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2.2 ESTUDOS EMPÍRICOS SOBRE A ESCOLHA DO CURSO SUPERIOR

2.2.1 A escolha do curso superior

O processo de escolha de um curso superior ou de uma profissão é complexo, já que esta é uma das decisões mais importantes a serem tomadas pelos indivíduos (KOCH; NAFZIGER; NIELSEN, 2015; LAVECCHIA; LIU; OREOPOULOS, 2015), e os seus resultados impactam em diversos fatores ao longo da vida, entre os principais estando renda, satisfação, felicidade futura e empregabilidade. (BAKER et al., 2018; HILMER; HILMER, 2011; SCOTT-CLAYTON, 2011).

Para estudantes do ensino superior, a escolha da profissão está fortemente associada ao seu curso de graduação, já que a formação no curso representa um investimento substancial em capital humano. (WISWALL; ZAFAR, 2014). A compreensão sobre como é realizada essa escolha tem sido objeto de estudos na literatura recente, inclusive na tentativa de criação de modelos que buscam generalizar essa tomada de decisão.

Wiswall e Zafar (2014), após experimento realizado na New York University com 488 alunos, formulam um modelo de determinação do curso superior que incorpora as expectativas e crenças dos estudantes sobre suas habilidades, sobre os cursos disponíveis e sobre os efeitos destes em suas vidas (e nas de outros indivíduos) após a graduação.

Segundo o modelo, os estudantes escolherão um dos K cursos disponíveis no mercado (k = 1,…, K) e, no período t = 0, aqueles que ainda não fizeram uma escolha de curso recebem um choque de preferência, tomam uma decisão e então passam pelo curso. De t = 1 em diante, o indivíduo faz o restante das escolhas de sua vida, como oferta de trabalho e casamento. A utilidade esperada em t = 0 para cada curso é dada por:

= + ln +η + , (1)

Onde representa as preferências ou gostos dos estudantes por cada curso. Esses gostos podem ser relacionados às atividades ou aspectos particulares do programa.

O elemento ln é um mapeamento das próprias habilidades percebidas pelo estudante, para o curso considerado. Os autores esperam que > 0, refletindo o fato de que maiores habilidades em um determinado curso resultam em maior desempenho nas atividades de aula, diminuindo o esforço necessário para se completar a graduação. O elemento seguinte, η , representa o choque de preferência ocorrido entre o período anterior à escolha e o período em que a decisão foi tomada. Seria, então, o choque que leva o agente à definição do curso. O termo , representa a utilidade esperada após a graduação, e incorpora crenças quanto à renda proporcionada pela formação no curso, ofertas de emprego, oportunidades de casamento etc.

Como determinado na teoria microeconômica, os indivíduos escolherão o curso que maximiza sua utilidade esperada, sendo que isso se dará no tempo t = 0:

= max { . , … , , }.

Os resultados do experimento proposto pelos autores evidenciam que, apesar de a renda esperada ser significante na escolha do curso, os gostos e preferências sobre aspectos do programa ou atividades realizadas nos empregos relacionados formaram o principal determinante da decisão do curso. (WISWALL; ZAFAR, 2014). Isso vai ao encontro de outros resultados encontrados na literatura. Um estudo em larga escala conduzido com universitários chilenos (HASTINGS et al., 2016) mostrou que, dentre a amostra, 84,1% dos estudantes listaram o gosto pelas atividades exercidas na profissão relacionada ao curso entre as três principais prioridades na escolha da graduação. Os ganhos futuros estiveram entre os três principais determinantes para 29% dos estudantes, enquanto 43,5% listaram perspectivas de empregabilidade como um fator relevante na decisão. (HASTINGS et al., 2016). Outros estudos encontrados na literatura internacional apresentam resultados similares. (BAKER et al., 2018; RUDER; VAN NOY, 2017).

No Brasil, Martins e Machado (2018) conduziram um estudo empírico, a partir de dados coletados dos Censos Demográficos e das Sinopses do Ensino Superior de 2000 a 2010, com o objetivo de analisar a escolha dos estudantes pelo curso superior no Brasil. Seus resultados indicam que os indivíduos com renda per capita mais elevada são mais influenciados pelos rendimentos esperados de cada curso, apesar de os retornos do início da carreira serem importantes para toda a amostra analisada, independente da renda per capita. Além disso, cursos com níveis de concorrência mais altos tendem a influenciar negativamente os candidatos de menor renda.

Percebe-se que compreender a escolha do curso superior é uma das preocupações da literatura econômica internacional e nacional. Tal atenção é justificada pelos impactos socioeconômicos que essa escolha traz à sociedade. Robst (2007), a partir de uma amostra de mais de cem mil indivíduos, examina se o campo de estudo dos participantes está diretamente relacionado com seus empregos. Apenas 55% dos indivíduos declararam que seu emprego e curso superior estão relacionados, enquanto 25% reportaram que a relação é parcial, e 20% que não há relação alguma. Os resultados do estudo apontam que indivíduos empregados em ocupações não relacionadas ao seu curso superior recebem salários menores em

comparação àqueles em que há alguma relação. Isso mostra um problema de ineficiência nos retornos do investimento realizado na educação (ROBST, 2007).

Somado aos problemas de incompatibilidade entre área de atuação e campo de estudo, há o risco de que um erro na escolha do curso possa levar à evasão do aluno, um fenômeno que traz graves ineficiências para a sociedade, tanto nos setores público quanto privado. (CASTRO; TEIXEIRA, 2014; COSTA; BISPO; PEREIRA, 2017; CUNHA et al., 2015; PEREIRA, 2003; SILVA FILHO et al., 2007).

A literatura tem tentando compreender fatores que possam atrapalhar o processo de decisão, levando a erros ou a escolhas não ótimas. Smith (1988) apresenta evidências de que os usos das heurísticas da disponibilidade e da representatividade têm um papel significativo na escolha da instituição de ensino. Não é difícil imaginar que a escolha do curso possa também sofrer impactos de fenômenos semelhantes. De fato, estudos empíricos – alguns dos quais serão apresentados a seguir – mostram que as expectativas dos estudantes quanto aos seus cursos, principalmente em termos de custos e retornos financeiros, não são bem alinhadas com a realidade. Outro problema é o de que normalmente a escolha pelo curso é feita sob um estado de indecisão, ansiedade e stress por parte de jovens adultos, o que os leva a tomar decisões precipitadas.

Estes fatos indicam que estudantes estão propensos a realizar escolhas não ótimas, devido a expectativas viesadas e ao uso de heurísticas. Além disso, um maior conhecimento sobre o curso e o mercado de trabalho pode ajudar a corrigir as expectativas, bem como reduzir a indecisão e aumentar o preparo para a escolha. Esses aspectos serão estudados a seguir.