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ERSAR Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos

3. CARACTERIZAÇÃO ECONÓMICO FINANCEIRA DOS SERVIÇOS DE ÁGUA

3.1. Serviços de Administração e Regulação Públicas: Caracterização e NRC

3.1.2. ERSAR Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos

Entidade Prestadora de Serviços

Sendo a construção e gestão de infraestruturas de abastecimento de água potável e de recolha e tratamento de águas residuais um segmento das chamadas Utilities (serviços de utilidade pública essenciais que devem ser disponibilizados a toda a população - universalidade do serviço - a um preço razoável - regulação tarifária), e operando em Portugal numerosas entidades de várias naturezas jurídicas, a Regulação destes serviços por parte do Estado foi considerada imprescindível.

Em Portugal a ERSAR-Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos é quem exerce, desde 2009 (ano em que sucedeu à anterior entidade reguladora – IRAR – com funções muito mais restritas do que as atuais), as funções de autoridade reguladora sobre todo o universo de prestadores de serviços neste setor (278), incluindo os municipais em sistema de gestão direta e os vários concessionários, públicos e privados. São atribuições genéricas da ERSAR assegurar a regulação e a supervisão dos serviços de águas, de saneamento de águas residuais urbanas e de gestão de resíduos urbanos:

 … promovendo o aumento da eficiência e da eficácia na sua prestação …,  … considerando a proteção dos direitos e interesses dos utilizadores …,

 … assegurando a existência de condições que permitam a obtenção do equilíbrio económico e financeiro por parte das atividades dos setores regulados exercidos em regime de serviço público,  … bem como o exercício das funções de autoridade competente para a qualidade da água para

Em 2009 e 2010 são publicadas pela ERSAR as Recomendações 1/2009, 1/2010 e 2/2010, visando uma harmonização dos sistemas tarifários das várias entidades prestadoras de serviços.

Em 2014 é publicada a Lei nº 10/2014, de 6 de março, que revê os Estatutos da ERSAR conferindo-lhe poderes ainda mais reforçados sobre o setor:

 Autoridade administrativa independente, com nomeação de responsáveis pelo Parlamento e não pelo Governo (reforço da autonomia)

 Capacidade de publicar Regulamentos mandatórios e não só orientadores, a serem cumpridos pelas entidades reguladas (reforço do poder regulatório)

 Obrigação de produzir um Regulamento Tarifário com força legal, conforme previsto pelo Regime Económico-Financeiro dos Recursos Hídricos (Decreto-Lei nº 97/2008, de 11 junho – Cap. III), aplicável a todas as entidades.

Este Regulamento Tarifário, bem como o novo Plano Estratégico para o setor (PENSAAR 2020), encontram- se em vigor, formando ambos aquilo que se pode considerar as bases do novo quadro institucional e de regime de preços no setor urbano da água.

Nível de Recuperação de Custos

A ERSAR cobra as seguintes taxas às entidades gestoras de serviços de abastecimento de água e de saneamento urbanos, relativas à atividade de regulação:

 Taxa de Regulação Estrutural, Económica e de Qualidade de Serviço:

T = A + B +C + D

T – Valor global da Taxa

A – 62,11 € / 1000hab residentes na área de concessão dos serviços B – 2,0726 € / 1000m3 água fornecida

C – 2,0726 € / 1000m3 águas residuais recolhidas D – 0,2384 € / toneladas de resíduos urbanos geridos

 Taxa de Regulação da Qualidade da Água para Consumo Humano

T – 1,5633 € / 1000m3 volume de água fornecido no ano anterior

Nas seguintes situações a Taxa está isenta:

Face aos seus Custos de Funcionamento relativos ao ano de 2013 e às Receitas obtidas com a aplicação destas Taxas, o Nível de Recuperação de Custos obtido dentro do conceito adotado foi de cerca de 120%.

Quadro 3.11– NRC - ERSAR Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos - 2013

ERSAR

Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos

Tipo de Custos Montante Tipo de Receitas Montante NRC

Funcionamento 4,481 M€ Taxa de Regulação EEQS

Taxa Regulação QACH 5,176 M€ 119,06% Fonte: ERSAR

Não existem dados disponíveis relativamente ao contributo da RH5, quer para a despesa quer para a receita acima analisadas.

Conclusões sobre a Política de Preços da ERSAR

Em termos financeiros as Taxas parecem estar bem dimensionadas tendo em conta o NRC obtido (superior a 100) o que significa que cobre folgadamente os custos de funcionamento do Regulador.

Em termos económicos, contudo, medido pelo contributo que oferece para o alcance dos objetivos do Regulador, não tem propriedades discriminatórias face a boas ou más práticas existentes (sendo estas geridas com recurso a instrumentos administrativos e sancionatórios). Sendo o custo para as entidades gestoras crescente com os volumes geridos, dir-se-ia que existe um “incentivo” para “reduzir” estes volumes. Contudo, a pressão para rentabilizar os sistemas poderá apontar no sentido contrário (fornecer o maior serviço possível para diluir custos de estrutura). Indexar as taxas unitárias linearmente aos volumes (e à população abrangida pelos sistemas) confere-lhes poucas propriedades de incentivo.

Analisando o exemplo de uma prática relevante do ponto de vista da proteção dos recursos hídricos – combate às perdas na rede – o sistema de Taxas do Regulador não parece induzir ou incentivar a mesma (o que poderia ser conseguido com uma estrutura de taxa mais sofisticada, assente em medições de volumes à entrada e saída dos sistemas taxados com valores diferenciados).

Por outro lado, não há exigências quanto à inclusão na fatura, de forma discriminada tal como é exigido para a TRH, das Taxas de Regulação, como forma de repercutir de forma transparente no utilizador final estes custos.

Utilizando a Matriz multicritério do Quadro 3.12, podem avaliar-se, de forma estruturada, os aspetos positivos e os aspetos a melhorar do ponto de vista da valia do regime de Taxas enquanto instrumento de política económica.

Quadro 3.12.– Avaliação das Taxas de Regulação enquanto Instrumento de Política de Preços da ERSAR

Medição

Tem medição de Volumes universal?

Tem Contabilidade Analítica (custos e receitas) universal?

Imputação Utilizadores

A Estrutura do sistema de preços está indexada aos objetivos da

regulação?

Há progressividade dos níveis dos preços de acordo com as boas

práticas?

Controlo e Autocontrolo

Existem mecanismos de Incentivo Positivo?

Existem mecanismos de Penalização?

A fatura das entidades gestoras ao utilizador contém

informação explícita sobre estes custos? n.a. n.a.

Aspetos Positivos

 Incidência Universal: aplica-se a todos os tipos de entidades gestoras, de todos os setores do ciclo urbano e em todo o território continental;

 Boa discriminação de custos e receitas no Regulador por possuir Contabilidade Analítica;  Níveis de taxas unitárias que permitem a recuperação dos Custos Financeiros do Regulador,

libertando verbas eventualmente aplicáveis em investimento que conduza a maior eficácia e eficiência futuras;

 Boa avaliação de volumes em algumas entidades gestoras pelo facto de haver Contadores (essencialmente nas empresariais).

Aspetos a Melhorar

 A matéria tributável nem sempre é determinada com base em medição direta mas

estimada, sobretudo nas entidades não empresariais, o que prejudica o controlo e o

autocontrolo;

 Não tem propriedades de incentivo a boas práticas do ponto de vista de proteção dos recursos hídricos (nomeadamente combate às perdas na rede), apesar do valor a pagar ser crescente com os volumes geridos;

 Não está garantida a transparência da repercussão destes custos nos utilizadores finais;  Os centros de custos da contabilidade analítica não permitem conhecer as receitas e

despesas do Regulador imputáveis a cada Região Hidrográfica e aos respetivos utilizadores.

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