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Equity Co-production

No documento Estados Unidos volume IV (páginas 85-87)

Mesmo quando os filmes pan-europeus mostraram sinais de valorizar a cultura popular, a liberalização criou conglomerados de mídia europeus trans- nacionais que apostaram em uma manutenção, por parte de Hollywood, de uma expressão cultural pan-européia por meio de investimento na própria Hollywood, por intermédio de equity co-productions.

Em 1998, a Paramount lançou Águas mortíferas/Hard rain (Mikael Salomon) em 2.100 cinemas dos Estados Unidos. O filme misturava assalto à diligência com cinema-catástrofe e teve como inspiração as inundações de 1993 no meio- oeste norte-americano. Interpretado por Christian Slater, o segurança de um carro blindado enfrenta o fora-da-lei Morgan Freeman e seus comparsas, que planejavam um grande roubo a banco, tirando proveito da inundação, enquanto a atriz inglesa Minnie Driver zomba do sotaque do meio-oeste americano e o diretor dinamarquês Salomon exibe suas credenciais de filmagem subaquática por seu trabalho de câmera no filme O segredo do abismo/The abyss (James Cameron, 1989). Águas mortíferas foi, sem dúvida, fruto da associação de talentos de Los Angeles. Orquestrados pela companhia independente Mutual Film, um total de 500 integrantes, contando o elenco, equipes de filmagem e outros membros importantes de produção, foram reunidos através das redes informais que caracterizam a produção NIDCL da Hollywood pós-estúdio (BATES, 1998).

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— 85 — A Mutual financia seus projetos através de um consórcio internacional de seis gigantes da distribuição da Europa e do Japão. O financiamento para Águas mor- tíferas veio da Union Générale Cinématographique (UGC), a maior rede de cinema da França; da rede pública da Grã-Bretanha, a BBC; da distribuidora francesa (que pertencia a um grupo holandês) Polygram Film Entertainment; da distribuidora de direitos de televisão alemã Telemünchen (TMG); e do estúdio dinamarquês Nordisk Film. O financiamento do Japão veio da Marubeni Corporation, uma distribuidora de direitos de vídeo e televisão, e da distribuidora de filmes Toho-Towa Company (HINDES, 1998a; HERSKOVITZ, 1998). Embora os independentes dos Estados Unidos venham há décadas buscando financiamento no exterior, incluindo De Laurentiis (1970), Cannon (1980) e Carolco (1990), os projetos da Mutual ga- rantem eqüidade entre seus parceiros, mais do que apenas os direitos territoriais. Ou seja, os parceiros da Mutual têm voz ativa nos projetos que são desenvolvidos e podem fazer uso da criatividade para sugerir sobre o que atrairá o público em suas respectivas regiões. Por exemplo, a Toho-Towa optou por não investir em Blues brothers 2000: O mito continua/Blues bros. 2000 (John Landis, 1998), mas finan- ciou Segredos do poder/Primary colors (Mike Nichols, 1998). Como comentou um executivo da Toho, “pode-se assistir a Segredos do poder apenas como uma sátira política, mas nós o vimos como um drama humano bem desenvolvido, dirigido por um grande diretor” (HINDES, 1998a). O Consórcio da Mutual produziu filmes de grande orçamento, incluindo Os 12 macacos/12 monkeys (Terry Gilliam, 1995), O chacal/The jackal (Michael Caton-Jones, 1997), A relíquia/The relic (Peter Hyams, 1997) e Vírus (John Bruno, 1999), bem como filmes de médio orçamento como O plano/A simple plan (Sam Raimi, 1998), Homem na Lua/Man on the Moon (Milos Forman, 1999) e Prodígios/Wonder boys (Curtis Hanson, 2000).

Mas determinados projetos da Mutual envolveram riscos menores e talvez tenham se tornado ianques demais, com o intuito de obter dinheiro internacio- nal reservado a algo diferenciado. A Mutual desenvolveu O resgate do soldado Ryan/Saving private Ryan (Steven Spielberg, 1998) antes de Spielberg demonstrar qualquer interesse. Posteriormente viria a perder toda a eqüidade em relação ao filme, e o co-produziu, mediante honorários, em parceria com a DreamWorks e a Paramount (ELLER, 1998). O mesmo ocorreu com O patriota/The patriot (Roland Emmerich, 2000), que a Mutual co-produziu com a Sony. A Mutual, TMG, Toho-Towa e a BBC responderam criando um crédito rotativo de US$ 200 milhões para finan- ciar filmes fora dos estúdios (GUIDER, 2000).

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O consórcio da Mutual é apenas um exemplo de como distribuidores de cine- ma e televisão altamente capitalizados nos maiores mercados de exportação de Hollywood tornaram-se parte importante na tarefa de facilitar a NIDCL de Hollywood, em vez de desafiá-la. Vinte conglomerados integrados de mídia, no Japão e na Europa, elevaram o financiamento estrangeiro para filmes de grande orçamento de Hollywood ao patamar de 70% (GROVES e D’ALESSANDRO, 2001). A mais recente im- portação de financiamento veio da Neuer Markt, da Alemanha, uma bolsa de valores de novas mídias e tecnologias com base na cidade de Frankfurt. Em 1999 e 2000, 13 companhias alemãs de licenciamento de filmes levantaram € 1,9 bilhão no Neuer Markt, € 1,3 bilhão dos quais migraram para Hollywood (HARDING, 2000). Com o colapso do mercado em 2001, muitos portadores de direitos (Senator, Kinowelt, Helkon) foram considerados aptos para assumir os conglomerados da Europa e de Hollywood (DAWTREY e FOREMAN, 2001).

Essa fonte emergente de financiamento de novas mídias (cabo, satélite e inter- net) alterou os principais financiadores estrangeiros de Hollywood, dos banqueiros para os distribuidores eletrônicos em busca de direitos. Os fluxos de rendimentos dos filmes produzidos por Hollywood vêm gradativamente migrando do cinema e do vídeo para se dirigir às TVs abertas e pagas, particularmente na Europa. No final da década de 1990, os compradores europeus de televisão estabele- ceram uma fonte de rendimentos tão constante para Hollywood que acabaram por se transformar em sócios principais nas equity co-productions tanto com os grandes estúdios de Hollywood quanto com os independentes. Uma avaliação do crescimento das equity co-productions é a garantia para se desafiar a eficácia do apoio à liberalização de políticas de mídia européia como meio de se fortalecer a expressão cultural européia.

No documento Estados Unidos volume IV (páginas 85-87)