste momento histórico que, pela primeira vez no país, foram isolados os agentes etiológicos31 da dengue por pesquisadores do Instituto Evandro Chagas (IEC) de

Belém/PA, como vírus dengue 1 e vírus dengue 4 (BRASIL, 2009b; TAUIL, 2015; TEIXEIRA et al., 2015). Esse episódio foi contido imediatamente e o vírus não se disseminou devido ao fato de que não existiam outras áreas infestadas pelo Aedes aegypti no país (TEIXEIRA; BARRETO; GUERRA, 1999; TEIXEIRA et al., 2015).

Em 1986, a dengue passou a constituir-se em expressivo problema de saúde brasileiro. Nesse ano, ocorreu epidemia dessa doença no Rio de Janeiro, segundo maior centro urbano do país, sendo isolado o sorotipo 1 do vírus dengue primeiramente em Nova Iguaçu, cidade da Região Metropolitana dessa capital. As epidemias causadas por esse sorotipo nos anos 1986 e 1987 apresentaram duas ondas em dois verões consecutivos. Em ambos os casos, elas ocorreram no primeiro semestre, com maior pico nos meses de março e abril. No estado do Rio de Janeiro, naquele biênio, houve registro de 33.568 (1986) e 60.342 (1987) casos e incidência32 de 276,4 e 491,1 registros por 100 mil habitantes, respectivamente (TEIXEIRA et al., 2015). Também foram observados, em 1986, casos de dengue em Alagoas e Ceará, onde se registraram, consecutivamente, 12.608 e 26.932 casos. Já em 1987, houve epidemias em Pernambuco (2 118 notificações), em Minas Gerais (na cidade de Pirapetinga, com 527 notificações) e na Bahia (em Ipupiara, com 623 notificações) (TEIXEIRA; BARRETO, 1996).

É importante destacar que a relevância e a distribuição dos episódios de dengue são muito heterogêneas entre cidades e regiões, devido à sua dimensão territorial e ao grande número de centros urbanos densamente povoados. Além disso, deve-se considerar a falta de

30 Segundo Tauil (2002), é possível que a dengue tenha passado despercebida nesse período. Contudo, foi intensa a luta contra o Aedes aegypti, especialmente para eliminar a febre amarela urbana (ler mais sobre isso no item 1.7).

31 Causa de uma enfermidade em particular (GLOSSÁRIO..., 2015).

32 Número de novos casos de um agravo. A incidência é definida por unidade de população e de tempo (GLOSSÁRIO..., 2015).

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sincronia entre os períodos de introdução dos diferentes sorotipos do vírus em cada área e a diversidade de unidades climáticas do país (TEIXEIRA et al., 2015).

Segundo afirma Benchimol (2001), em 1986, os sanitaristas, mobilizados pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) e os virologistas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), advertiram que as características socioeconômicas, geográficas e políticas do meio em que se disseminava a dengue a transformariam, certamente, em uma nova endemia brasileira. Contudo, a doença, na verdade, passou a ter caráter endêmico/epidêmico a partir desse ano, disseminando-se por todas as unidades federativas brasileiras (TAUIL, 2015). Dessa maneira, ela vem ocorrendo de forma continuada, intercalando-se com epidemias, geralmente associadas com a introdução de sorotipos novos em áreas anteriormente indenes e/ou alteração do sorotipo predominante (BRASIL, 2009a; BRASIL, 2009b; BRASIL, 2015b).

Foi o que ocorreu em 1990, quando foi identificada a circulação de um novo sorotipo viral, o 2, no estado do Rio de Janeiro. No decorrer dessa década, houve um significativo aumento da incidência da doença, resultado da grande dispersão do Aedes aegypti no país. A mobilidade da população associada à presença desse mosquito acarretou na disseminação dos sorotipos 1 e 2 para 20 estados brasileiros. Com isso, entre 1990 e 2000 foram registradas várias epidemias, principalmente nos grandes centros urbanos das Regiões Nordeste e Sudeste, responsáveis pela maioria dos casos notificados. As Regiões Norte e Centro-Oeste foram acometidas mais tardiamente, com o registro de epidemias a partir da segunda metade de 1990 (ver tabela 1) (BRASIL, 2009a).

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Tabela 1 – Casos de dengue: Brasil, Grandes Regiões e Unidades Federadas, 1990-2014

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Como se nota na tabela, no ano de 1990, as regiões Norte, Sul e Centro-Oeste, com exceção de Mato Grosso do Sul, não possuíam casos de dengue. Com a dispersão do mosquito e a mobilidade da população, todos os estados brasileiros começaram a registrar a presença contínua e, muitas vezes, epidemias da enfermidade nos anos seguintes, sendo que o último a fazê-la foi o Acre em 2000.

Em dezembro de 2000, foi identificada a circulação do sorotipo 3 do vírus dengue pela primeira vez em território nacional (no estado do Rio de Janeiro e, depois, em Roraima, em novembro de 2001). Foi observada maior incidência da enfermidade em 2002, ano em que foram confirmados cerca de 697.000 casos, resultado da introdução do sorotipo 3. Tal epidemia levou à rápida dispersão desse sorotipo: em 2004, 23 estados do país tinham circulação simultânea dos sorotipos 1, 2 e 3 (BRASIL, 2009a).

O sorotipo 4 do vírus dengue foi notificado como caso autóctone no país em julho de 2010 em Boa Vista/RR (BRASIL, 2010). Nesse ano, pela primeira vez, os casos notificados de dengue em todo o Brasil atingiram a marca de mais de um milhão (especificamente 1.011.548). As regiões com mais registros foram a Sudeste, com 478.003 casos, e a Centro-Oeste, com 216.051 notificações (BRASIL, 2015a). De maneira geral, de acordo com Luna e Silva Jr. (2013), no ciclo epidêmico de 2010, houve intensificação do aumento da área geográfica de transmissão do vírus dengue, como o envolvimento de cidades de pequeno e médio porte, redução da faixa etária de ocorrência dos casos e incremento da gravidade e letalidade da doença.

Em 2013, o sorotipo viral 4 foi o principal responsável pela epidemia que ocorreu em território nacional, sendo encontrado em mais de 70% dos municípios do país. Essa epidemia de dengue teve incidência de 722,4 casos por 100 mil habitantes. No referido ano, as principais regiões afetadas foram a Centro-Oeste, com 1.770,5 casos por 100 mil habitantes, a Sudeste, com 1.087,1 notificações por 100 mil habitantes, e a Sul. Nesta última região, a incidência aumentou em quase 14 vezes em comparação a 2012: 17,2 registros por 100 mil habitantes e 232,3 casos por 100 mil habitantes, consecutivamente (TEIXEIRA et al., 2015). Segundo o Ministério da Saúde (2015a), em 2013, houve notificação, pela segunda vez, de mais de um milhão de casos, especificamente, 1.452.489 (BRASIL, 2015a).

Essa grande notificação perdeu apenas para a que foi registrada em 2015, a maior da história brasileira até o momento. Em tal ano, de acordo com o Ministério da Saúde, foram notificados 1.649.008 casos. A Região Sudeste foi a mais atingida, com 1.026.226 casos, seguida das Regiões Nordeste, 311.519 notificações, e Centro-Oeste, 220.966 registros. Destaca-se que a Centro-Oeste e a Sudeste tiveram as maiores incidências: 1.451,9 casos por

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100 mil habitantes e 1.205, 7 registros por 100 mil habitantes, respectivamente (BRASIL, 2016).

Objetiva-se, no próximo item, entender o que, de fato, é a doença denominada de dengue.