• Nenhum resultado encontrado

3 A POLÍTICA PÚBLICA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO E A LUTA PELA CONSTRUÇÃO

3.3 A ESCOLA DO CAMPO NO CONTEXTO DA REFORMA AGRÁRIA

Qual escola tem sido necessária à luta do Movimento Sem Terra? Sem dúvida a escola que faz a diferença na vida dos sujeitos, a escola do povo, para o povo e que se constrói a partir da luta do povo. Neste contexto, a construção da escola do campo, coloca-se no processo de luta da classe trabalhadora para garantir seus direitos de escolarização e de acesso ao conhecimento.

Assim, a escola do campo proclamada e reivindicada na luta por uma Educação do Campo visa a formação de intelectuais da classe trabalhadora, para que estes sejam capazes de formular alternativas de um projeto político que possa contribuir em um processo mais amplo de transformação social, de emancipação humana. Neste contexto, a escola do campo assume o intuito de fortalecer os camponeses num movimento de resistência ao sistema vigente, um sistema que tende cada vez mais, oprimir, o já oprimido. Molina e Sá (2012), contribuem na

compreensão da concepção de escola do campo, formulada e construída adjacente à luta por uma Educação do Campo.

A concepção de Escola do Campo nasce e se desenvolve no bojo do movimento da Educação do Campo, a partir das experiências de formação humana desenvolvidas no contexto de luta dos movimentos sociais camponeses por terra e educação. Trata- se, portanto, de uma concepção que emerge das contradições da luta social e das práticas de educação dos trabalhadores do e no campo. [...] O movimento histórico de construção da concepção de escola do campo faz parte do mesmo movimento de construção de um projeto de campo e de sociedade pelas forças sociais da classe trabalhadora, mobilizadas no momento atual na disputa contra-hegemônica. (MOLINA e SÁ, 2012, p. 324-325).

Amparando-se no Decreto Presidencial nº 7.352/2010 (MEC, 2012), Molina e Sá (2012, p. 327) reafirmam que a identidade da escola do campo não se dá apenas pela sua localização geográfica, mas, também pela diversidade de reprodução social dos sujeitos, de forma a garantir a sua legitimidade enquanto escola do campo, não apenas por estar inserida no campo, mas pelos sujeitos a que se destina e também pela forma de se adquirir e dividir os conhecimentos, uma escola capaz de formar sujeitos fortes, com capacidade de enfrentamento contra o sistema hegemônico.

Na construção da escola do campo busca-se um novo jeito de educar, de fazer escola, esta diferencia-se pela forma de ensino-aprendizagem, na construção de estratégias pedagógicas, onde assume-se o desafio de superar os limites da sala de aulas, a fragmentação do conhecimento, entrando em confronto direto com a forma do ensino capitalista. A escola do campo não se prende a paredes ou muros, ela busca o conhecimento da realidade, uma escola na qual professor e aluno aprendem juntos, numa perspectiva de conhecimento simultâneo, onde “[...] quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender [...].”. (FREIRE, 1996, p. 23). Na escola do campo, tanto o professor quanto o aluno aprendem, são saberes trocados, saberes diferentes, onde “[...] quem forma se forma e re- forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado.”. (FREIRE, 1996, p. 23). Se constituem assim como saberes que se completam, o saber científico, estruturado e organizado no conjunto de conteúdos escolares e os saberes vinculados a realidade, sobretudo vivenciado pelos alunos. A conexão entre estes dois saberes, se configuram como o desafio da escola do campo e traz como possibilidade um saber melhorado, ou seja, o conhecimento mais apurado dos fenômenos da vida.

Diante da sociedade atual, as desigualdades reinam, a classe dominante que tem no Estado a expressão concreta de seus interesses de classe, esmaga os dominados, a classe trabalhadora, por intermédio da opressão de classe. Essa condição imposta à classe

trabalhadora, no próprio processo de luta desta contra a opressão, coloca-a num movimento de pensar uma escola diferente dos moldes tradicionais, uma escola que se volte para a formação de sujeitos que defendam os interesses dos trabalhadores. Assim, a escola do campo, forjada na luta dos povos trabalhadores do campo tem como objetivo a escolarização e a formação de uma nova geração de intelectuais orgânicos visando um novo projeto de sociedade. Os processos de luta têm demostrado que é possível fazer uma educação voltada aos interesses da classe trabalhadora, no entanto, a construção desta educação e de uma escola do campo a ela vinculada exige perseverança criatividade e ousadia de quem a constrói, inserindo-se nos processos de luta.

Conforme analisado anteriormente, a escola do campo no âmbito da luta por uma Educação do Campo, tem buscado romper com a educação tradicional. Neste contexto, a escola do campo visa um ensino que precisa estar ligado à prática, buscando um conhecimento que faça sentido na vida dos estudantes, tendo em vista a realidade do sujeito, portanto, o sujeito que ensina precisa estar ciente da prática do estudante.

Para materialização desta proposta de escola, podem ser identificados alguns desafios. Na experiência histórica do MST, a ousadia e a criatividade tem sido elementos fundamentais, pois articuladas e vivenciadas na intensamente da luta verifica-se os germes desta construção. Segundo o Dossiê MST – Escola (MST, 2005), é neste contexto que a escola do campo vai se desenvolvendo, se consolidando, visando um novo homem, uma nova sociedade.

Nesse caminhar da educação dentro do MST muitas experiências novas estão sendo desenvolvidas. Enfrentando as dificuldades com criatividade e disposição, estamos construindo um novo jeito de educar e um novo tipo de escola. Uma escola onde se educa partindo da realidade; uma escola onde professor e aluno são companheiros e trabalham juntos –aprendendo e ensinando; uma escola que se organiza criando oportunidades para que as crianças se desenvolvam em todos os sentidos; uma escola que incentiva e fortalece os valores do trabalho, da solidariedade, do companheirismo, da responsabilidade e do amor à causa do povo. Uma escola que tem como objetivo um novo homem e uma nova mulher, para uma nova sociedade e um novo mundo. (MST, 2005, p.31).

A Educação do Campo, bem como, a escola do campo, foram conquistadas mediante a luta árdua do movimento do povo. Como expressão dessa luta, conforme análise já efetivada neste trabalho, coloca-se a brava luta pelo reconhecimento da primeira Escola Itinerante no Paraná, a Escola Itinerante Chico Mendes, que em 2007 passa a integrar a rede estadual de ensino como Colégio Estadual do Campo Chico Mendes. Neste processo de reconhecimento legal e de materialização de uma escola que, articulada a luta pela Reforma Agrária, coloca-se no desafio de constituir-se como escola do campo, destaca-se a conquista da estrutura própria

do Colégio Chico Mendes, processo este que será descrito e analisado na sequência deste trabalho, retratando os percalços de um sonho que por alguns anos foi paralisado.

4 A CONSTRUÇÃO DO COLÉGIO ESTADUAL DO CAMPO CHICO MENDES EM