DATA, HORÁRIO E LOCAL DA ENTREVISTA:
QUESTÃO No 01: Salvador apresenta altos índices de homicídios por 100 mil
habitantes se comparado com os valores considerados aceitáveis mundialmente. A que o senhor atribui isso?
A questão do homicídio e seu crescimento no Brasil é altamente complexa, sendo preciso analisar uma série de fatores. No Brasil, país de extrema desigualdade social, de educação deficitária e programas sociais inócuos, a maioria das capitais apresenta índices de homicídios exorbitantes, tomando por base os valores aceitáveis mundialmente. É bem verdade que a capital baiana, a cada ano, vem ocupando colocação mais elevada no ranking nacional de homicídios. Em 2000, por
exemplo, ocupávamos o 23o lugar no ranking nacional. 10 anos depois, evoluímos
QUESTÃO No 02: Nos últimos anos essa violência letal tem aumentado. Como o
senhor explica isso?
Na verdade, a violência sempre esteve presente na vida do homem. Não houve um só momento na história da humanidade em que se tenha vivenciado um período de paz extrema. Basicamente, tudo gira em torno dos interesses e a forma ou intensidade utilizada para defendê-los. Independente da posição social, pessoas defendem interesses próprios e não raramente conflitantes. Alimentados pelo sistema de que a violência já faz parte do cotidiano do homem, aliado a uma sensação e quiçá certeza de que ‘é fácil safar-se’, as pessoas nao hesitam em matar para defender seus interesses. Quanto mais conflitos e mais certeza de impunidade, mais episódios de barbárie teremos, o homicídio é o pior deles.
QUESTÃO No 03: A violência letal, em especial os homicídios, é diferenciada entre
as diversas áreas de Salvador, sendo bem maiores nas Aisp do Subúrbio e do Miolo da Cidade, tais como a Aisp 5 – Periperi e a Aisp 11 – Tancredo Neves. Por que isso ocorre?
São as duas áreas de maior densidade demográfica, de população mais carente, e de grande extensão territorial.
QUESTÃO No 04: Pesquisas demonstram que a vitimologia dos homicídios
apresenta um perfil constante: jovens (entre 15-24 anos), negros, do sexo masculino e moradores de bairros periféricos. A que o senhor atribui tal perfil?
QUESTÃO No 05: Alguns pesquisadores consideram que a pobreza faz aumentar a
violência. O senhor concorda com isso? Por quê?
Não há dúvida de que o desemprego, a desigualdade social, a falta de saneamento urbano sentida na pele, bem como de políticas públicas que atinjam os menos favorecidos e a falta de oportunidade e lazer são emocionalmente revoltantes. Tais situações são sofridas, invariavelmente, dentre aqueles que compõem as classes sociais menos abastadas. A impossibilidade de ter aquilo que o “rico” tem, aquilo que, midiaticamente, é imposto como ‘necessário’, a impossibilidade de galgar bons
postos de trabalho porque a escolaridade oferecida pelo governo é deficitária é revoltante. A dificuldade em conseguir um lugar ao sol quando se tem uma origem humilde, quando se foi mal alimentado, o que consabidamente interfere no raciocínio e desenvolvimento mental do ser humano, são fatores que revoltam aqueles que nesta situação se encontram.
O que esperar destas pessoas? Que elas simplesmente se acomodem e aceitem sua miséria e seu insucesso? Muitos recorrem à criminalidade, até para se autoafirmar, para de alguma forma marcar seu território, serem respeitados e viverem com alguns luxos impossíveis de se conseguir pelos meios tradicionais. Dados do IPEA corroboram o sobredito. Mais de 10% dos jovens brasileiros vivem em extrema miséria. E, como somos um país jovem e de maioria negra, é de se concluir que a criminalidade ocorrerá com maior frequência entre a população jovem.
QUESTÃO No 06: Outros dizem que a violência e seu crescimento estão ligados ao
avanço do tráfico de drogas, inclusive em Salvador. O senhor concorda com isso? Por quê?
Sim, considerando o binômio criminalidade x violência. Não há dúvidas que a criminalidade aumentou bastante com o avanço do tráfico de drogas. O tráfico de drogas é marcado por sua própria lei, seu próprio método e sua própria penalidade. Desta feita, para manter sua hegemonia o traficante mata aquele que lhe deve, mas não basta apenas matar: é preciso subjugar, agir com crueldade, com barbárie, porque assim se demonstra que a transgressão será punida de forma dolorosa, pois assim vai ser estabelecida a ordem, vai ser conquistado o espaço, vão ser afastados os inimigos e impedir que outros se aproximem.
QUESTÃO No 07: E que outras causas estariam contribuindo para a violência em
Salvador?
Antes de mais nada é preciso esclarecer o seguinte: o problema atual não começa pelo aumento da violência, mas, sim, pelo aumento da criminalidade. A vida moderna, a coisificação do homem, a banalização da violência, a sociopatia, a miséria, a desigualdade social, a falência familiar, o desemprego, a droga e a
vulnerabilidade das instituições fazem com que as pessoas se aproximem mais facilmente do mundo do crime. A conjugação destes fatores faz com que aconteça não apenas a criminalidade, mas potencializa, recheia de tirania a forma como esta criminalidade age. Não há dúvidas de que a criminalidade atualmente está marcada pela violência exacerbada, entender a relação existente entre elas é o grande desafio do século.
QUESTÃO No 08: O que a Administração Pública pode e deve fazer para que essa
violência letal diminua?
É uma questão muito difícil de responder. Trata-se de alterar as políticas públicas urgentemente, disponibilizando boa educação e condições sociais mínimas para evitar o aumento da criminalidade básica. A pobreza e a discriminação aumentam a violência, portanto, devem-se buscar medidas que melhorem as condições socioeconômicas da classe baixa, mas que também atuem na prevenção e repressão da criminalidade.
É preciso desenvolver um elenco de medidas úteis, tendentes a confinar a criminalidade dentro de um patamar preestabelecido e com objetivo atingível, e que esse patamar seja considerado aceitável pelas autoridades públicas e seja suficientemente baixo para não despertar o medo generalizado no seio da população.
QUESTÃO No 09: Acrescente qualquer informação que ache relevante para a