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Escolha comum, todo mundo queria ter feito aquilo Não teve novidade ali Batido.

57 Gráfico de variável agrupada após análise de respostas em aberto à pergunta: “Como é a sua relaç~o com a arte contempor}nea? Tende a gostar? Por quê?”. Houve um caso de missing (1%), de quem não respondeu a questão.

14,1%

39,4%

20,2%

14,1% 12,1%

O fato de mais da metade do público ter afirmado gostar ou gostar muito de arte contemporânea não significa necessariamente que essa parcela seja sua apreciadora legítima ou que aprecie, de forma indiscriminada, a diversidade de obras defendida por esse paradigma; tampouco que estejam abertos à experimentação artística típica da arte contemporânea. É verdade que a opinião pode variar de obra para obra, mas a ideia de gosto, como condição norteadora dos pontos de vista, se configura aqui como algo mais amplo e enraizado, porque está associado à formação do habitus (BOURDIEU, 2008; 1994). Na arte, a expressão do gosto se coloca como defesa a determinado paradigma, mesmo que de maneira “inconsciente”. Acontece que as razões apontadas para tal gostar revelaram o qu~o relativo se mostra esse “amor” declarado às artes visuais contemporâneas, sobretudo se comparado às preferências por artistas e obras, como verei adiante. Isso pode se explicar justamente, porque aqui o gosto atrelado ao termo “arte contempor}nea” se mostrou bastante hesitante, ao contr|rio do gosto atribuído a exemplos concretos. Como eu disse antes, muitos visitantes revelaram não dominar esse “gostar”, associando a arte contempor}nea, por exemplo, { ideia de “atualidade”, { qual eles n~o “deveriam” se opor.

Para compreender melhor essa questão, acredito ser importante analisar os porquês mencionados ao gosto pela arte contempor}nea, de forma geral. As categorias “gosto muito” e “gosto” apresentaram justificativas semelhantes. Nessas respostas, como afirmei antes, uma parcela dos entrevistados disse gostar/gostar muito, porque ela representa o “novo” e o “atual”. No entanto, como defende o crítico de arte e curador Nicolas Bourriaud (2009, p. 15), “o novo n~o é mais um critério”. N~o para o discurso da arte contempor}nea. Além disso, sabemos que existe um consenso reforçado entre seus teóricos (CAUQUELIN, 2005; DANTO, 2006; DUARTE, 2008; HEINICH, 2008; MILLET, 1997; e MOULIN, 2007) de que ela não pode ser concebida a partir da literalidade do termo “contempor}neo” nem da express~o “moderno”. Mesmo assim, Bourriaud (2009) acredita que continuamos (parte da sociedade) a aplicar ao projeto contemporâneo de arte fundamentos próprios do julgamento estético. Não apenas noções da prática internalista de análise da obra, mas referências como essas, atribuídas à ideia de novo, própria da modernidade. Para os entrevistados, o atual também foi associado à noção de que ela “representa”, “retrata” e “mostra” a realidade atual, o que não é bem o que seu discurso defende.

Tudo isso só tende a reforçar mais uma vez o quanto o termo “arte contempor}nea”, cuja assimilação costuma ser ampla, ainda suscita mal entendidos mesmo entre aqueles que afirmam gostar/gostar muito dela, como foi o caso desta pesquisa. Aproximadamente um quarto desta parcela de respondentes considerou a arte contemporânea como expressão do novo e do atual. No entanto, há de se considerar que outra parte dos entrevistados compreendidos nessas duas categorias demonstrou ter algum domínio do seu gostar, ou seja, do discurso da arte contemporânea absorvido por meio do gosto. Foi o caso dos que deram respostas como: “Tendo

a gostar mesmo que não entenda ou sinta algo. A arte contemporânea dessacraliza e eu adoro a dessacralizaç~o. O que eu mais gosto é que te faz sentir outras formas de entendimento” (estudante de design, 27); ou “Gosto sim, porque foge do padr~o estabelecido. As pessoas podem criar com diferentes linguagens, materiais...” (arquiteto, 61); ou ainda “Amo arte contempor}nea, não gosto da antiga. Gosto dessa interação com o público, de se envolver com a obra, é o que me chama mais atenç~o nela” (arte educadora, 25).

Pode-se ver, portanto, que justificativas como as citadas acima carregam aspectos próprios do paradigma contemporâneo, em seu discurso dessacralizador, plural, anticonvencional e interativo (“participativo” ou “relacional”). Algumas pessoas afirmaram até gostar “principalmente das instalações” (auxiliar de oftalmologia, 28), enquanto outras disseram gostar de arte contempor}nea simplesmente porque é “diferente”, “provocativa”, “criativa” e “curiosa”58. Algumas justificativas foram vagas, como “Gosto, s~o formas de express~o”

(estudante do ensino médio, 16), e outras confusas “Gosto, porque passo a descobrir coisas inusitadas, por sair do convencional. Mas não sei se muita coisa que está exposta como arte contempor}nea é arte. N~o sei definir direito. Diria que é o contempor}neo” (publicit|rio, 57).

Na terceira categoria, “Gosto com restrições”, inseri a parcela do público que respondeu gostar de arte contempor}nea com alguns “poréns”, detectados por conjunções e expressões como “mas só quando”, “mas tem que”, “desde que”, “depende”, “gosto com ressalvas”, “mais ou menos” etc. Algumas dessas restrições denunciaram um desejo quase nost|lgico dos entrevistados de fazer a arte contempor}nea ser igual { “moderna” ou à “cl|ssica”, do paradigma essencialista. Ou seja, “gosto” da arte contempor}nea, desde que se pareça com a “antiga” e os mesmo critérios de outrora possam ser aplicados. São exemplos disso as seguintes afirmações: “Depende. Tem coisas que sim, outras que não. Tem coisa que acho banal, que não é arte. Gosto de escultura, de desenho, de arte. Tem muita coisa que n~o é arte. Instalaç~o eu n~o gosto” (arte educadora, 54); ou “Só quando é artístico eu gosto. Quando tem habilidade e intenç~o que traz senso estético e sentimento à tona. Parece que a estética não existe mais. A arte se intelectualiza e esquece a estética, o belo. Por quê? O que é isso?” (professora de física e escultora amadora, 55). Poderia ter inserido os dois casos na categoria “N~o gosto”, mas como isso não foi expresso, não considerei dessa forma. Só que assumir não gostar de instalação, independente de qual trabalho seja, e querer a estética de volta são posições quase incompatíveis com o gostar de arte contemporânea. Por isso, vejo tais restrições como uma certa falta de “coragem” dessas pessoas de assumirem suas preferências. E houve outros casos semelhantes, alguns buscando um sentido

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