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a escola e sua rede institucional

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1. CAPÍTULO III OS LIMITES E AS POSSIBILIDADES DA EDUCAÇÃO

1.1. Métodos, Procedimentos de Pesquisa e o Trabalho de Campo

1.1.4. Diversos depoimentos de uma única situação: a distância entre a comunidade e a

1.1.4.7. a escola e sua rede institucional

No capítulo teórico, no item que trata da educação e da ação social no Município de Mangaratiba, foi exposto de forma sintética os elementos que constituem e direcionam o funcionamento do sistema de ensino do qual a E. M. Levy Miranda faz parte.

Nas entrevistas e conversas na Secretaria de Educação, ficou claro que todas as trinta e cinco unidades escolares da rede municipal obedecem às mesmas diretrizes, podendo fazer adaptações de acordo com suas necessidades locais, mas estas adaptações dependem somente da vontade e comprometimento dos gestores das unidades.

Estas adaptações à realidade local podem garantir a integração entre a comunidade e a escola, como a experiência relatada por uma funcionária da Secretaria sobre o que está ocorrendo na escola localizada na Ilha da Gamboa. A funcionária relata que nessa escola há uma sala de música, porque o perfil da comunidade é evangélico e trabalha muito a atividade musical, então a escola está trabalhando isso.

Independente dessas adaptações, as Diretrizes Curriculares seguem homogêneas para todas as escolas. Tendo acesso ao documento que trata dos conteúdos, propostas de atividades e objetivos de aprendizagem para cada ano de escolaridade, observou-se que se tratam de

diretrizes gerais baseadas nos conteúdos propostos pelo MEC, por exemplo. Não se identificou a presença de conteúdos como Agroecologia, Educação Ambiental, História Local, e etc. Estes conteúdos são encontrados somente na formação continuada dos gestores.

Observou-se também nas conversas, que o currículo defendido pela Secretaria é, de fato, a diretriz máxima executada em todas as atividades. Basta analisar a quantidade de projetos que têm como objetivo principal desenvolver habilidades de leitura e escrita nos alunos (tabela 05).

Nas palavras da Coordenadora de Ações Educacionais da Secretaria de Educação, o currículo defendido

É de que os conteúdos façam parte da realidade dos alunos, seja problematizadora, para perceber a importância de estar estudando, a importância da escola [...], para quê estudar aquilo! [...] relação entre teoria e prática na vida do aluno.

Mais uma vez o elemento “realidade do aluno” aparece, mas não se vê as diretrizes de como colocar is so em prática, deixando lacunas sobre como é feito e se é feito.

Ainda falando sobre os projetos, uma das coordenadoras da Diretoria de Projetos da Secretaria de Educação conta que, em 2005, na E. M. Levy Miranda, aconteceu uma edição do Projeto Pintando o Sete, sendo a escola ganhadora do prêmio no dia da culminância do projeto na praça da cidade.

Vale lembrar que o currículo das escolas, então, é baseado nos “quatro pilares” que têm como eixos leitura, escrita, busca por informações e solução de problemas.

Outra informação é a utilização dos ind icadores de avaliação nacional, como o IDEB, obtidos pela Prova e Provinha Brasil, como medida de verificação do andamento do trabalho pedagógico, enfatizado pelo Diretor da Diretoria de Ensino da Secretaria de Educação.

Estes instrumentos servem para a verificação da aprendizagem de disciplinas como Português e Matemática, ao final do primeiro e do segundo segmento do Ensino Fundamental, constituindo-se de uma verificação quantitativa, fazendo questionar como se verifica a formação do indivíduo enquanto cidadão, a aplicabilidade do conhecimento na vida do aluno, o exercício da cidadania e etc. Questões de cunho qualitativo, que dizem respeito à educação, como emancipação e transformação, especialmente quando se trata de uma escola imersa numa realidade totalmente diversa das demais, como é o caso da E. M. Levy Miranda, são deixadas de lado.

Os depoimentos e as observações participantes somadas à literatura, permite verificar que a escola local com o ensino, e a relação que estabelece com a comunidade, da forma como está sendo oferecido, cumpre o seu papel oficial de oferecer o ensino formal, baseado nas Diretrizes Curriculares previstas na legislação em vigor, e possibilita a continuidade dos estudos através da certificação. Apesar de possuir especificidades, como aponta a Diretora da Secretaria de Gerência de Ensino da Prefeitura Municipal de Mangaratiba, no trabalho de campo em 2008: “O currículo é comum a todas as escolas, mas há especificidades na

Marambaia por ser uma escola de Ilha, assim como há especificidades na escola da Serra do Piloto”.

As particularidades do público alvo da escola não parecem ser levadas em consideração na sua prática e a continuidade dos estudos e a profissionalização dependem das capacidades e esforços individuais dos jovens e adultos da Ilha.

O trabalho de campo revelou que a escola poderia cumprir um papel mais social, que dependerá da concepção de educação que adote: seja como responsável pela inserção social do indivíduo ou como reprodutora de conhecimentos, seja como doutrina pedagógica ou como processo de socialização, dentre outras concepções, destacando-se a perspectiva de Gramsci que coloca a escola como o local onde a educação tenha o sentido de transformação, para que a comunidade possa resgatar sua cidadania, e a escola interaja com suas especificidades. O

que os dados mostram estar acontecendo é uma formação para “fora da comunidade” e, com isso, a escola se torna desinteressante. Ela não está ligada ao meio no qual o indivíduo, enquanto sujeito, vive, mesmo que façam adaptações ao currículo geral.

Por isso, fala-se em cidadania, neste caso, ligada ao acesso do conhecimento, como ferramenta para o trabalho enquanto indispensável para a reprodução social. Aqui, a noção de cidadania é utilizada em seu sentido mais amplo, que possui alguns significados interligados: “a consciência do entorno, do viver na coletividade, do pertencer a uma organização social, e a do direito ao acesso igualitário aos bens e serviços socialmente produzidos” (Boneti, op. cit., p. 72).

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