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Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP)

A ELSP foi fundada em 27 de maio de 193336, e permaneceu como uma instituição de ensino e pesquisa, complementar da Universidade de São Paulo. Tinha como objetivo formar

a “elite instruída sob métodos científicos apta a estabelecer as ligações do homem com o meio

social”, concebida como uma elite administrativa e empresarial. (CARDOSO, 1982, p.157).

No Manifesto de Fundação da ELSP37, lê-se uma crítica direcionada à falta de uma “elite numerosa e organizada, instruída sob métodos científicos, a par das instituições e

conquistas do mundo civilizado, capaz de compreender, antes de agir, o meio social que

vivemos”. O povo, diz o manifesto, “sente-se mais ou menos às tontas e vacilante”, mas falta-

lhe a “mola central de uma elite harmoniosa, que lhe inspire confiança, que lhe ensine passos

firmes e seguros”. E por fim, explica tal manifesto:

Falta em nosso aparelhamento de estudos superiores, além de organizações universitárias sólidas, um centro de cultura político-social apto a inspirar interesses pelo bem coletivo, a estabelecer ligação do homem com o meio, a incentivar pesquisas sobre as condições de existência e os problemas, vitais de nossas populações, a formar personalidades capazes de colaborar eficaz e conscientemente na direção da vida social. (p.151).

A ELSP vem preencher essa lacuna evidente.

Assinaram esse manifesto cerca de 100 pessoas, entre diretores das diversas

faculdades de São Paulo, jornalistas e intelectuais. Nesse período, segundo o Anuário da

ELSP (1947, p.5),

os fundadores, elementos da escola intelectual paulista, impressionados com o malogro de todas as tentativas de reorganização da vida econômica e política do País, perceberam que os insucessos resultavam do desequilíbrio entre o ritmo acelerado do nosso progresso material, gerador de múltiplos e complexos problemas, e o nosso incompleto aparelhamento de ensino ao qual faltava uma escola que disseminasse os conhecimentos indispensáveis aos elementos que pretendesse cooperar com os órgãos da administração pública no estudo e solução dos problemas nacionais.

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A ELSP foi reconhecida em 6-9-1946, por meio do Decreto-Lei 9876, de acordo com o parecer n.° 243, aprovado por unanimidade pelo Conselho Nacional de Educação na sessão de 27-12-1944.

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A ELSP foi organizada nos moldes dos institutos congêneres europeus e americanos.

Segundo o Anuário, de 1947, a ELSP é destinada a:

I – Proporcionar conhecimentos objetivos sobre a origem, funções e necessidades do meio

social;

II – Formar, assim, um grupo numeroso de indivíduos que pudesse não só colaborar eficaz e

conscientemente na solução dos problemas da administração pública e particular, como

também, eventualmente, orientar o povo e a nação no reajustamento indispensável ao

moderno equilíbrio social.

Para alcançar tal escopo, a Escola organizou:

a) Cursos letivos sistematizados; b) Conferências em séries ou avulsas sobre assuntos da

atualidade; c) Aulas práticas nas disciplinas ensinadas; d) Publicações impressas para a

divulgação dos trabalhos científicos realizados por seus professores e alunos; e) Uma

Biblioteca e Arquivo especializados sobre ciências sociais e conexas; f) Um movimento

permanente de intercâmbio cultural com organizações análogas e estrangeiras, e g) Bolsas de

estudos e estágios de especialização para os alunos mais esforçados.

Em 1947, Sérgio iniciou suas atividades junto à ELSP, onde permaneceu até 1957. Foi

responsável pela Cadeira de História Econômica do Brasil, lecionada anteriormente por

Roberto Simonsen, e, em 1955, também pela Cadeira de História Social e Política.

No período em que lecionava na ELSP, Sérgio ausentou-se várias vezes para realizar

viagens ao exterior. Em novembro de 1949, afastou-se da ELSP para participar,

sucessivamente, de três Comitês da UNESCO em Paris, relacionados com matérias de sua

especialidade, e pronunciou, entre abril e maio, uma série de conferências na École Practique

de Hautes Études, da Sorbonne. Prestou colaboração ao Musée de l’Homme de Paris, a

em maio desse mesmo ano, de um comitê – composto por representantes de oito países -,

organizado pela Unesco, com o fito de discutir o conceito de democracia. Em novembro,

retornou à Europa, a convite da Unesco, para participar de dois outros comitês, em Paris. Um,

para estudar os contatos entre as civilizações e culturas e, outro, para discutir a possibilidade

de tradução de obras representativas de diferentes localidades. O resultado do trabalho consta

no volume impresso pela Unesco sob o título “Interrelations of Cultures. Their Contribuition

to Internacional Understanding, e uma edição francesa intitulada “L”Originalité dês

Cultures”.

Em 1950, afastou-se novamente para participar de um seminário na Universidade de

Colúmbia. Participou, também em 1950, do Primeiro Colloquium de Estudos Luso-

Brasileiros, reunidos em Washington. Nos Estados Unidos, pesquisou na Biblioteca do

Congresso e na Biblioteca Pública de Nova York. Participou de seminário, juntamente com a

Prof.ª Alice P. Canabrava, na Universidade de Colúmbia, a convite do Professor Frank

Tennembaum. Na volta dos Estados Unidos, passou pela Europa, visitando França, Espanha e

Portugal, onde efetuou pesquisas no Arquivo Ultramarino, na Torre do Tombo e na Biblioteca

Nacional, no setor de “reservados” e na Coleção Pombalina. Estas pesquisas seriam

importantes para desdobrar a sua obra Monções. Em 1954, participou do IX Rencontres

Internationales de Genevè, onde fez uma conferência seguida de debates, sobre o tema

“L’Europe et le Nouveau Monde”, publicada no mesmo ano pelas edições de La Baconnière,

em Lausanne, Suíça.

Matriculou-se, em 4 de agosto de 195638, na Escola Graduada em Ciências Sociais, da ELSP, a fim de obter um título acadêmico pós-graduado, exigência para prestar o concurso de

cátedra da USP. Para ingressar como aluno regular, Sérgio realizou várias provas e trabalhos.

A prova de “Língua Inglesa” foi uma tradução de um trecho de “Plural and Differencial

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Aculturaltive in Trinidad”, de Daniel J. Cronwley, artigo da Revista American Anthropoloist,

de 1957. Essa prova foi aplicada pelo Prof. Octávio da Costa Eduardo que lhe atribuiu a nota

9,0. Essa prova foi aplicada pelo Prof. Herbert Baldus, que lhe atribuiu a nota A. A melhor

nota recebida na prova de Língua Alemã se deve, talvez, à familiaridade maior do historiador

com essa língua, já que passou dois anos na Alemanha.

Sérgio, ao que parece, levou com muita seriedade esse curso de pós-graduação,

impressão comprovada pela qualidade de seus trabalhos e pelas notas recebidas. Os

trabalhos39 escritos para as disciplinas são ensaios rigorosos, fundamentados, muitas vezes, em bibliografia em língua estrangeira (alemão, francês, inglês e espanhol), atas e outras fontes

presentes em documentos históricos colhidos nos mais diversos arquivos no Brasil e no

exterior.

Para a disciplina “História Social do Brasil”, ministrada pelo Prof. Octávio da Costa

Eduardo, Sérgio apresentou o trabalho intitulado “São Vicente e as ‘Índias de Castela’”.

Recebeu nota A+. Em outro trabalho para a disciplina “História Social do Brasil”, Sérgio

apresentou o trabalho “Formação de uma vila sertaneja”, e recebeu também a nota A+.

O Prof. Herbert Baldus foi responsável por cinco disciplinas, atribuindo-lhe nota “A”

em todas. Para a disciplina “Índios da América do Sul”, Sérgio apresentou o trabalho “Índios

do Brasil – os paiaguá”. Para a disciplina “Problemas de Aculturação”, apresentou o trabalho

“As canoas de casca”. Para a disciplina “Índios do Brasil”, entregou o trabalho intitulado “Os

caiapó do Sul”. Para a disciplina “Problemas de Mudança Cultural”, entregou o trabalho “Das

piperis às balsas jesuíticas”. Por fim, para a disciplina “Pesquisas no Brasil – leituras

sistemáticas”, apresentou o trabalho “João Emanuel Pohl e os viajantes do segundo decênio

do século XIX”. Para a disciplina “Pré-história da Europa”, ministrada pelo prof.° Fernando

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Altenfelder Silva, apresentou o trabalho “Pensamento e arte na Pré-História”. Não foi possível

encontrar a nota desta disciplina.

Em 30 de julho de 195840, Sérgio Buarque de Holanda submeteu-se ao exame “comprehensive”, espécie de “qualificação”, para obter o grau de Mestre em Ciências Sociais,

tendo sido aprovado em todas as disciplinas acima.

No dia 04 de julho de 195841, defendeu a tese intitulada Elementos formadores da

sociedade portuguesa na época dos descobrimentos42, e recebeu o grau de Mestre em

Ciências Sociais. Participaram de sua banca examinadora os professores Herbert Baldus,

Fernando Altenfelder Silva, Lolita Almeida e Octavio da Costa Eduardo.

A experiência docente na ELSP, que durou quase 10 anos, trabalho que realizou

concomitantemente com a Direção do Museu Paulista e com a coluna de crítica literária do

“Diário de Notícias”, foi uma das fases de maior produção científica de Sérgio. A

consagração como o maior historiador brasileiro veio no seu ingresso na Universidade de São

Paulo e com a publicação de Visões do Paraíso, como veremos a seguir.