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2.3 ALGUMAS EXPERIÊNCIAS DE ESCOLAS DE GOVERNO NO BRASIL

2.3.4 Escola de Governo Fábio Konder Comparato/SP

Conforme Santos (1995, p.214), a idéia de criação da Escola de Governo Fábio Konder Comparato foi lançada por um grupo de professores universitários e profissionais liberais, durante a realização de um ciclo de debates sobre o Desenvolvimento Brasileiro, na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Esta idéia efetivou-se em fins de 1991 e, em 1992, teve início o primeiro curso regular de formação de governantes.

O principal fundamento norteador do empreendimento foi à convicção de que a atividade política não pode ser exercida sem uma adequada capacitação técnica, aliada a uma sólida formação ética. A Escola de Governo, mantida pela Associação Brasileira de Formação de Governantes, é uma entidade educacional, sem fins lucrativos, destinada a formar dirigentes públicos e a atuar como centro de elaboração de projetos de organização institucional e de políticas públicas18. Desta forma, a Escola não se vincula a nenhuma instância governamental e nem mesmo ao sistema universitário.

A Associação tem firmado convênios com instituições interessadas na criação de escolas congêneres, como a Associação Catarinense de Formação de Dirigentes Públicos (criada para essa finalidade); a Associação Cearense de Formação de Governantes (igualmente criada nos moldes da ABFG); a Universidade do Ceará e o Centro de Estudos Carmo-Sion (Belo Horizonte), que implantou o Curso de Formação Política e de Cidadania, com o apoio de vários professores da Universidade Federal de Minas Gerais. Há a perspectiva de serem criadas as escolas de governo do Rio de Janeiro, Porto Alegre e Salvador.

As escolas já em funcionamento, além de possuírem uma mesma finalidade e seguirem uma única orientação, obedecem a um só programa. Sua finalidade única

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é a de formar estadistas, entendendo-se que a adequada capacitação técnica para o exercício da atividade política implica uma definida aptidão para a análise da realidade social, uma indispensável competência decisória e uma permanente disposição para enfrentar riscos e assumir responsabilidades.

Desta forma, não se propondo a formar administrador, mas sim dirigentes políticos, a Escola de Governo Fábio Comparato pretende contribuir para a formação daqueles que participam, direta ou indiretamente, do funcionamento do Estado, ou seja, os que tomam as grandes decisões e os que as influenciam. Incluem-se como clientela do primeiro grupo, os governantes e seus principais executivos, parlamentares, juízes, membros do Ministério Público e dirigente das forças de segurança. Como clientela do segundo grupo incluiu-se, sindicalistas e líderes empresariais, dirigentes partidários e de movimentos políticos, e formadores de opinião, tais como jornalistas, professores e intelectuais com acesso aos meios de comunicação de massa.

A Escola conta com uma Diretoria Executiva à qual se vinculam outras três Diretorias e dois Conselhos: um Conselho Pedagógico, responsável pela concepção pedagógica e o estabelecimento do programa do curso, e integrado por personalidades do meio intelectual e acadêmico, além de um representante dos ex- alunos e um Conselho Patrimonial, cuja função é gerir e fiscalizar o patrimônio da Escola.

FIGURA 5 - ORGANOGRAMA DA ESCOLA DE GOVERNO FÁBIO KONDER COMPARATO

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Fonte: Santos et al (1995, p.216)

A principal diretriz para estruturação e organização do currículo do curso de

Formação de Governantes é a da formação de governantes tendo em vista o

desenvolvimento nacional. O programa tem sido conduzido de forma interdisciplinar em dois semestres letivos, com quatro horas de aulas semanais.

O primeiro semestre dividido em quatro blocos inclui noções fundamentais sobre o desenvolvimento nacional, o quadro político-administrativo, a organização econômico-financeira e as relações internacionais. Estes são considerados os elementos que informam toda decisão política. Em cada bloco, além da fixação de conceitos básicos, são focalizados os problemas que o Brasil enfrenta em cada área tendo, como pano de fundo, os traços marcantes da mentalidade brasileira e as grandes etapas da evolução político-econômica19.

O eixo que orienta o segundo semestre são as políticas públicas: A partir de uma discussão sobre a teoria da decisão política - com ênfase nas questões da ética e da responsabilidade - são analisadas as principais políticas, com vistas à composição de programas de ação governamental orientados para o desenvolvimento20.

Durante o primeiro semestre são desenvolvidos os seguintes conteúdos: a) Bloco 1: Introdução

b) Bloco II: A Organização Político-Administrativa

c) Bloco III: A Organização Econômico-Financeira do Brasil Diretoria Executiva Diretoria Diretoria Diretoria Conselho Patrimonial Conselho Pedagógico

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d) Bloco IV: Quadro das Relações Internacionais

Já durante o segundo semestre são desenvolvidos os seguintes temas: a) Bloco 1: Decisão e Ética Política

b) Bloco II: As Políticas Públicas

O currículo sofreu modificações mais profundas do primeiro para segundo curso. Do segundo para o terceiro, foram feitos apenas pequenos ajustes.

São previstas aulas expositivas e debates com personalidades do mundo político, através de outros eventos promovidos pela Escola, como conferências, ciclos de debates, para os quais têm sido convidados, parlamentares, dirigentes partidários, lideranças empresariais e de trabalhadores sindicalizados, altos servidores públicos. Etc.

A forma de avaliação dos alunos é decidida pelo Conselho Pedagógico e pela Diretoria Executiva. Em geral, ao final de cada semestre, os alunos apresentam um trabalho escrito. Ao final do segundo, por exemplo, eles apresentam uma proposta de política pública na área de sua escolha.

Nenhum pré-requisito é exigido dos candidatos às vagas da Escola. O curso de formação é situado como um curso complementar e condensado, oferecido a quem tenha aptidão para exercer atividades políticas, independentemente de formação universitária.

A direção da Escola é responsável pela seleção dos alunos, que é feita com base na avaliação de fichas de inscrição e entrevistas. A eventual disputa por vagas é decidida em função da vocação pública do candidato e de sua experiência de vida profissional21. As inscrições são abertas ao final de cada ano, estendendo-se as

matrículas pelos meses de janeiro e fevereiro.

A escolaridade não tem nenhum significado como critério para ingresso. Os alunos têm formação variada, sendo que alguns não contam nem mesmo com o 1º grau completo. As turmas são, portanto, bastante heterogêneas. Segundo os dirigentes da Escola, o que unifica e homogeneíza os grupos são os métodos escolhidos, que é o de análise da realidade. Todo o curso é desenvolvido a partir da realidade brasileira, com opções e propostas de solução ou de políticas sendo estudadas para cada um dos casos que vão sendo apreciados.

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Dos 64 inscritos em 1992, 39 concluíram o curso; dos 58 inscritos em 1993, 45 receberam o certificado de conclusão. Deste total, seis alunos foram bolsistas, visto que o curso é pago. Em 1994 encontravam-se matriculados mais de 65 alunos, dos quais dez eram bolsistas com inegável comprometimento com alguma atividade política.

O acompanhamento dos egressos não se dá de maneira sistemática, mas por meio da Associação dos ex-alunos. Essa entidade, que congrega ex e atuais alunos, incentiva a interação entre seus membros e outras entidades e organizações nacionais e internacionais, objetivando atuar na formulação, elaboração e desenvolvimento de projetos de organização institucional e de políticas públicas.

Os docentes da Escola são escolhidos em função de notório saber e experiência em determinada área. Em geral são professores universitários, membros de centros de pesquisas ou funcionários públicos, contratados por prestação de serviços.

QUADRO 6 - PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ESCOLA DE GOVERNO FÁBIO KONDER COMPARATO NO CAMPO DA FORMAÇÃO

VARIÁVEIS DE ANÁLISE CARACTERÍSTICAS

SISTEMA PREPARATÓRIO Nenhuma especialidade.

SELEÇÃO Nenhum pré-requisito é exigido dos candidatos. Seleção feita pela direção com base na avaliação das fichas de inscrição e entrevistas.

AMBIENTE INSTITUCIONAL Fora do sistema universitário.

CORPO DOCENTE

• Perfil

• Profissionais de notório saber e experiência em determinada área: em geral, professores universitários, membros de centros de pesquisas ou funcionários públicos.

CURRÍCULO

• Estudos Estágio

• Noções fundamentais sobre desenvolvimento nacional, Organização Político-administrativa Organização Econômico-financeira do Brasil, Quadro das Relações Internacionais, Decisão e Ética Política e Políticas Públicas.

Nenhuma forma de estágio.

DURAÇÃO Dois semestres letivos com quatro horas de aula semanais,

EGRESSO

• Perfil Alocação

• Pessoal habilitado a exercer, altas tarefas de direção política (estadista, e/o administrador.) - generalistas.

Exclusivamente pelo mercado.

Fonte: Fundap, Documento de Divulgação: Escola de Governo e Adm. Pública, 1991.

2.3.5 Escola de Governo de Minas Gerais da Fundação João Pinheiro –