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CAPÍTULO II O SURDO NA ESCOLA

2.7 A ESCRITA NO ENSINO DE LÍNGUAS

“A escrita deve ser incorporada a uma tarefa necessária e relevante para a vida.”

No mundo, várias línguas faladas, não possuem símbolos gráficos correspondentes, expõe Penteado (1969, p.215). Nas civilizações primitivas, a memória das pessoas era o único modo de conservar a palavra. Essa memória individual impregnava-se na memória social feita de tradições e costumes, transmitidas por intermédio de lendas. O patrimônio social vivia na dependência da continuidade do ser humano.

A invenção da escrita proporcionou uma nova idade mental para o homem. Com ela, consolida-se a palavra e o homem passa a se tornar menos dependente da tradição oral de transmissão de conhecimentos. Porém, atualmente existe uma diferença entre o homem primitivo e o homem contemporâneo.

Segundo o mesmo autor, os homens primitivos desenhavam animais e para os contemporâneos o desenho não passa de simples representação. A primeira escrita pictórica foi considerada mágica, os sinais eram considerados de origem divina e o que significavam só podiam ser revelados aos iniciados. E foram encontrados em localização quase inacessível, de uma caverna descoberta na França repleta de magníficos desenhos, da mais remota antiguidade e era a demonstração de serem templos, lugares de culto e magia, onde os primitivos desenhavam homens e animais para que os mesmos ficassem ali, vigiando ou sendo adorados. As palavras de seus deuses eram gravadas nas tábuas da lei. Os sacerdotes foram os primeiros letrados, capazes de ler e interpretar as palavras escritas por inspiração divina.

A Bíblia e outros livros sagrados das religiões são originários desse período secreto da escrita, onde escrever era uma restrita concessão especial concedida somente para alguns e estes eram os únicos capazes de ler.

Posteriormente, no século XVI, com a invenção da imprensa, a escrita passou a ofertar aos homens o acesso direto aos fatos ocorridos, causando violentas guerras religiosas, assim que a Bíblia foi traduzida na Europa. Nós vivemos atualmente tempos da civilização, da palavra escrita a qual veio dar uma nova e revolucionária dimensão à palavra falada, transmitida oralmente por tradição. A escrita permite à humanidade ter um extraordinário progresso. (PENTEADO, 1969, p. 218).

A escrita junto com a leitura, forma parte do conceito básico de alfabetização, e esta é entendida não apenas como a capacidade do indivíduo de codificar e decodificar textos, mas como um conjunto de práticas sociais contextualizadas histórica e culturalmente para criar e interpretar significados por meio de textos. (KERN, 2000)

Com relação à escrita no ensino de línguas, o pesquisador Matsuda (2003, pp.16-17) expõe que, esta foi possivelmente negligenciada desde o início, provavelmente devido à

predominância do método Audiolingual. E mais precisamente nos Estados Unidos entre os anos de 1940 e 1960, devido aos trabalhos de Leonard Bloomfield e Charles C. Fries. Pois, para oferecer instrução da língua inglesa para o desenvolvimento de materiais pedagógicos para os estudantes falantes de espanhol do English Language Institute (ELI). O ELI foi o primeiro programa intensivo de ensino de língua pela Universidade de Michigan criado em 1941. O programa contou com a contribuição de Charles C. Fries como diretor. Com o fim da segunda guerra mundial, o ELI expandiu-se promovendo instrução a nível internacional. Fries supôs na época que os estudantes seriam capazes de escrever assim que dominassem a estrutura e os sons da língua-alvo. O ensino da escrita não foi uma parte significante do Ensino de L2.

Para Harklaw (2002), a escrita deve desempenhar um papel proeminente nos estudos de aquisição de L2/LE em contextos de sala de aula e que se bem é importante pesquisar como os alunos aprendem a escrever (a escrita como objeto de aprendizagem.

Conforme Bourhis (1996, pp. 144-145), Gardner em 1983, afirmou que diferenças individuais poderiam influenciar diretamente na proficiência bilíngüe, como por exemplo, a inteligência, a aptidão lingüística, motivação e as situações de ansiedade. E também dependerá das experiências situacionais que o aprendiz irá enfrentar (situações formais ou informais).

Segundo o mesmo autor (op. cit), Culmmins et.al., em 1987, pesquisaram e concluíram que, um contexto de pesquisa ideal para validar e testar as proposições de Gardner era em grupos lingüísticos minoritários que não tivessem escolha em decidir se querem ou não aprender a língua que a maioria populacional domina.

Para Raimes (1983, p.3), quando nós aprendemos umaL2, aprendemos para nos comunicar com outras pessoas, para compreendê-los, falar, ler o que eles têm escrito e escrever-lhes. A autora (op. cit, p.4) explica que escrever pode ajudar nossos alunos a aprender, reforçar o vocabulário e as estruturas gramaticais da língua-alvo ensinada pelo professor regente. Eles têm a possibilidade de se aventurar e de arriscar escrevendo a língua- alvo, para irem além do que aprenderam a falar. Envolvem-se, esforçam-se para expressar as idéias. Como se esforçam com a adequação do conteúdo e com a forma, descobrem freqüentemente algo novo para escrever ou uma maneira nova de expressar as sua idéias assim como uma necessidade real para encontrar a palavra adequada para produzir uma sentença correta.

Segundo Marcuschi (2001), atualmente, na sociedade contemporânea a escrita, pelo fato de ser uma manifestação formal dos inúmeros tipos de letramento, é muito mais que uma

tecnologia. A escrita tornou-se um bem social indispensável, seja nos centros urbanos ou na zona rural, sendo essencial para a sobrevivência neste nosso mundo em constante transformação. Com isto, a prática da escrita foi elevada a um status muito alto, chegando a ser sinônimo de educação, desenvolvimento e poder. Assim, torna-se impossível situar a oralidade e a escrita em sistemas lingüísticos diversos, pois ambas fazem parte do mesmo sistema da língua. Porém, a escrita não representa a fala. Os textos orais têm uma realização multissistêmica (palavras, gestos, mímicas etc.) e os textos escritos também não se limitam apenas ao alfabeto (envolvem fotos, ideogramas, os ícones do computador e grafismos de todo tipo). As diferenças entre fala e escrita se dão dentro do continuum tipológico das práticas sociais de produção textual e não na relação dicotômica de dois pólos opostos.

Segundo Espinosa Tarset (2006, p. 61):

A experiência docente indica que ao realizarem tarefas de escrita, os aprendizes contrastam o que sabem com o que desconhecem sobre a língua- alvo, comparam suas necessidades de comunicação com as suas carências lingüísticas e, muito provavelmente, mudam suas percepções a respeito do papel e da utilidade da escrita em seus processos de aprendizagem.

Kleiman (1995) afirma que a escrita é essencial nas sociedades tecnológicas industrializadas e que o seu uso é muito comum nas mais simples atividades do nosso cotidiano. Por esta razão passam despercebidas pelas pessoas letradas, mas torna-se um verdadeiro obstáculo para as pessoas não escolarizadas.

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