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197 ANEXO F Versão original (em inglês) escala DRIE (Drinking Related Internal-

8 DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

8.1 A escala de Benefícios e Barreiras Percebidos em evitar o consumo de bebidas alcoólicas

Para a construção da escala de crenças relacionadas ao consumo de bebidas alcoólicas foram planejadas duas fases distintas. A fase inicial buscou levantar as crenças comportamentais (benefícios e barreiras), em uma amostra de usuários de álcool ou de sujeitos em tratamento em função de problemas relacionados ao consumo de álcool e teve como base teórica o Modelo de Crenças em Saúde (Rosenstock, 1974). Essa amostra foi a fonte para a construção dos itens da escala, obtidos através de uma entrevista estruturada com uma população de bebedores-problema, já que na literatura não foi encontrado outro instrumento válido para medida dessas variáveis. Na revisão teórica, destacou-se apenas o estudo de Dela Coleta (1995), em que as crenças sobre os benefícios e barreiras percebidos em evitar o consumo de álcool foram levantadas em uma amostra de três grupos de sujeitos

incluindo saudáveis, hipertensos e enfartados e o estudo focalizava comportamentos de prevenção e controle de doenças cardiovasculares. Assim, as escalas validadas não se adequavam aos objetivos do presente trabalho.

O levantamento inicial das crenças junto à população-alvo possibilitou que a construção dos itens da escala fosse feita a partir de um material denso e rico, estruturado por meio das respostas às entrevistas. Observou-se que o conteúdo das respostas abrangeu tantos os dez itens das escalas de Dela Coleta (1995; 2003; 2004) como também outras crenças que representavam especificamente a realidade de sujeitos com problemas relacionados ao consumo de álcool. De posse das 378 respostas, estas foram transcritas e agrupadas por semelhança semântica, sendo, em seguida, seu conteúdo avaliado por dois juízes. As categorias obtidas nas entrevistas foram reduzidas para 21 afirmações que se constituíram nos itens relativos aos benefícios e às barreiras para formação da versão piloto da escala de crenças comportamentais relacionadas com a bebida alcoólica.

A análise dos itens por juízes indicou que os benefícios percebidos em evitar o consumo de álcool, levantados com as entrevistas, referiam-se à crença na efetividade da ação e à percepção de suas conseqüências positivas, tal como foi teoricamente previsto (Rosenstock, 1974; Dela Coleta, 1995). Evitar o consumo de álcool foi percebido como benéfico ao relacionar-se subjetivamente à redução da susceptibilidade ou da seriedade percebida a respeito da síndrome da dependência de álcool, reduzindo os tipos de conseqüências negativas que a doença poderia acarretar como, por exemplo, o desejo incontrolável de consumir o álcool, a tolerância ao álcool, sintomas de abstinência, complicações orgânicas e problemas de relacionamento com familiares e/ou amigos.

Já as barreiras percebidas em evitar o consumo de álcool foram avaliadas pelos participantes em uma análise custo-benefício observando: (a) as conseqüências negativas da evitação do consumo de álcool como os sintomas repetidos de abstinência, (b) as dificuldades

encontradas como freqüentar ambientes com bebidas ou o próprio desejo de beber e, (c) as perdas percebidas na emissão do comportamento, por exemplo, a presença de expectativas positivas a respeito dos efeitos do álcool, tais como relaxamento e alívio de tensão. Portanto, a construção da escala foi balizada dentro da teoria destes construtos do Modelo de Crenças em Saúde e seus itens representaram adequadamente alguns sinais, sintomas e problemas decorrentes do abuso ou dependência de álcool.

Após a análise teórica dos itens que julgou a compreensão e a pertinência dos itens ao construto que deviam representar (análise dos juízes ou análise de conteúdo) e do estudo piloto realizado junto a um grupo inicial de participantes com diferentes níveis de escolaridade para verificar a adequação semântica e clareza do instrumento – que não apresentou qualquer problema ou necessidade de modificação –, deu-se início a fase final de validação empírica na qual foram feitas as análises estatísticas, inicialmente atendendo as exigências metodológicas necessárias para avaliar a dimensionalidade e a confiabilidade do instrumento. Segundo Pasquali (1999, p. 60) a análise fatorial “produz resultados importantes com os quais se pode tomar decisões sobre a qualidade dos itens, bem como do instrumento como um todo”.

Assim, primeiramente foi feita a análise dos componentes principais para estimar o número de componentes da escala, que extraiu quatro componentes com valores próprios (eingenvalues) maiores que 1 e o teste gráfico (scree plot), que também revelou a existência

de quatro componentes interpretáveis. Em seguida, foi feita uma análise fatorial dos eixos principais com solução antecipada de quatro fatores com rotação oblíqua. Essa opção metodológica foi definida a partir da interdependência entre os fatores verificada por meio da matriz de correlação entre os fatores (Pasquali, 2005). Essa solução de quatro fatores forneceu uma boa interpretação da estrutura interna da escala na qual tanto os itens retidos referentes aos benefícios percebidos quanto os itens referentes às barreiras percebidas dividiram-se em

dois blocos cada. A matriz de correlações que indicou inter-relações significantes definidas entre os dois fatores referentes aos benefícios e os dois fatores referentes às barreiras levou à suposição da existência de fatores de segunda ordem. Por isso, os itens dos fatores um e quatro foram novamente submetidos à análise fatorial com rotação oblíqua forçando-se um único fator e os mesmos procedimentos foram feitos com os itens dos fatores dois e três. Os resultados dessas análises confirmaram a possibilidade de adotar-se a solução de dois fatores de segunda ordem.

Assim, a versão final da Escala de Benefícios e Barreiras Percebidos em Evitar o Consumo de Bebidas Alcoólicas ficou composta por 19 itens, reunidos em dois fatores de segunda ordem denominados “Benefícios Percebidos em evitar o consumo de bebidas alcoólicas” (dez itens) e “Barreiras Percebidas em evitar o consumo de bebidas alcoólicas” (nove itens). O primeiro explicou 40,8% da variância total e o segundo foi responsável por 20% da variância explicada, ambos com índices satisfatórios de consistência interna (

α

= 0,83 no primeiro fator e

α

= 0,72 no segundo) e que corresponderam às definições teóricas das crenças comportamentais conforme o Modelo de Crenças em Saúde (Rosenstock, 1974).