• Nenhum resultado encontrado

Após um levantamento sobre a biografia do escritor, destacamos as informações que consideramos mais importantes para a compreensão do contexto vivido pelo autor e sua atuação no cenário literário e político no Brasil. A percepção destes momentos contribuirá na reflexão sobre seu papel não apenas como literato, mas também como cidadão.

Amando Fontes nasceu em Santos/SP, em 15 de maio de 1899. Sua família muda-se para Aracaju após a morte de seu pai, quando o escritor tinha cinco meses de idade.

Aos 15 anos começa a trabalhar no Diário da Manhã de Aracaju, exercendo a função de revisor. Posteriormente muda-se para Belo Horizonte, onde passa a viver com seu tio. Seu objetivo era o de conseguir um emprego público que lhe permitisse custear os estudos. O relativo isolamento que experimenta no referido período o põe em maior contato com a leitura de autores como Émile Zola, José de Alencar, Eça de Queiroz, Comte, Schopenhauer, Machado de Assis, dentre outros.

No final do ano de 1919 dá início à produção de Os Corumbas, retomada apenas uma década depois. Após diversos afastamentos dos estudos, em virtude de problemas de saúde, consegue diplomar-se em Direito, na Bahia, no ano de 1928.

Após a Revolução de 30, muda-se para a capital federal, Rio de Janeiro, dedicando-se à advocacia. Conclui a obra Os Corumbas, publicada em 1933, pela Livraria Schmidt, que obtém grande aceitação da crítica e do público, com quatro edições ainda em seu primeiro ano. Este foi um momento bastante produtivo para a Literatura Brasileira. Obras como Cacau, de Jorge Amado, Serafim Ponte Grande, de Oswald de Andrade e Parque Industrial, de Patrícia Galvão, foram publicadas neste mesmo período.

Em 1934, o livro de Amando Fontes se torna o primeiro romance a receber o recém- lançado Prêmio Felipe d'Oliveira. No discurso proferido durante a solenidade realizada no mês de março do mesmo ano, o escritor reafirma o seu intento de retratar a vida das pessoas simples de sua terra,

[...] Tive de ceder à verdade, porém; tive que renunciar ao desejo de seguir o caminho de alguns mestres, para ser fiel na interpretação da alma, dos sentimentos do nosso povo, simples, primitivo, expressando ainda as suas maiores dores e tragédias por um gesto inacabado, por duas ou três palavras de resignação ou desconsolo (FONTES, 1934, p.112).

Sem filiar-se a nenhuma escola, o romancista justificou suas opções estilísticas citando Tchekov, quando afirma que sua intenção era a de mostrar como agem os indivíduos e jamais julgá-los. O caráter puramente descritivo de sua obra fica nítido na fala de Amando Fontes, que se posiciona como um narrador-observador, sem jamais interferir na ação de seus personagens. Sobre a construção de seus personagens, o autor afirma:

Por isso tentei construir as figuras de meu romance, tais como os homens nascem e andam pelo mundo. Ora são bons, ora são maus. Às vezes, onde não esperamos um gesto nobre, vemo-lo praticado; e de onde só aguardamos atos dignos, vemos surgir uma ação menos meritória. Não tive a preocupação dos Flaubert, dos Eças, dos Gide, de desmoralizá-lo a toda prova. “Singe de Dieu”, quis imitá-lo apenas, e jamais corrigi-lo (FONTES, 1934, p.112).

Amando Fontes conviveu com diversos escritores da geração de 30, cujo grande ponto de encontro era a Livraria José Olympio7, que congregava grande parte da intelectualidade

7 Livrarias como a Schmidt e José Olympio abriram espaço para a publicação de jovens escritores, estimulando a

literatura produzida no início do século XX. Neste contexto, merece destaque a atuação de José Olympio, cujo papel foi preponderante no mercado editorial brasileiro. Sua livraria tornou-se uma das mais importantes do período, contribuindo de maneira significativa para o movimento literário do Romance de 30.

carioca, na famosa Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro. O escritor possuía boa circulação no meio, atuando, inclusive, como agente editorial, responsável pela intermediação entre a livraria e escritores como José Lins do Rego, Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos.

É sintomático perceber a notoriedade que Amando Fontes ganha após a publicação de seu primeiro romance. Em 1934, o romancista é convidado a compor chapa nas eleições para Deputado Federal, pela União Republicana de Sergipe, partido de orientação conservadora. Eleito ao cargo, exerceu mandato até o ano de 1937, mesmo período em que publica sua segunda obra, Rua do Siriri (1937). Embora seja uma continuidade do primeiro, seu novo romance não obteve a mesma repercussão. Algumas críticas produzidas consideram que o escritor não conseguiu dar prosseguimento ao estilo adotado em Os Corumbas, enquanto outras críticas apontam justamente para permanência de uma estética naturalista/realista8, quando em 1937 as opções estilísticas eram outras, a exemplo da crônica ou dos romances introspectivos. Eles afirmam que, ao invés de trazer algo inovador, o romancista insistiu em um modelo já envelhecido em 1933.

Amando Fontes ainda cumpriu dois mandatos (1946-1950 e 1950-1954), agora pelo Partido Republicano (PR), atuando com destaque em comissões e lançando projetos, emendas e pareceres. Enquanto exercia seus cargos políticos, e mesmo afastado da produção literária, sua obra continuou chamando a atenção dos críticos. Ainda na década de 40, seus romances motivaram novos olhares de estudiosos da Literatura Brasileira.

Após os anos de vida parlamentar, Amando Fontes retoma as atividades no serviço público, trabalhando no Ministério da Fazenda. Durante este período, inicia a produção de uma nova obra, intitulada O Deputado Santos Lima, no qual retratava os últimos anos da República Velha até o ano de 1933. Porém, o romance não chega a ser concluído, pois o escritor vem a falecer no dia 1º de dezembro de 1967.

8 O realismo, enquanto movimento literário, tem sua origem na primeira metade do século XIX, na Europa. Dentre

os principais representantes estão Émile Zola, Flaubert e Maupassant. A aceitação da realidade, tal como se dá aos sentidos, torna-se uma das características mais marcantes da narrativa realista. No nível ideológico, as teorias do determinismo (de raça, do meio) fundamentam uma visão pessimista do autor, que tende a dar aos seus personagens um destino sombrio. No nível estético, o cuidado estilístico caracterizará as obras. O realismo se tingirá de naturalismo, no romance e no conto, sempre que fizer personagens e enredos submeterem-se ao destino cego das “leis da natureza”. O patológico é o interessante, provando a dependência do homem, em relação à fatalidade das leis naturais”. No Brasil, o realismo teve nas figuras de Aluísio de Azevedo, Raul Pompéia e Machado de Assis, alguns dos seus maiores representantes (BOSI, 1994, p. 163-173).

Documentos relacionados