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Esses educadores, tidos como bem-sucedidos, manifestam capacidade interior muito singular de fazer escolhas em face das inúmeras possibilidades e/ou impossibilidades da vida na atualidade. Todos eles falam de escolhas bem feitas, da arte de conjugar estudo e trabalho, como é o caso da educadora um, ao afirmar:

Minha opção pelo magistério foi oportuna. Naquela época era possível realizar duas graduações em um mesmo período: eu fazia a licenciatura e o bacharelado conjuntamente. Trabalhava e estudava na universidade; realizava trabalhos próprios de quem tem o Ensino Médio. E fui secretária em um consultório.

Posso dizer que, no decorrer de suas falas, ficou evidente que eles fizeram escolhas geradoras de vida, direcionaram esforços no sentido de potencializar a promoção e a dignidade humana. Retomo Frankl (1978, p. 231): “Nunca alguém poderá dizer de si mesmo “sou aquele que sou”, apenas “sou aquele que chegarei a ser”, ou “serei o que sou” – “serei actu”, segundo a realidade, o que sou potentia, segundo a possibilidade” [grifo do autor].

As escolhas feitas geram crescimento. Fatores de ordem familiar, pessoal e estudos acadêmicos são apontados pelos educadores entrevistados como os que mais lhes proporcionaram crescimento ao longo de suas trajetórias. Vejamos como essas forças se mostram na vida desses educadores.

Os estudos formais são motivo de satisfação e orgulho para o educador dez, especialmente considerando sua situação econômica originária. Após passar por longas dificuldades, é o primeiro filho que chega a um diploma de Curso Superior:

Na época da minha formatura, minha mãe estava sofrendo de um câncer. Ela conseguiu assistir à formatura; são coisas pequenas que não saem nunca da mente. O orgulho que ela estava sentindo naquele dia e o ter proporcionado isso a ela, é uma coisa que até hoje, quando falo, fico emocionado, foi uma satisfação muito grande.

Vários fatores proporcionaram a esse educador, crescimento ao longo de seus anos. Dentre eles destaca: “Com relação ao lado pessoal, foi ter casado, foi ter

filhos, três filhos que são o maior motivo de alegria que tenho”. Quanto ao lado profissional, salienta seus êxitos nos estudos, os quais lhe garantiram o trabalho na empresa e na docência: “Quando eu quero algo, tento atingir esse algo e vou até o final”.

O foco da resposta da educadora sete está em sua opção profissional e seus estudos até chegar ao doutorado, que lhe abriu portas e muito lhe ajudou a ser profissional. O educador seis recorda seus sonhos desde a infância.

Eu sempre tive sonhos; minha mãe sempre fala que, quando eu ainda era pequeno e ela me perguntava: o quê você quer ser quando crescer? E eu dizia que queria ter minha casa, minhas coisas... sempre se tratava de uma coisa muito minha de ir buscar. Cresci com isso, e assim hoje me dá satisfação de ver que tenho uma casa que eu construí; minhas conquistas [...].

O estilo pessoal é considerado pela educadora um seu maior fator de crescimento ao longo de sua trajetória. Define-se como pessoa inquieta: “acho que tenho um mundo de coisas para conhecer e tenho uma admiração que me deixa besta quando vejo pessoas que conhecem algumas áreas que eu não conheço”. Aposta em seu gosto pela leitura e investigação como caminho para o crescimento pessoal. Afirma ainda: “Sou uma pessoa privilegiada; tive o privilégio de ser de uma família pobre, ter podido estudar, porque meu pai valorizava isso”.

As oportunidades recebidas pelo educador oito, bem como o aproveitamento dessas oportunidades levou-o a ascender em sua trajetória de vida: “No meu caso, por exemplo, a oportunidade foi tudo para mim. Porque com 17 anos de idade, cheguei de carona num caminhão a Porto Alegre, para tentar ganhar a vida”, e, brevemente, conseguiu seu primeiro emprego na capital. Alia oportunidade à criatividade para deixar de trabalhar em supermercado à noite, e passar a serviços bancários diurnos, condição esta que lhe possibilitou retomar os estudos à noite. Vejamos sua atitude criativa:

Mandei uma carta: Olha é o seguinte, preciso de uma oportunidade para trabalhar, sei que vocês pagam melhor e tem um horário mais flexível, eu venho de fora, etc. Essa carta foi parar na agência central do Banco X em Porto Alegre e foi cair na mão de um gerente de bom coração. Ele olhou aquilo. Cheguei em casa do trabalho lá pela meia-noite, morava com uma tia, nessa época, e ela me estava esperando acordada. Cheguei, e ela me

disse: senta aí, quero saber o que você andou fazendo. Ela complementou: Chegou um telegrama te chamando para comparecer em uma agência de um Banco. O quê você andou fazendo lá? Disse a ela que não se preocupasse, e contei a história que ela desconhecia [...] Quando me formei fui lá nesse gerente aposentado, descobri que ele morava em Viamão, e fui convidá-lo para a minha formatura, ele chorou e foi à minha formatura.

A aposta da educadora três centrou-se na leitura intensiva ao longo da vida, juntamente com

[...] muito diálogo na família e com outros profissionais, procurando saber o que as pessoas estão fazendo, como elas estão lidando com as coisas. Também para saber de experiências que deram certo, e outras que não deram certo, para ter uma noção de como agir.

Dois grandes fatores de crescimento são destacados pelo educador dois: a educação e a formação que vieram da família e da escola, ao que acrescenta, o fator pessoal: ambição por obter êxito profissional e na docência.

O constante crescimento é destaque na narrativa da educadora nove, crescimento resultante especialmente das aprendizagens advindas de crises e momentos difíceis da vida. Vê as crises como

[...] oportunidades para nos reposicionarmos perante a própria vida. O quê eu fiz? Bem, acredito que fiz e continuo fazendo. Tenho fé e gosto de viver, tenho objetivos e sonhos a concretizar, adoro aprender e conhecer coisas que ainda não sei, tenho uma família maravilhosa. Para mim isto tudo é indício que estou em pleno crescimento em todas as áreas, sejam elas a espiritual, a cognitiva ou a afetiva.

O somatório de vários fatores, com destaque para os desafios, é o responsável pelo crescimento do educador cinco. Para ele: “O desafio é uma realidade que nos instiga, nos motiva para vencer, nos dá um prazer muito grande”.

O maior crescimento e a maior gratificação vivenciados pela educadora quatro provém da alegria proporcionada aos alunos que passam por sua vida. Com estes, procura deixar marcas de gratidão e colaboração, para ajudá-los a se desenvolverem como pessoas, orientando-os para seus projetos de vida: “impulsioná-los para que andem, caminhem”.

Com base no exposto, reitero o protagonismo da pessoa nas escolhas e caminhos a serem seguidos. No entanto, lembro que as escolhas que cada pessoa faz, geralmente podem trazer implicações, principalmente para a vida daqueles que fazem parte do círculo vincular de cada um, seja este constituído por pessoas ou por instituições.

Essa realidade me lembra Sartre (2004, p. 224) quando com propriedade afirma: “A escolha é possível num sentido, mas o que não é possível é não escolher. Posso sempre escolher, mas devo saber que se eu não escolher, escolho ainda”. Esta afirmação do autor me ilumina a reflexão sobre as opções que cada pessoa realiza no decorrer de sua vida. De certo modo, elas refletem as crenças, ideais, valores e convicções que são balizadores e estruturantes no desenvolvimento da pessoa.

Considero essencial, para uma personalidade saudável, seja do educador ou de qualquer pessoa, o desenvolvimento da capacidade de fazer escolhas e de alegrar-se com as escolhas feitas. Escolhas não como atos intempestivos, mas como atitude consciente, reflexiva e pautada por valores atitudinais. Escolhas que fazem crescer participam de um modo de ser constituído por valores criativos, vivenciais e atitudinais.

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