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3. METODOLOGIA

3.1. Escolha de variáveis financeiras

De acordo com a análise sobre tendências de pesquisa em avaliação desempenho de cooperativas (item 2.5) e uma vez selecionado o construto “análise contábil-financeira” como forma mais usual de avaliação de desempenho em cooperativas agropecuárias, é preciso desconstruí-lo em variáveis mensuráveis. Cada um entre os estudos citados utilizou um subconjunto de variáveis de avaliação financeira diferente, conforme as especificidades de seus objetivos, e, consequentemente, não há uniformidade nos mesmos, de modo que se demonstra uma fragmentação de conceitos econômico-financeiros em foco. Por outro lado, não se pode escapar de tais índices, e como afirma Iudícibus (2010), é por meio da análise de balanços e da extração de significado de tais valores por intermédio de índices que se possibilita a avaliação da situação econômico-financeira de uma empresa.

Diversos autores afirmam que a avaliação financeira de uma empresa parte da interpretação do tripé composto pelos índices de liquidez, de endividamento, de rentabilidade (KAPLAN; NORTON, 1992; BARNEY; HESTERLY, 2007; NIKBAKHT; GROPPELLI, 2010) além de eventualmente incluir outros conforme a análise

proposta. Marion (2012) reforça as relações internas entre estes três conjuntos, de forma que afirma ser improdutivo excluir um ou mais destes quando da avaliação. Contudo, Carvalho (2008) adverte que, ainda que sujeitas aos mesmos instrumentos de avaliação contábil (balanços e demonstrativos de resultados), a avaliação de cooperativas deve levar em conta os seus objetivos próprios. Assim, segundo o autor, rentabilidade deve ser entendida de forma que a medição seja no quanto de rentabilidade é produzida para o cooperado.

Para critério deste trabalho, e considerando a atomização do poder de decisão, barganha e manobra do cooperado na estrutura cooperativa, em especial conforme o número de cooperados aumenta, considerou-se a rentabilidade da cooperativa como em uma empresa comum. Carvalho (2008) afirma que no Brasil a média de cooperados das 25% menores cooperativas é em torno de 60 cooperados, enquanto nas 50% médias sobe para aproximadamente 600 cooperados e nas 25% maiores, cerca de 4000 cooperados. É então razoável supor que, ao menos para 75% das cooperativas que têm um grande grupo de cooperados, esta análise seja concebível. Finalmente, Carvalho e Bialoskorski Neto (2008) analisaram o desempenho de cooperativas agropecuárias no estado de São Paulo utilizando a análise fatorial e chegaram à conclusão de que os três grupos de indicadores financeiros que mais têm impacto na avaliação financeira de tais cooperativas são essencialmente os mesmos do tripé tradicional (lucratividade-rentabilidade, liquidez e endividamento).

Desta forma, foram selecionados os seguintes índices financeiros – Receita Operacional Líquida (ROL), Retorno sobre Vendas (ROS), Retorno sobre Capital Empregado (ROCE), Índice de Liquidez Corrente (ILC) e Nível de Endividamento (END) – como variáveis de avalição de cooperativas agropecuárias. Ou seja, selecionou-se uma variável para comparar porte (ROL), duas variáveis para o desempenho direito de quanto a empresa produz por meio de seus fatores produtivos estruturais (ROS e ROCE), além dos restantes END e ILC para compor a análise tradicional financeira. As variáveis, bem como suas fórmulas, podem ser observadas conforme ilustra o Quadro 4.

A Receita operacional líquida (ROL) é a medida mais básica entre as selecionadas e seu objetivo é medir o porte de cada cooperativa selecionada. Os dois índices seguintes são o Retorno sobre Vendas (ROS) e o Retorno sobre Capital Empregado (ROCE), representando respectivamente a lucratividade e a rentabilidade. Os índices de rentabilidade auxiliam na interpretação do desempenho

geral da empresa em especial na sua capacidade de geração de lucro e na remuneração que o negócio faz do capital investido. Estes índices auxiliam a compreensão da situação global do negócio e são os que mais interessam aos sócios (VASCONCELOS, 2005), sendo de vital importância para o entendimento da ligação entre o desempenho e seu substrato produtivo.

Quadro 4 – Índices financeiros

Sigla Fórmula ROL ROS ROCE ILC END

O Retorno sobre vendas (return on sales – ROS) é uma medida útil na avaliação de desempenho da empresa ao demonstrar o quanto de lucro é gerado por unidade monetária de venda. Geralmente um ROS alto demonstra maior eficiência por parte da empresa na geração de lucro. Comparativamente, o Retorno sobre capital empregado (return on capital employed – ROCE) demonstra como a empresa remunera o capital empregado por seus sócios ou cooperados. Isto é, um ROCE baixo indica para o acionista, no caso cooperado, que a cooperativa não está remunerando adequadamente o capital por ele investido .

Os índices seguintes são o Índice de Liquidez Corrente (ILC) e o Endividamento (END) que completam o tripé. O primeiro, representando os índices de liquidez, tem como propósito a avaliação da empresa em relação à capacidade desta em cumprir com suas obrigações. O Índice de Liquidez Corrente considera esta situação em curto prazo, o que leva a crer que quanto maior seu índice, melhor a liquidez da empresa. Para Matarazzo (2010), este índice tem a dupla função de indicar a margem de manobra da empresa e margem de segurança da mesma. Para Agustini (1999), este índice pode ser entendido como mostrado no Quadro 5.

Quadro 5 – Índice de liquidez corrente e capital de giro Liquidez Corrente Capital de Giro

= 1 Nulo

> 1 Próprio

< 1 De terceiros

Fonte: Agustini (1999).

Por fim, o último dos indicadores financeiros é o Endividamento (END). Este índice indica a dependência de capital de terceiros na operação e obtenção de recursos da cooperativa. O endividamento em si não pode ser puramente delimitado como negativo ou positivo, uma vez que depende do seu propósito: a presença de capital externo como fonte de recursos para investimento é considerado como interessante enquanto que capital de terceiros usado para saldar dívidas apresenta um risco considerável. De qualquer forma, este capital precisa ser pago eventualmente e representa um compromisso futuro a ser encerrado.

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