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2.2 OS REGIMES POLÍTICOS E SUAS COMPLEXIDADES TEÓRICAS

2.2.4 Escolha racional e a qualidade da democracia

A democracia está diretamente condicionada às instituições políticas, as quais estão orientadas a atuar na racionalização de decisões e maximização de benefícios. A primeira abordagem para fundamentar a relação de interesses presentes na democracia é sedimentar a análise deste regime na escolha racional, sustentada metodologicamente na perspectiva do individualismo metodológico. Esta ancoragem surge contrariando o holísmo metodológico, o qual se baseia na ontologia da totalidade, fundamentando-se na relevância dos indivíduos e de suas intenções.

A adoção do individualismo metodológico para as ciências sociais põe fim a um dilema entre subjetivismo e objetivismo, buscando o sentido que está por trás da ação humana, tornando-a passível de interpretação. Responsável pela cunhagem do termo individualismo metodológico, em 1908, Joseph A. Schumpeter, justificou que as relações econômicas partem de uma análise dos indivíduos, possibilitando, então, a utilização do método para outras ciências.

Society as such, having no brain or nerves in a physical sense, cannot feel wants and has not, therefore, utility curves like those of individuals. Again, the stock of commodities existing in a country is at the disposal, not of society, but of individuals; and individuals do not meet to find out what the wants of the community are. They severally apply theirs means to the satisfaction of their own wants. Theory does not suggest that these wants are necessarily of an exclusively egoistical character. We want many things not for ourselves, but for others; and some of them, like battleships, we want for the interests of the

community only. Even such altruistic or social wants, however, are felt and taken account of by individuals or their agents, and not by society as such. For theory it is irrelevant why people demand certain goods: the only important point is that all things are demanded, produced, and paid for because individuals want them. Every demand on the market is therefore an individualistic one, although, from another point of view, if often is an altruistic or a social one. (SCHUMPETER, 1984, p. 215)

Para melhor compreender o individualismo metodológico é prioritário entender que a explicação de um fenômeno social, leia-se aqui os fenômenos presentes em estruturas democráticas, concretizam-se quando a explicação dos fatos que conduziram ao fenômeno são capazes de permear no propósito que direcionou o agente para realização de sua ação. Ou seja, o indivíduo passa a ser o cerne da análise da democracia. Sendo as democracias mais ou menos robustas a depender dos resultados da interação de propósitos dos agentes envolvidos nas estruturas institucionais.

Mahoney e Snyder (1999) trazem a ideia de um ponto mediano entre a estrutura e a agência22. Os autores atribuem os seguintes valores: a análise das estruturas estaria numa esfera macro; e a do comportamento (agência) numa esfera micro – buscando através da meso análise a interação ou mediatriz entre essas duas esferas, ao que eles denominam de integração estratégica. A partir desse ponto de convergência, os autores apresentam as instituições dotadas de poder para induzir as preferências, bem como, as preferências dotadas de poder para induzir os moldes institucionais.

Evidenciando, desta forma a associação entre relação interativa - agência- estrutura, proposta por Mahoney e Snyder (1999). A estratégia de integração entre estrutura e agência torna factível o entendimento das ações coletivas, estruturas sociais, comportamentos individuais e os mecanismos -observáveis e não observáveis – leia-se formais e informais - que possibilitem essas manifestações através das instituições.

Logo, não só a interação de propósitos dos agentes faz-se fundamental na análise democrática, mas também a ordem estruturada; marcada por normas e regras que regem a estrutura macro, e por sua vez irão oferecer incentivos ou constrangimento aos agentes para a feitura de suas ações. Essa desagregação de

22 Referência a obra dos autores: Mahoney, James; Snyder, Richard. Rethinking Agency and Structure in the Study of Regime Change. Studies in Comparative Intenational Development. Summer. 1999

componentes permite elaborar níveis desagregados e individuais de análise, possibilitando uma interpretação mais próxima da realidade.

A teoria da ação definida pela escolha racional não enfoca a perspectiva de as crenças ou fatos sociais resultarem de processos históricos ou estruturais, preferindo ressaltar a relação de desejos pessoais com os limites do ambiente externo, o que leva o indivíduo a determinar uma escala de preferências frente ao contexto de transações que se apresenta-lhe. (CARVALHO, 2010, p.111)

Embasando-se no individualismo metodológico é que se faz possível iniciar a amplitude de relações possíveis entre os níveis micro (agente/ indivíduo) e macro (estrutura / instituições) por meio da escolha racional. É fato que essa correlação entre estruturas não é tão simples quanto parece, e certamente tem sido um grande desafio aos estudiosos da democracia minimalista, mas alguns modelos estão sendo utilizados de maneira satisfatória a fim de explicar a manifestação de determinadas ações políticas em sistemas caracterizados como democracia.

Dentro dessa pluralidade de conceitos para a democracia, este trabalho será construído considerando os ideias de Zaverucha (2006) e Mainwaring et al (2001), no qual além das questões eleitorais são também analisadas as dimensões de proteção aos direitos humanos por meio das garantias civis e políticas e a ausência de controle ou “interferência” de militares em governos civis. Isto porque não se faz possível falar num processo de Justiça de Transição, que busque o Direito à Memória, à Verdade e à Justiça, sem que sejam contemplados os ideias dos Direitos umanos e o fim dos legados autoritários. Ou seja, para a consolidação democrática faz-se preciso que não haja nenhum tipo de violação às proposituras de codificação e agregação de Mainwaring et all (2001).