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Com o início do ano letivo e da época desportiva em muitas famílias começa a escravatura do tempo.

Consoante os gostos e possibilidades, para além das horas definidas para entrar e sair das aulas, muitas vezes ainda existem treinos, explicações, escolas de línguas, conservatório, atividades extra curriculares, trabalhos de casa, etc. A estes podem juntar-se, no fim de semana, as competições desportivas, as festas de aniversário, as atividades religiosas e culturais, etc.

Há pais que dizem que, seja durante a semana, seja ao fim de semana, uma boa parte do tempo estão a fazer de motoristas para evitar que os filhos percam muito tempo em deslocações a pé ou de transporte público.

Se mapearmos as atividades diárias e semanais que muitas das nossas crianças e jovens têm, é provável que constatemos que existem muito

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poucos “tempos livres”. Isto só por si não deve ser assumido como negativo.

Contudo, se pensarmos que por um lado muitas destas atividades são impostas e que, por outro lado os horários são muito pouco flexíveis, ou melhor, na esmagadora maioria das vezes são fixos e imutáveis, já o panorama pode ficar mais negro…

Será que já nos questionamos, por exemplo: - Porque que é que os horários escolares (do ensino básico ao universitário) são tão pouco flexíveis e os alunos têm tão poucas hipóteses de optar pelas disciplinas e pelos horários que querem? - Porque é que os horários dos treinos, mesmo quando existem treinadores a tempo integral, instalações e transporte disponíveis durante quase todo o dia, continuam a ser concentrados ao fim da tarde/noite, mesmo que os alunos tenham manhãs ou tardes sem aulas? - Porque é que os alunos ou os seus pais sentem a necessidade de recorrerem às explicações nas mais variadas disciplinas (essencialmente naquelas onde há exames)? - Porque é que o voluntariado e o empreendedorismo (do ensino básico ao universitário) têm uma expressão tão residual?

Certamente que estas questões podem ser analisadas sobre diferentes prismas e formas, mas talvez um aspeto nuclear seja a necessidade que deve existir de questionar porque é que as coisas são de determinada forma, se têm de ser assim, se não haverá formas mais eficientes e rentáveis de as fazer?

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No que respeita ao sistema educativo e ao sistema desportivo não será estranho que, no essencial, toda a sua estrutura organizacional e o processo pedagógico predominante continuem a ser basicamente os mesmos ao longo de décadas?

Parece-nos desejável e necessário que se explorem alternativas. Há conhecimento e meios disponíveis. Há projetos bem estruturados e cujos primeiros resultados concretos configuram experiências de sucesso.

Talvez seja compreensível que, quando se “bate no fundo” e as disfuncionalidades são tão grandes, se tenha o pensamento daquele deputado brasileiro cujo slogan era “vota no Tiririca que pior não fica” e dessa forma se queira justificar qualquer mudança. Porém, não devemos confundir projetos-piloto com aventureirismos.

Não basta agitar a bandeira da mudança para que tudo seja permitido. É essencial que, no mínimo, se estabeleçam muito bem quais são os objetivos a atingir, quais os recursos necessários, como será monitorizado o processo e como se avaliarão os resultados.

É necessário prestar contas numa lógica de custo-benefício que não se resuma à vertente económico-financeira de curto prazo. Se há mais-valias a diferentes níveis é necessário que as mesmas sejam apresentadas e quantificadas, mesmo que a unidade de medida não seja o “euro”.

“Zona de conforto”

(10-11-2015)

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Será que cada um de nós conhece e utiliza intencionalmente a sua zona de conforto? Tem consciência das vantagens e desvantagens que a mesma proporciona? Tem noção se esta se tem mantido ou modificado ao longo do tempo, por exemplo em função da alteração das suas capacidades e competências, ou do próprio contexto? Sabe se essa estabilidade ou modificação foi planeada ou simplesmente fruto da inércia ou de “fatores aleatórios”?

É que para evoluirmos temos de alargar os limites mínimos e máximos. Para que isso aconteça, muito provavelmente, em certas alturas e momentos temos de sair da nossa zona de conforto (do quadro de referência que utilizamos, das nossas rotinas, do que fazemos ou deixamos de fazer, da forma como nos relacionamos com os outros, etc.), temos de correr riscos, expormo-nos, apresentar e discutir ideias e propostas, tomar posições, fazer novos investimentos (não apenas económico-financeiros, mas também, emocionais, educacionais, culturais, físicos, etc.).

Contudo, não basta ter vontade e querer, é preciso saber quando sair. É necessário planear e calcular os riscos, por exemplo, em função dos objetivos visados, dos meios e do tempo que dispomos. O aventureirismo ignorante ou irresponsável e a desonestidade são, em boa medida, os grandes responsáveis pelas disfuncionalidades com que diariamente nos confrontamos nos mais variados âmbitos da nossa vida privada e profissional.

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Em abono da verdade também não nos devemos esquecer que a zona de conforto de alguns é a intriga, a inveja, a guerrilha, o boato, o anonimato por detrás do teclado…É assim que se sentem realizados… Há que reconhecer que, mesmo para a “desonestidade de alto nível”, é necessário ter grandes capacidades e competências. É pena que estas não sejam utilizadas de forma mais produtiva…

A um outro nível, a título de exemplo, na competição desportiva, temos de saber (e treinar, embora isso seja o mais difícil) se, com determinados adversários, os devemos forçar a sair da sua zona de conforto, pois isso irá fragilizá-los, ou se pelo contrário queremos que eles se mantenham lá o maior tempo possível, pois quando arriscam sair ou a isso são obrigados, normalmente superam-se utilizando “na plenitude” as suas capacidades e competências.

Reiteramos que na Educação e no Desporto (e em tantas outras áreas), se não sairmos da zona de conforto (por exemplo, os professores/treinadores e os alunos/desportistas), é bem possível que estejamos a condicionar e mesmo a impedir o completo desenvolvimento das capacidades e potencialidades de cada um.

Os dirigentes da escola e do clube, os professores e os treinadores, os alunos e os desportistas, sem esquecer os encarregados de educação, a comunicação social e o público em geral, como é que lidam com a inovação (uma certa forma de sair da zona de conforto individual e coletiva)? Como lidam com a procura de novas respostas para os problemas que se levantam?

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Porque será que o insucesso é social e culturalmente mais penalizado quando se tentou inovar do que quando se fez o que é habitual?

Por mais que coloquemos a cabeça na areia ou assobiemos para o lado e tentemos sobreviver na nossa zona de conforto, o mundo muda e continua a mudar. A maioria das respostas que utilizámos no passado já não são as mais adequadas para resolver os problemas de hoje e muito dificilmente ajudarão a “enfrentar o futuro”. Antes pelo contrário … por isso …

Gerir equilíbrios …