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3. Organização do ensino individualizado

3.7. Escola sem classes

O agrupamento dos alunos flexível e permeável, torna-se mais proveitoso e opõe-se ao agrupamento estanque de alunos em turmas de acordo com a idade e o ano de escolaridade.

Nas diferentes situações e de acordo com os objectivos que se pretendam alcançar, os grupos poderão ser organizados e reorganizados atendendo a diferentes critérios como: pertença, afinidades, aproveitamento, dificulda- des, recuperação, cooperação, interesses, divergências, expectativas e outros.

Por um lado a prática de um ensino individualizado, capaz de responder às necessidades de cada aluno pressupõe uma escola sem classes. Por outro lado a abolição das classes implica a individualização do ensino no sentido de que cada aluno recebe um programa à sua medida para cada disciplina com opções livres e algumas opções obrigatórias.

Avanzini (1978: 245-247) aponta várias vantagens da inexistência de classes: a aula já não é suportada uma vez que é escolhida, as crianças aprendem a escolher, a utilizar a sua liberdade, a descobrir o valor relativo das suas opções. A programação, progressão ou os objectivos são centrados não num saber mas num progresso da inteligência, da experiência, da persona- lidade – a escola agrada aos alunos. O isolamento de cada um é esponta- neamente quebrado por múltiplas trocas no local assim como pelo apareci- mento de grupos naturais.

Há liberdade na gestão do tempo, o aluno permanece o tempo de que pre- cisa em cada matéria ou actividade, sem no entanto ficar entregue a si pró- prio porque os professores apresentam-se como conselheiros e vigilantes. As classificações, seriações, notas e exames são eliminados mas procede-se a controlos de conhecimentos no fim de cada fase de trabalho. Os professo- res já não ensinam, a não ser quando para tal solicitados: nesse caso, a sua intervenção é curta. Estes mantêm-se à disposição dos alunos a horas indi- cadas, respondendo às suas perguntas numa permuta permanente, consi- derada muito fatigante mas ainda mais frutuosa.

Segunda parte: As escolas de área aberta (P3) em Portugal

As escolas de área aberta apareceram em Portugal numa tentativa de mudança e de renovação a nível pedagógico, que não foi explicada nem compreendida no tempo.

O projecto das escolas de área aberta teve a sua génese na década de ses- senta do século XX numa tentativa de adaptar as condições arquitectónicas das escolas primárias à renovação quantitativa e qualitativa das condições educativas e dos métodos pedagógicos já experimentados em países desenvolvidos. Em Portugal, um conjunto de factos e factores de âmbito nacional e internacional desencadearam o seu aparecimento, bem como a sua trajectória.

Havia uma pressão internacional para que a educação se tornasse realmen- te acessível a todos, e Portugal não estava isento dessa pressão, até porque ainda não tinha meios físicos suficientes para responder às suas necessida- des reais, o que forçou uma evolução dos sistemas de ensino, incluindo o sistema de ensino português, tendo como consequência uma influência mútua, que levou a uma certa homogeneização dos sistemas de ensino. Por outro lado, desenhava-se um clima de cooperação e comunicação interna- cionais, no que se refere à construção de edifícios escolares.

Na maioria dos países da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), passou a dar-se especial atenção à educação, pois con- siderava-se a expansão educativa como uma questão determinante do cres- cimento económico, devendo ser devidamente planeada como investimento para garantir a prosperidade no futuro, o que determinou o seu empenho no Projecto Regional do Mediterrâneo (PRM). O Projecto propunha-se esta- belecer, em termos quantitativos, a evolução que deveria sofrer o sistema escolar português, a fim de estar apto a preparar o pessoal qualificado requerido pela economia portuguesa e assim aproximar-se das outras eco- nomias europeias. Ligado ao Projecto Regional do Mediterrâneo estava o projecto DEEB (Development and Economy in Educational Building), no âmbito do qual, em 1963, foi criado um Grupo de Trabalho sobre Construções Escola-

res constituído por técnicos do Ministério da Educação Nacional (MEN) e do Ministério das Obras Públicas (MOP) que, em 1965, elaborou as Normas para a Construção de Edifícios para o Ensino Primário Elementar.

Outro factor importante foi a criação da Direcção-Geral das Construções Escolares (DGCE) na orgânica do Ministério das Obras Públicas, com a intenção de concentração da responsabilidade das obras de construção, ampliação e conservação dos edifícios escolares, intensificar, com sensíveis economias, o ritmo de instalações escolares bem como o seu apetrecha- mento.

A influência da OCDE foi determinante na definição das “Normas para a Construção de Edifícios para o Ensino Primário Elementar”, em 1965, exem- plificadas na Escola-Piloto de Mem Martins, e, em 1970, na elaboração do Projecto Normalizado de Escolas Primárias pela Equipa P3 da DGCE, que viria a dar o nome a essas escolas, sendo frequente serem designadas como escolas P3.

A opção por um projecto normalizado de escolas primárias deveu-se ao fac- to de, dada a grande carência de edifícios escolares para facultar o ensino primário a todos e a necessidade de construir grande número de novos edi- fícios no mais curto espaço de tempo em todo o território nacional, não haver tempo, nem verbas, nem técnicos disponíveis para que cada edifício a construir tivesse um projecto especial próprio. Assim um projecto tipo nor- malizado, repetido e especializado de construção permitiria a utilização de elementos estandardizados, pré-fabricados, beneficiando do abaixamento de custo provocado pela produção em série.

Este projecto surge, também, em oposição ao projecto então vigente, baseado na ideia de que os edifícios escolares, assim como o seu equipa- mento, reclamam uma dupla corrente de renovação que tem origem, por um lado, em novas técnicas pedagógicas e, por outro lado, na contínua revisão dos processos arquitectónicos. As escolas de área aberta vêm res- ponder a aspectos construtivos e a aspectos pedagógicos.

Em termos arquitectónicos, a abertura da escola traduz-se na abertura em termos de espaço, concretizada na interligação entre duas ou mais salas através de uma zona intermédia, a que se deu o nome de zona de trabalho.

Cada agrupamento de espaços constitui um núcleo. Para além dos diferen- tes núcleos, cada edifício dispõe de outras divisões, nomeadamente um polivalente que, tinha como função paralela, a promoção da abertura à comunidade.

A concepção do edifício escolar traduzia uma concepção do ensino e uma política educacional e o projecto tipo P3 era facilitador de novos métodos pedagógicos que tinham a ver com a pedagogia diferenciada. O objectivo era passar do ensino colectivo, isto é, dirigido indiscriminadamente aos alu- nos, para o ensino individualizado – um ensino que respeita as diferenças individuais, que facilita a inclusão de todas as crianças, sendo uma das melhores técnicas da escola activa que se querem à medida da criança. O projecto das escolas de área aberta em Portugal, mesmo com muitas reservas de alguns dos organismos do MEN, que em 1971 deram pareceres que anteviam o falhanço do projecto caso não se tomassem medidas relati- vas à preparação dos meios humanos e materiais, que propunham a implementação do projecto com as paredes levantadas e com a discordân- cia da Junta Nacional de Educação (JNE) que rejeitava a adesão total aos fundamentos pedagógicos apresentados no projecto, começou a ser imple- mentado um pouco por todo o país e em maior número na década de 80 devido à lei das finanças locais de 79, que passou a responsabilidade da construção e manutenção dos edifícios escolares para a tutela das câmaras municipais, que se agradaram do projecto devido a motivos de ordem cons- trutiva e financeira.

Assim, tudo foi desenvolvido, aparentemente, sem a unanimidade e sem o devido investimento por parte das entidades competentes: as escolas de área aberta, Projecto – Tipo P3, começaram a funcionar em Portugal sem a devida regulamentação, formação, sensibilização e motivação dos professo- res para o trabalho nesse tipo escolas. Houve um enorme vazio temporal até que as entidades responsáveis actuassem, dando uma resposta às difi- culdades sentidas e ao descontentamento que se começou a gerar por entre toda a comunidade escolar. Tendo consciência da situação criada, surge assim, apenas em 1980, um programa de apoio aos professores das escolas de área aberta.

aberta tipo P3 que decorreu entre o ano lectivo 1980/1981 e 1984/85, com o objectivo viabilizar o projecto de arquitectura escolar e respectivo projecto pedagógico que lhe estava subjacente. A experiência conseguiu provar que com alguma formação e estabilidade na equipa dos professores era possível trabalhar em área aberta pondo em prática uma pedagogia de partilha e de individualização/diferenciação, fazendo mesmo um trabalho de dissemina- ção das práticas pedagógicas a escolas vizinhas. No entanto, não impediu que muitas vozes continuassem a pedir o levantamento das paredes e que se levantassem efectivamente, mantendo a prática pedagógica tradicional – a viabilização deste projecto de arquitectura escolar não foi conseguido na sua plenitude. Também seria difícil que uma experiência pedagógica viabili- zasse por si só todo o projecto, muito menos quando falamos de uma expe- riência realizada apenas em cinco escolas, com um limite temporal bastante reduzido e com falta de apoios financeiros e de todo o tipo.

Houve uma incapacidade ou falta de vontade do sistema em perceber as questões fundamentais inerentes às escolas de área aberta, o que foi levan- do ao levantamento das paredes e ao fim das áreas abertas.

1. Aparecimento do projecto das escolas de área aberta em Portugal