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4 DA POBREZA ABSOLUTA À MULTIDIMENSIONAL: UM DIAGNÓSTICO

4.4. Diagnóstico social: múltiplas dimensões da pobreza nos países do Mercosul

4.4.2. Educação

4.4.2.1. Anos de escolaridade

Assim como afirma Paulo Freire, “Desafiar o povo a ler criticamente o mundo é sempre uma prática incômoda para os que fundam o seu poder na “inocência” dos

0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00%

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explorados” (FREIRE, 2000, p.114).

Posto isso, entendemos que a educação na América Latina adquire um caráter transformador. Não nos referimos à lógica meritocrática vendida pelos meios de comunicação de que a educação seria o único caminho para a superação da pobreza, mas sim à ideia de que a educação pode ser uma ferramenta libertadora que ensina para aqueles que tem acesso a possibilidade de sua emancipação e da emancipação coletiva como seres humanos, em um processo de desalienação e compreensão de sua realidade de modo que possa transformá-la.

A educação nesses moldes pode representar uma ameaça para a ordem estabelecida e para governos que prezam pela manutenção da mesma; por isso, analisar esta variável é fundamental para entender se realmente houve vontade política de mudanças desde a base. Apresentaremos a taxa conclusão da educação primária, secundária e terciária no Mercosul, a partir dos anos de escolaridade, assim como a evolução da taxa de alfabetização entre 2006 e 2018

Gráfico 12. Conclusão da educação primária (pessoas com 15 anos e mais com educação primária completa), 2005 e 2018

Fonte: Elaboração própria. Dados da Cepalstat, disponível em: <https://estadisticas.cepal.org/>. Acesso em: 05 dez. 2020. Os dados da Argentina são referentes aos anos de 2005 e 2019. Os dados da Venezuela são de 2005 e 2014.

Em relação à evolução da conclusão da educação primária de pessoas com 15 anos e mais, os dados indicam que tanto no Brasil (98,40%) como na Venezuela (95,5%) e no Paraguai (94,20%) existiu um aumento da conclusão do nível primário

82,00% 84,00% 86,00% 88,00% 90,00% 92,00% 94,00% 96,00% 98,00% 100,00%

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durante 2005 a 2018. No entanto, se analisamos o Uruguai e a Argentina, podemos ver como diminuiu entre 0,5% e 1% sua taxa de educação primária, respectivamente.

A conclusão da educação secundária de pessoas com 15 anos e mais possui taxas diferentes em cada país do Mercosul. Observamos a partir do gráfico abaixo que o único país que teve uma redução da conclusão da educação secundária foi a Argentina, de 79% em 2005 para 72,30% em 2018. Os demais países apresentaram um aumento de suas taxas, sendo o Brasil (73,9%) e a Venezuela (72,60%), ambos com aumentos expressivos desde 2005, assim como o Paraguai que passou de 44% para 62,7%. No caso do Uruguai houve um aumento de 28% para 41,10%, sendo o índice mais baixo entre a evolução dos outros países do Mercosul.

Gráfico 13. Conclusão da educação secundária (pessoas com 15 anos e mais com educação secundária completa), 2005 e 2018

Fonte: Elaboração própria. Dados da Cepalstat, disponível em: <https://estadisticas.cepal.org/>. Acesso em: 05 dez. 2020.

Apesar dos altos índices de educação secundária, devemos ressaltar que na América Latina como um todo houve um movimento na educação secundária, em que o ensino secundário ao se expandir teve um distanciamento de seu papel como preparatório para o ensino superior, em que as escolas preparam seus alunos para o mercado de trabalho e não necessariamente para o acesso ao ensino terciário (ABDELJALIL, 2006). Este movimento explicaria porque os níveis de ensino superior são tão baixos nos países do Mercosul .

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90%

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Quando analisamos o gráfico da evolução da conclusão da educação terciária ou nível superior como também pode ser chamado, podemos ver que, apesar da grande evolução a partir dos anos 2000, os números continuam reduzidos para a maioria dos países, pois os países não alcançaram os 20%. No Brasil podemos observar o maior crescimento desta evolução; em 2009 segundo o IBGE o país possuía apenas 7% de sua população com ensino superior, em 2014 o país tinha 14% e em 2018 atingiu 17,4%, configurando o maior índice dentre os países do

Mercosul.

Gráfico 14. Evolução da conclusão da educação terciária (pessoas com 20 anos e mais com educação terciária completa), 2014 e 2018

Fonte: Elaboração própria. Dados da Cepalstat, disponível em: <https://estadisticas.cepal.org/>. Acesso em: 05 dez. 2020. IBGE- Brasil, INE- Uruguai, INDEC- Argentina, DGEEC- Paraguai e INDEC- Argentina. Acesso em: 12 nov. 2020.

*Os dados da Argentina são de 2016 e 2019. Os dados do Brasil são de 2010 e 2018. Os dados do Paraguai são de 2014 e 2016.

Ainda assim, entendemos que esta expansão no nível superior não resolveu a enorme inequidade social no acesso à educação superior, em que os jovens de baixa renda ainda são um número reduzido se comparado aos jovens mais ricos dentro das universidades (CEPAL, 2010). Podemos observar que a Venezuela na área da educação esteve muito bem colocada nesta análise dos países do Mercosul, o que pode ser devido aos diversos programas oferecidos pelo governo na área educativa. O sistema de educação escolar venezuelano tem como objetivo corrigir

0,00% 2,00% 4,00% 6,00% 8,00% 10,00% 12,00% 14,00% 16,00% 18,00% 20,00% 2014 2018

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as distorções e a exclusão de todos os que estão à margem do sistema escolar na Venezuela; por isso crianças, jovens e adultos que estão com estudos incompletos são contemplados, pois há vagas para todos em todos os níveis, gratuitamente. As crianças de 0 a 6 anos vão aos projetos “Simoncito” (Educação Infantil, em tempo

integral), crianças de 7 a 12 anos do 1º ao 6º ano podem ir às Escuelas Bolivarianas, também em tempo integral, assim como os para adolescentes e jovens de 13 a 18 anos, podem ir ao ensino médio nos Liceos Bolivarianos, em tempo integral (ZUCK, 2010).

Além disso, no nível superior existe o ensino público na Universidad

Bolivariana de Venezuela, os jovens e adultos que estão fora da faixa etária são

contemplados pela política inclusiva do Sistema Nacional Inclusivo das Missões:

Robinson (alfabetização), Ribas (para continuar a escolaridade e o ensino

profissional) e Sucre (ensino superior) (ZUCK, 2010). Este gráfico sobre a evolução da taxa de alfabetização nos países do Mercosul demonstra que, além dos dados que relevam diversos ganhos sociais durante os governos progressistas, atualmente temos dados que mostram a importância da criação de políticas reais para a alfabetização da população.

Gráfico 15. Evolução da taxa de alfabetização de pessoas de 15 a 24 anos no Mercosul, 2006 e 2018 (em porcentagens)

Fonte: Elaboração própria. Dados da Cepalstat, disponível em: <https://estadisticas.cepal.org/>. Acesso em: 05 dez. 2020.

De modo geral, todos os países aumentaram suas taxas de alfabetização desde 2006, em especifico a Argentina que possui a maior taxa, 99% de alfabetizados entre 15 e 24 anos de idade, assim como o Uruguai, o Brasil e a

84,00% 86,00% 88,00% 90,00% 92,00% 94,00% 96,00% 98,00% 100,00%

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Venezuela que possuem altos níveis de alfabetização.

Devemos ressaltar que seria interessante analisar a porcentagem de alfabetizados acima de 30 anos; no entanto, não encontramos dados comuns para todos os países, o que prova novamente a necessidade de uma base de dados própria do Mercosul. Na plataforma Cepalstat existem estatísticas de pobreza multidimensional a partir de medições nacionais, porém não é possível encontrar nenhum país do Mercosul nestas medições, o que significa que diversos países da América Latina já estão realizando medições multidimensionais da pobreza, enquanto que os países do bloco ainda não aderiram à este método.

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