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CRISE ECONÓMICA, IMIGRAÇÃO E MERCADO DE TRABALHO INSERÇÃO LABORAL DOS IMIGRANTES EM PORTUGAL:

INSERÇÃO LABORAL DOS IMIGRANTES EM PORTUGAL: O QUE SE SABE 1 RETRATOS DO TRABALHO IMIGRANTE: HISTÓRIAS DE PRECARIEDADE

3. NOVOS CONTRIBUTOS PARA O CONHECIMENTO DA SITUAÇÃO LABORAL DOS IMI GRANTES EM 3 REGIÕES: AML, ODEMIRA E ALGARVE

3.3. Escalões remuneratórios e jornadas de trabalho

O trabalho constitui a principal fonte de rendimento para os indivíduos em idade ativa e, assim, o salário assume uma importância central para a sobrevivência das famílias. Os níveis remuneratórios auferidos pelos trabalhadores variam em grande medida segundo a profissão exercida, podendo ainda verificar-se oscilações de acordo com a existência de funções de coordenação, a antiguidade no posto de trabalho, a duração da jornada de trabalho, ou de outros fatores de caráter mais estrutural, como a produtividade ou a capacidade de negociação contratual entre trabalhadores e patrões.

Analisando os valores das remunerações médias mensais base dos trabalhadores por conta de outrem para outubro de 2013 extraídos dos Quadros de Pessoal do GEE do Ministério da Economia, observa-se que os valores auferidos são, de um modo geral, mais elevados na região de Lisboa comparativamente ao Continente+RAM e às restantes regiões em estudo (Gráfico 24). Um mercado de trabalho mais diverso, como o desta região, com mais investimento nacional e internacional, onde se localizam algumas das principais empresas a nível nacional, permite aos trabalhadores auferirem salários médios mais altos.

Gráfico 24. - Remunerações médias mensais base (euros) por nacionalidade, dos trabalhadores por conta de outrem a tempo completo com remuneração completa no período de referência (outubro 2013), no

Continente + RAM, NUT II de Lisboa, Alentejo e Algarve

Fonte: GEE, Ministério da Economia. Nota: RAM reporta-se à Região Autónoma da Madeira. O GEE do Ministério da Economia, não dispunha de informação para a Região Autónoma dos Açores.

Pelo dinamismo da economia regional, muito ligada ao turismo, alojamento e restauração, a região do Algarve apresenta, a seguir a Lisboa, os valores médios mais altos. De entre as regiões caracterizadas, o Alentejo tem os valores médios salariais mais reduzidos, o que se relaciona com a estrutura produtiva regional baseada em setores com uma produtividade mais baixa.

asiáticas, ainda relativamente pequenas e de presença mais recente, os valores salariais aufe- ridos são, para todas as regiões, mais baixos comparativamente às nacionalidades retratadas. Ao nível dos inquiridos no presente trabalho, a informação disponível não se reporta diretamen- te ao escalão remuneratório, mas sim ao rendimento global auferido. Contudo, para a maioria dos nacionais de países terceiros, o trabalho constitui o principal meio de vida. Assim, conside- rando os respondentes cuja principal fonte de rendimento é o salário do trabalho dependente nas 3 regiões em estudo (Tabela 17), 45,5% afi rmou auferir o salário mínimo ou menos, ao passo que 40,2% disseram ganhar entre o salário mínimo e 1000 euros. Os escalões mais elevados apresentam quantitativos muito reduzidos.

Tabela 17. Valor mensal do rendimento global auferido entre algumas nacionalidades de inquiridos cuja principal fonte de rendimento é o salário do trabalho dependente nas três regiões em análise (%)

Menos que o ordenado mínimo O ordenado mínimo (505€) Entre o orde- nado mínimo e 1000€ Entre 1001€ e 1500€ Entre 1501€ e 2000€ Mais de 2000€ Total AML 12,5 30,5 40,5 13,3 1,8 1,4 100 Brasil 7,9 37,8 37,8 11,8 2,4 2,4 100 Ucrânia 3,9 5,9 58,8 27,5 3,9 0 100 Cabo Verde 31,7 36,6 26,8 4,9 0 0 100 Odemira 41,4 31 27,6 0 0 0 100 Índia 64,3 0 35,7 0 0 0 100 Bangladesh 50 41,7 8,3 0 0 0 100 Nepal 60 20 20 0 0 0 100 Algarve 1,9 27,8 66,7 1,9 1,9 0 100 Brasil 5 25 65 0 5,6 0 100 Ucrânia 0 27,8 66,7 1,9 1,9 0 100 3 Regiões 15,3 30,2 42,2 9,7 1,5 1 100

(132) Condições de vida e inserção laboral dos imigrantes em Portugal: efeitos da crise de 2007-2008

Se desagregarmos os dados por regiões, o Algarve sobressai pela elevada proporção de res- pondentes que aufere entre o salário mínimo e 1000 euros (66,7%). As duas nacionalidades consideradas (brasileiros e ucranianos) apresentam perfis remuneratórios semelhantes, com um ligeiro predomínio dos brasileiros no escalão mais baixo. Em Lisboa nota-se uma maior reparti- ção dos respondentes pelos vários escalões, pois 12,5% ganha menos do que o salário mínimo, 71,0% ganha entre o salário mínimo e 1000 euros e 16,5% enquadra-se nos escalões acima dos 1000 euros. De salientar as grandes disparidades entre as nacionalidades consideradas, pois os cidadãos cabo-verdianos estão muito mais presentes nos escalões mais baixos compa- rativamente aos brasileiros e ucranianos, o que se poderá relacionar com as qualificações e pro- fissões exercidas. Os valores mensais do rendimento global auferido são particularmente baixos em Odemira, onde 41,4% dos respondentes ganha abaixo do salário mínimo e ninguém ganha acima de 1000 euros mensais. A concentração da população inquirida em atividades agrícolas pouco qualificadas, com remunerações médias baixas, permite compreender estes valores.

Gráfico 25. Escalão de horas de trabalho da população empregada na AML, segundo a nacionalidade ou grandes grupos de nacionalidades, 2011 (%)

Fonte: INE, Recenseamento da População, 2011.

Considerando os dados dos Censos 2011 no que se refere ao escalão de horas de trabalho, há diferenças dignas de nota entre as três regiões em estudo e que podem ser um reflexo de diferentes características dos mercados regionais de trabalho. Na AML, o peso relativo do escalão de horas mais reduzido (1 a 34 horas semanais) é ligeiramente maior comparativamente ao país, para a generalidade das nacionalidades analisadas, mas os restantes escalões são muito semelhantes (Gráfico 25). Observa-se que os nacionais da China têm uma grande presença no escalão horário superior (39,5%) e que os cidadãos dos PALOP, nomeadamente os cabo-verdianos, têm uma presença mais acentuada no escalão entre 1 e 34 horas (25,6% e 26,8%, respetivamente). Se no caso dos primeiros o facto pode indicar jornadas mais longas de trabalho em atividades por conta própria ou de trabalho dependente para conterrâneos, no caso dos cidadãos lusófonos, menores tempos de trabalho poderão indiciar ocupações mais precárias, associadas a trabalho à hora.

Gráfico 25. – Escalão de horas de trabalho da população empregada na AML, segundo a nacionalidade ou grandes grupos de nacionalidades, 2011 (%)

Fonte: INE, Recenseamento da População, 2011.

O perfil de escalões de horas de trabalho segundo as várias nacionalidades no Algarve apresenta grandes semelhanças com a AML (Gráfico 26). Salienta-se, contudo, que a proporção de cidadãos chineses no escalão mais elevado de horas relativamente ao país e às restantes regiões é ainda maior (42,9%). De salientar que 26,1% dos nacionais de UE15 se enquadram no escalão entre 1 e 34 horas semanais de trabalho, o que pode configurar trabalhos a tempo parcial.

Gráfico 26. – Escalão de horas de trabalho da população empregada no Algarve, segundo a nacionalidade ou grandes grupos de nacionalidades, 2011 (%)

0% 20% 40% 60% 80% 100% Po rtugal UE 15 (s / P ortug al ) Uc râ nia Mol dá vi a PA LO P An go la Cab o V erde Bras il Chi na Índi a

45 horas de trabalho semanais ou mais 40 a 44 horas de trabalho semanais 35 a 39 horas de trabalho semanais 1 a 34 horas de trabalho semanais

Condições de vida e inserção laboral dos imigrantes em Portugal: efeitos da crise de 2007-2008 (133) Considerando os dados dos Censos 2011 no que se refere ao escalão de horas de trabalho, há diferenças dignas de nota entre as três regiões em estudo e que podem ser um refl exo de diferentes características dos mercados regionais de trabalho. Na AML, o peso relativo do es- calão de horas mais reduzido (1 a 34 horas semanais) é ligeiramente maior comparativamente ao país, para a generalidade das nacionalidades analisadas, mas os restantes escalões são muito semelhantes (Gráfi co 25). Observa-se que os nacionais da China têm uma grande pre- sença no escalão horário superior (39,5%) e que os cidadãos dos PALOP, nomeadamente os cabo-verdianos, têm uma presença mais acentuada no escalão entre 1 e 34 horas (25,6% e 26,8%, respetivamente). Se no caso dos primeiros este facto pode indicar jornadas mais longas de trabalho em atividades por conta própria ou de trabalho dependente para conterrâneos, no caso dos cidadãos lusófonos, menores tempos de trabalho poderão indiciar ocupações mais precárias, associadas a trabalho à hora.

Gráfi co 26. Escalão de horas de trabalho da população empregada no Algarve, segundo a nacionalidade ou grandes grupos de nacionalidades, 2011 (%)

Fonte: INE, Recenseamento da População, 2011.

Fonte: INE, Recenseamento da População, 2011.

No Alentejo (Gráfico 27), nota-se maior diferenciação entre as várias nacionalidades: temos por um lado uma elevada concentração de cidadãos ucranianos e moldavos no escalão de 40 a 44 horas semanais (64,6% e 56,2%) e, por outro, uma muito notória presença de nacionais cabo-verdianos no escalão mais baixo (28,9%).

Gráfico 27. - Escalão de horas de trabalho da população empregada no Alentejo, segundo a nacionalidade ou grandes grupos de nacionalidades, 2011 (%)

Fonte: INE, Recenseamento da População, 2011.

Quanto aos os inquiridos no âmbito deste trabalho, a maioria trabalha a tempo completo com um horário fixo (71,4%) ou a tempo completo com horário por turnos (18,8%). De salientar que 12,7%

O perfil de escalões de horas de trabalho segundo as várias nacionalidades no Algarve apresenta grandes semelhanças com a AML (Gráfico 26). Salienta-se, contudo, que a proporção de cida- dãos chineses no escalão mais elevado de horas relativamente ao país e às restantes regiões é ainda maior (42,9%). De salientar que 26,1% dos nacionais de UE15 se enquadram no escalão entre 1 e 34 horas semanais de trabalho, o que pode configurar trabalhos a tempo parcial. No Alentejo (Gráfico 27), nota-se maior diferenciação entre as várias nacionalidades: temos por um lado uma elevada concentração de cidadãos ucranianos e moldavos no escalão de 40 a 44 horas semanais (64,6% e 56,2%) e, por outro, uma muito notória presença de nacionais cabo-verdianos no escalão mais baixo (28,9%).

Quanto aos os inquiridos no âmbito deste trabalho, a maioria trabalha a tempo completo com um horário fixo (71,4%) ou a tempo completo com horário por turnos (18,8%). De salientar que 12,7% dos inquiridos na AML responderam ter um trabalho parcial (horário fixo ou por turnos) – Tabela 18. No Algarve, o trabalho a tempo completo com horário por turnos é mais relevante comparativamente às restantes regiões (28,8%).

Em Odemira, os trabalhos com horário completo e fixo representam três quartos dos inquiridos o que se prende com os regimes horários das empresas agrícolas. Foi-nos transmitido por vá- rios representantes destas empresas que em momentos de maior produção é fundamental que alguns trabalhadores façam turnos de modo a assegurar o escoamento dos produtos e a sua colocação no mercado no mais breve espaço de tempo: “... podemos ter pessoas da área da lavagem das saladas a entrar à meia-noite, outros colegas entram às 8/9 horas vão embalar, outros entram às 13 horas vão armazenar, e depois podemos ter pessoas a entrar às 9 horas para carregar os camiões.” (Técnico de Recursos Humanos de uma empresa hortícola do con- celho de Odemira).

Gráfi co 27. - Escalão de horas de trabalho da população empregada no Alentejo, segundo a nacionalidade ou grandes grupos de nacionalidades, 2011 (%)

Fonte: INE, Recenseamento da População, 2011.

Tabela 18. Regime horário de trabalho dos inquiridos que trabalham nas 3 regiões em estudo (%)

Regime de horário 3 Regiões AML Odemira Algarve

A tempo completo – horário fi xo 71,4 71,2 75,4 68,2

A tempo completo – horário por turnos 18,8 16,1 21,5 28,8

A tempo parcial – horário fi xo 3,7 4,8 0 1,5

A tempo parcial – horário por turnos 6,3 7,9 3,1 1,5

Total 100 100 100 100

Fonte: Questionários CRISIMI.

No que concerne aos escalões das jornadas habituais de trabalho, a maioria dos respondentes trabalha 8 horas (55,8%), mas 31,6% admite trabalhar 9 horas ou mais diariamente (Tabela 19). As disparidades entre as 3 regiões em estudo são muito grandes, com mais de 92% dos

Fonte: INE, Recenseamento da População, 2011.

No Alentejo (Gráfico 27), nota-se maior diferenciação entre as várias nacionalidades: temos por um lado uma elevada concentração de cidadãos ucranianos e moldavos no escalão de 40 a 44 horas semanais (64,6% e 56,2%) e, por outro, uma muito notória presença de nacionais cabo-verdianos no escalão mais baixo (28,9%).

Gráfico 27. - Escalão de horas de trabalho da população empregada no Alentejo, segundo a nacionalidade ou grandes grupos de nacionalidades, 2011 (%)

Fonte: INE, Recenseamento da População, 2011.

Quanto aos os inquiridos no âmbito deste trabalho, a maioria trabalha a tempo completo com um horário fixo (71,4%) ou a tempo completo com horário por turnos (18,8%). De salientar que 12,7%

respondentes de Odemira a afirmarem que realizam jornadas de trabalho de 8 horas. Como a pergunta no inquérito aplicado se reportava ao horário habitual de trabalho, não conseguimos captar as horas extraordinárias feitas pelos trabalhadores agrícolas em momentos de “pico de campanha” nesta região.

Tabela 19. Escalão de horas de trabalho dos inquiridos que trabalham nas 3 regiões em estudo (%)

Escalão de horas 3 Regiões AML Odemira Algarve

Menos de 8 horas 12,6 16,9 1,5 1,6

8 horas 55,8 53,5 92,3 29

Entre 9 e 12 horas 30,3 28,3 6,2 66,1

13 ou mais horas 1,3 1,2 0 3,2

Total 100 100 100 100

Fonte: Questionários CRISIMI.

No Algarve, dois terços dos respondentes que trabalhavam afirmaram ter jornadas diárias de 9 a 12 horas, o que revela o esforço laboral realizado por alguns imigrantes para conseguir auferir um rendimento que garanta a sua subsistência.