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A ESCOLA ESPAÇO DO APRENDER E O SINTOMA DO NÃO APRENDER43

A escola nunca educará sozinha, de modo que a responsabilidade educacional da família jamais cessará. Uma vez escolhida a escola, a relação com ela apenas começa. É preciso o diálogo entre escola, pais e filhos. (REIS, 2007, p. 6 apud SOUZA, 2009, p. 8)

A escola é o espaço onde as crianças são encaminhadas pelos pais para serem educadas, mas tal educação não acontece apenas no ambiente escolar. A escola e a família são parceiras no processo educativo da criança, pois a família é a orientadora e a escola a tutora, sendo necessária uma conversa ‘íntima’ entre pais e escola afim de definir o que é melhor para aquela criança, essa conversa demonstra ao estudante/filho que os seus pais estão presentes também na escola e que ali é um ambiente onde ele tem uma meta a cumprir. Dessa forma, Souza (2009, p. 17) cita que “faz-se necessário que a escola repense sua prática pedagógica para melhor atender a singularidade de seus alunos, o que obriga a uma parceria com a família de forma a atingir seus objetivos educativos.” O desempenho escolar do aluno pode variar de acordo com a presença ou ausência dos pais no acompanhamento escolar, seja indo à escola ou auxiliando os filhos em casa.

A escola na perspectiva psicanalítica

A teoria psicanalítica não deixa receitas de como o professor deve agir, mas construiu bases teórica com a finalidade de orientar o professor no que concerne à educação de qualidade. Tal educação não desmotiva o aluno e nem tira o prazer que ele tem em suas atividades. Sendo assim a: Psicanálise pode transmitir ao educador (e não a Pedagogia) uma ética, um modo de ver e de entender sua prática educativa. “É um saber que pode gerar, dependendo, naturalmente, das possibilidades subjetivas de cada educador uma posição, uma filosofia de trabalho.” (KUPFER, 1989, p. 15 apud CHERNICHARO, s.d.).

Segundo Chernicharo (s.d.) a psicanálise constrói seu saber a partir de escutas clínicas, não se deixando envolver por teorias oriundas da psicologia desenvolvimentista e nem da aprendizagem, mas influencia a área educacional por pensar nos sujeitos que não conseguem aprender. A psicanálise não tem a intensão de

ser educadora, mas acredita que os professores munidos dos conceitos por ela instituídos poderão melhorar sua atuação perante as dificuldades dos alunos.

A visão psicanalítica de educação é uma visão que valoriza o aluno como ser humano e nos seus afetos, capaz e livre de construir seu próprio conhecimento através do seu desejo inconsciente.

Relações entre o conhecimento e o saber: contribuições da psicanálise.

Reconhecidamente a psicanálise tem contribuído para a compreensão o desvelamento do psiquismo, assim, a educação pode aproveitar de seus estudos para promover um processo ensino-aprendizagem diferenciado.

Para a psicanálise [...] “a função do professor está além de transmitir um saber para o aluno. O professor tem a difícil missão de despertar e causar o desejo de saber e de produzir para que ele seja capaz de conduzir-se em direção ao próximo ao próprio saber, à criação é à vida.” (FERRARI, 2003)

Relação professor-aluno e suas implicações

Toda aprendizagem em que professor e aluno se entregam ao prazer de aprender, respaldados pelo afeto, pela liberdade e pelo respeito tornam-se uma lição de amor, um encontro verdadeiro entre duas pessoas, de dois desejos inconscientes. (PESSOA, 2000, p. 102) Mecanismo de Identificação

Um dos mecanismos importantes e que está presente no espaço da sala de aula é a identificação que é marcada pelo reconhecimento do outro e das relações sociais.

Segundo Freud, o mecanismo da identificação tem um lugar decisivo no processo de formação social, na cultura e na civilização, que Freud se nega a separar. Com a identificação tem início a “sublimação dos impulsos sexuais”; ela permite o aparecimento do “sentimento social”.

(PEDROSSIAN, 2008, p.419).

Neste contexto é importante escrever sobre a necessidade que o filho tem em se espelhar nas atitudes do pai, no caráter, na personalidade. As crianças buscam seus

exemplos de heróis, de perfeição nos seus pais e esse é um exemplo fiel da identificação no outro. Quando a criança não tem esse espelho dentro do ambiente familiar ele encontrará outras pessoas para poderem ser o seu exemplo de perfeição ou aquele que ele quer se tornar quando for adulto.

A identificação é "um processo psicológico pelo qual um sujeito assimila um aspecto, uma propriedade, um atributo do outro e se transforma total ou parcialmente, a partir daquele modelo". É uma condição que dá ao sujeito um sentimento de continuidade e de limite, em relação a si e ao mundo com o qual ele se relaciona. A personalidade se constitui e se diferencia por uma série de identificações (LAPLANCHE e PONTALIS, 1973 apud LEVISKY, 2002, p.106).

Segundo Crochík (s.d. apud PEDROSSIAN, 2008, p.p. 425-426) “existem três formas: 1 - a identificação com aquele que se quer ter para si; 2 - a identificação com aquele que se quer ser; e 3 - a identificação com uma situação ou uma característica imaginária ou real que outra pessoa apresente.” Em que os dois primeiros se referem a construção do eu e a renúncia ao objeto de desejo, o segundo também se caracteriza pelo controle do superego e tentativa de se assemelhar ao objeto desejo, sentindo-se protegido. O terceiro reflete sobre a formação de grupos e a semelhança do eu com o objeto de desejo, a busca pela igualdade com o objeto real ou imaginário.

A sublimação: canalização da energia

Na psicanálise, de acordo com Freud (1973), a sublimação é o ato de substituir um objeto por outro semelhante. Ela cita como exemplo a criança que brinca com os seus excrementos, que em vez de brincar com urina e fezes passa a brincar com areia e água. Deste modo a criança não precisa renunciar o prazer de sua brincadeira, apenas adaptá-la às regras socialmente convencionadas.

As relações transferenciais no espaço escolar

Para Santos (2009) a transferência é “antes de tudo, transferência de sentidos, de Representações”, neste sentido a transferência na escola pode ocorres entre aluno e professor, o estudante pode projetar no professor algum momento vivido na infância e que o seu inconsciente associou à figura do docente. Conforme Freud (1973),

Nós dizemos, como o haveis ouvido a propósito do exemplo da relação das crianças com os seus professores na escola, que a criança TRANSFERE a atitude sentimental do passado para uma pessoa no presente. É natural que frequentemente tenha de entender mal, interpretar e agir com violência, face a esse presente, para tornar pelo menos possível uma tal transferência sentimental. (FREUD, 1973, p.

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Neste sentido a criança pode criar laços afetivos ou bloqueios àquela pessoa, se a criança criar alguma barreira diante deste educador, isso poderá afetar o seu desenvolvimento em sala de aula, pois ali não haverá uma relação de confiança ou mesmo de afeto. Deve ser considerado que o docente também faz transferência, inconsciente, aos seus alunos, seja ela na forma de amor ou de hostilidade.

Somos levados a pensar que o professor pode responder com agressividade às investidas hostis de algum aluno ou, de outro modo, pode responder às demandas amorosas de uma criança, saindo de seu papel de mediador do processo de aprendizagem e passando a ocupar o lugar de pai ou mãe. (SANTOS, 2009, p. 25)

Para o professor esse processo de transferência do aluno, pode ser prejudicial à sua conduta em sala de aula, pois o aluno que transferiu para ele o lugar dos pais será mais dependente dele e exigirá dele uma atenção diferenciada dos demais estudantes. O professor deverá aprender como não corresponder essa transferência, sem deixar a criança traumatizada, não a desmotivando em relação aos estudos e ao sucesso como aprendiz.

3 FAMÍLIA E O PROCESSO DE APRENDIZAGEM

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