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B – SEGUNDO MOMENTO

4. Espaço Mundial Por Uma Geografia Renovada

Agradeço a possibilidade que tive de assistir a este curso de atualização e de aperfeiçoamento dos conhecimentos indispensáveis aos professores de geografia da rede municipal de ensino público de Campinas.

A sede de conhecimentos novos e de novas práticas pedagógicas destes professores que estão na frente pioneira do ensino quotidiano da geografia nunca é medida pelo seu justo valor. Este curso foi organizado para responder ás suas motivações e necessidades.

Conviver, durante três dias, com suas dificuldades, seus questionamentos, seus desejos e suas esperanças foi uma experiência pedagógica das mais ricas e profundas.

Estes professores de geografia são curiosos e ávidos por saberes adequados aos questionamentos do mundo de hoje, que não é mais o mundo em que foram formados.

O bom senso e a sensibilidade destes professores que convivem diariamente com todas as dificuldades ligadas á estas vidas oferecidas ao ensino e á formação de milhares de crianças e adolescentes é, certamente, uma das maiores riquezas do Brasil.

A possibilidade oferta pela prefeitura de Campinas de formação contínua e de pedagogia renovada tentou responder ás angústias pessoais, profissionais, vocacionais e motivacionais destes professores. Felizes em conseguir voltar aos bancos da escola, em aprender e apreender de novo o mundo de seus alunos.

Não há conceitos difíceis de se entender, nunca. A Geografia Nova tão criticada pela sua falta de pesquisa de campo e sua soi-disant dificuldade foi estudada com muito prazer, simplicidade e alegria.

Basta respeitar a dignidade de todo professor-aluno e estimular a liberdade e o direito ao conhecimento de todo aluno-professor.

São estas gentes que têm muito que ensinar aos professores universitários. As universidades públicas lhes pertencem, senão de fato, pelo menos por dever. Qualquer uma das experiências de vida destes professores vale muito mais do que qualquer canudo acadêmico.

Lembro-me, por exemplo, de um professor de geografia da rede municipal de ensino de Campinas, de quase 60 anos que conhece Paris - sem nunca ter saído do Brasil – bem melhor do que eu que vivi 18 anos nesta capital. Além disso, oriundo do ensino

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A partir do curso, “Conhecimento do Espaço Mundial – Por Uma Geografia Renovada”, realizado pela Prof. Dra. Maria Adélia Aparecida de Souza, numa parceria entre o Instituto Territorial e a Prefeitura de Campinas, 2003.

público brasileiro, que já foi de grande qualidade, este Senhor fala francês sem nenhum sotaque brasileiro, atualizando-se sempre que pode ao assistir filmes, ouvir discos, ler livros, revistas e jornais no original. Com a internet, just-in-time, então, é o êxtase: ouvir e ver Paris just-on-line.

5 - Teoria Social Maior – Escola Dialética200

Seguir este curso sobre Metodologia Científica é entender a importância da dialética no Método Geográfico. Não só na sua interpretação do Espaço Geográfico mas também no que diz respeito ao seu possível questionamento pedagógico.

Na dialética entre espaço e sociedade, o grande interlocutor da pedagogia dialética é, sem dúvida alguma, Lev Semenovich Vygotsky com seu postulado marxista de que a

sociedade humana já é uma totalidade em constante transformação.

Melhor, do ponto de vista de Vygotsky: “o desenvolvimento humano é um processo

e um produto social, e a aprendizagem é a novidade que o antecede e provoca”

(SMOLKA e LAPLANE, 2005: 78).

Assim, propor a Geografia Nova como novidade cognitiva a ser incluída na Pedagogia do MST é enriquecer o desenvolvimento de todo brasileiro e não só do Sem Terra integrante do MST. Pois: “A adaptação humana ao ambiente é muito mais ativa que

a dos animais. Enquanto estes precisam adaptar-se às circunstâncias sob pena de sucumbirem, aqueles, se for necessário, adaptam as circunstâncias a eles próprios”.

(TEIXEIRA, 2005: 25).

No mundo, o MST nasce no momento em que se instala a dita Globalização, que o professor Milton Santos rebatiza de Globalitarismo. Isto é, depois da Guerra do Vietnã e antes da queda do muro de Berlim, quando os Estados-unidos impõem na mesa de negociações o discurso ambiental como resposta á sua recém “neutralidade” ideológica: perderam do pequeno tigre mas ganharam do grande urso. Sua defesa da “democracia” inicia uma ação global de proteção do meio-ambiente e, sobretudo, de “aquisições logísticas e estratégicas” dos recursos naturais necessários á reprodução de seu modo de vida. Especialmente colocado em perigo com o choque petroleiro de 1973 e com a revolução islâmica no Irã, em 1979. Como constata o presidente George W. Bush, no seu recém discurso de 2005 sobre o Estado da União: “A sociedade americana é viciada em

petróleo e deve investir em energias alternativas”.

No Brasil, o MST nasce como resultado do processo de redemocratização brasileira que após 20 anos de ditadura militar (a 2a ditadura do século XX, após a do Estado Novo de Getúlio Vargas) aparece para entrar diretamente no processo globalizatório.

200

A partir do curso, “Metodologia Científica - Aprendendo Sobre o Método”, realizado pela Prof. Dra. Maria Adélia Aparecida de Souza, em Campinas, 2004. Este curso deu origem ao seguinte trabalho: “Projeto

O papel do Brasil na economia mundial sempre esteve ligado á manutenção da energia humana com a produção de açúcar, cacau, café, suco de laranja e produção de proteína animal (desde a guerra do charque). A novidade, neste novo período histórico, não é só o fato de o Brasil ser “o maior exportador mundial em oito commodities

agrícolas201”, mas é o fato de o Brasil ter a maior potencialidade do mundo em novas

energias: biodiesel e biomassa. Mesmo se os Estados-unidos já são, hoje, os maiores produtores do mundo dessa nova matéria prima com uma tecnologia que já foi 100% brasileira nos anos 70, na época do pró-alcool202. Por isso, a política atual de esvaziamento das populações do campo. Por exemplo, grande parte da soja transgênica exportada pelo Brasil já é usada para produção de energias alternativas fora do Brasil. Não é só o bagaço da cana que produz álcool ou óleo diesel.

A guerra do chá na Índia também foi uma guerra de manutenção da energia humana então indispensável a toda poderosa e recém criada indústria inglesa.

Hoje, com a mais ou menos controlada mas crescente escassez do petróleo e da água, (pelas guerras) projetar o futuro é criar energias alternativas para manutenção do sistema atual. Por isso, a supervalorização do real em relação ao dólar e ao euro. Com um baril de petróleo atingindo o patamar de 70 US$.

Por outro lado, o nosso Planeta é azul porque composto a 70% de água. O que vai faltar, mais do que água, será terra para plantar os alimentos necessários ao sustento de uma humanidade projetada para alcançar perto de 9 bilhões de seres humanos. Já temos, hoje, á nossa disposição toda tecnologia necessária para desalinizar a água do mar. Israel o comprova com a exportação de suas laranjas e frutas exóticas produzidas no meio do deserto. Então, continuar a arrancar as oliveiras palestinas é uma decisão política e não técnica, nem religiosa.

Ora, “na medida em que a atividade humana se objetiva em produtos culturais, sejam eles materiais ou não, temos, como conseqüência, que o processo de objetivação do gênero humano é cumulativo. Assim, no significado de um objeto ou fenômeno cultural está acumulada a experiência histórica de muitas gerações” (DUARTE, 2005: 33). O

MST se diz fruto das lutas dos Quilombos, Canudos, Contestado, do Cangaço e das Ligas Camponesas. Por isso, a própria presença ou ausência do Sem Terra no campo brasileiro

201

Entrevista de Roberto Rodrigues á Paula Pacheco da Revista Carta Capital, Ano XII, No 377, 25/01/2006. 202

O óleo diesel norte-americano produzido a base de milho é muito menos lucrativo do que o óleo diesel produzido a partir da soja. O etanol produzido a partir da cana de açúcar é ainda mais barato.

provoca reações, em cadeia, do agronegócio203.

“As transformações qualitativas, tanto na história do sujeito como na história

cultural, ocorrem por meio da chamada síntese dialética. Esta se refere à emergência de algo novo, anteriormente inexistente. Esse componente novo não está presente nos elementos iniciais de uma dada situação, mas é tornado possível pela interação entre esses elementos, num processo de transformação que gera novos fenômenos” (OLIVEIRA,

2005a: 9).

O MST se considera como um sujeito sociocultural204; socioterritorial205, e como

sujeito pedagógico. No entanto, a riqueza da interpretação dialética nos leva a crer que a

Pedagogia do MST também é um objeto pedagógico em disputa e que seu Movimento é um objeto sócio-espacial em construção. Uma construção resultado, justamente, da dialética que existe entre território e sociedade e que, somente, o Método Geográfico da Geografia Nova nos permite desvendar. Pois, para Vygotsky: “o verdadeiro sentido da

palavra é determinado por tudo aquilo que, na consciência, se relaciona com a palavra expressa (...) Em última instância, o sentido de uma palavra depende da compreensão que se tenha do mundo como um todo e da estrutura interna da personalidade” (OLIVEIRA,

2005b: 71).

203

Para Roberto Rodrigues, ex-ministro da agricultura do 1o governo Lula: “O agronegócio é a soma das atividades que começam nas pranchetas de um pesquisador científico e terminam na gôndola do supermercado. Tanto que o agronegócio (31% do PIB) é muito maior que a produção rural (9% do PIB). Nesse sentido amplo, todo produtor, do pequeno ao gigantesco, pertence ao agronegócio” Em “O adeus do

ministro”, Carta Capital, Idem. Hoje, com Jeb Bush, Roberto Rodrigues, membro da Associação Brasileira

de Agronegociantes, é um dos principais dirigentes da Associação Interamericana de Etanol; fruto recentemente consagrado da aliança dos agronegociantes brasileiros com o setor do complexo dos combustíveis fósseis estadunidense. (Apud Carlos Walter Porto-Gonçalves, doutor em Geografia pela UFRJ e Coordenador do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense e Ex- Presidente da Associação dos Geógrafos Brasileiros (1998-2000)., In “De sementes, de saberes e de

poderes”, (10/09/200), Sítio do MST).

204

CALDART, UFRGS, In “Pedagogia do MST”, Editora Vozes, 2000. 205

6 - Teoria Geográfica Menor – Escola Analítica206

Seguir este curso sobre Questões de Método em geografia é entender a importância do método analítico, também incluído no Método Geográfico.

Se interpretar o Espaço Geográfico não é congelar sua interpretação, no entanto, sua análise necessita de alguns momentos onde é necessário desvendar o que está escondido por trás das coisas. O que permite nos deslocar, em espirale, da tese para antítese.

Por exemplo, descobrir porque o Brasil é o maior exportador de grão e de carne do mundo é descobrir que para produzir cada quilo de grão é necessária uma caixa de água de 1.000l. Ou seja, que para cada grão de feijão, arroz, café, cacau, soja ou milho, é preciso uma caixinha de leite de água. Idem com a proteína animal. Para produção de cada cabeça de gado se necessita, em média, de um hectare de capim fresco. Isto é, ao exportar grão e carne, o Brasil não só exporta, disfarçadamente, toneladas de água e capim, mas sim, energia e informação, ou seja, o Brasil exporta, grátis, tempo e espaço. 70% da água potável são usados na agricultura, 20% na indústria, e somente 10% da água potável são usados pelas populações brasileiras.

A interpretação do uso agrícola do território em constante interação dialética com o território usado pela sociedade nos permite desvendar o que está em jogo no futuro e não só no presente. Porque o futuro já é âncora do presente. Mas, para alcançar este nível de análise é preciso saber qual a visão de Brasil que têm os integrantes do MST? O Brasil é uma formação sócio-espacial onde cada lugar exige uma intersubjetividade quotidiana.

O maior expoente do método analítico, no que diz respeito á pedagogia analítica, é sem dúvida, Jean Piaget, que não era pedagogo, mas para quem: “Pensar é agir sobre o

objeto e transformá-lo”. Porque, diz Piaget: “O ideal da educação não é aprender ao máximo, maximizar os resultados, mas é antes de tudo aprender a aprender, é aprender a se desenvolver e aprender a continuar a se desenvolver depois da escola” (BECKER,

2005: 33).

Pois, malgrado o grande número de evasão escolar, inclusive nas escolas do MST, e não só nas universidades públicas; o aluno continua de aprender a ler o mundo, o Espaço Geográfico e sua Formação Sócio-espacial, fora dos bancos da escola, porque a riqueza da

206

A partir do curso, “Questões de Método em Geografia”, administrado pela Prof. Dra. Maria Laura Silveira, USP, 2004. O curso resultou no seguinte trabalho: “O trabalho é uma certa forma de produzir a

escola da vida é superior a qualquer escola, inclusive a Universidade ou a Escola do MST. Qual, então, a necessidade da escola no processo de formação humana?

Piaget nos oferece “a visão do ser humano como um organismo que, ao agir sobre

o meio e modificá-lo, também modifica a si mesmo” (SMOLE, 2005: 37). Porque o

conhecimento se constrói se tiver um sentido no qual “errar em se tratando de construir

conhecimento é tão natural quanto acertar” (SMOLE, 2005: 40).

Deste ponto de vista, o mais importante ao ler os mapas de famílias assentadas da reforma agrária talvez não seja exatamente o número de famílias que foram efetivamente assentadas, nem aonde, nem quando elas foram assentadas; mas, descobrir o número de famílias que saíram dos acampamentos, quando e onde “abandonaram a luta” e tentar desvendar porque esta decisão foi tomada? Idem com o número de abandono nas universidades públicas, estatais e particulares.

Todavia: “Piaget recusa-se a considerar, sem mais, como o faz Durkheim, a

sociedade como um “ser” (“ser coletivo”). Para ele, assim como não existe “o indivíduo”, pensado como unidade isolada, também não há “a sociedade”, pensada como um todo ou um ente ao qual uma só palavra pode remeter. Existem, isto sim, relações interindividuais que podem ser diferentes entre si e, decorrentemente, produzir efeitos psicológicos diversos” (TAILLE, 2005: 82). Pois: “A idéia piagetiana do sujeito como uma estrutura que se auto-regula em interação com o meio constitui uma abordagem cibernética do desenvolvimento do pensamento humano”. Aonde: “O conhecimento somente é adquirido mediante a ação do sujeito, desde a experiência imediata à experimentação orientada teoricamente”. E quando: “ O diálogo entre pensamento e experiência traduz o desejo humano de conhecer o mundo”. Visto que: “Não é o conhecimento, mas sim o conhecimento do conhecimento, que cria o comprometimento”

(LEODORO, 2005: 42-49).

7 - Relações entre Educação, Cultura e Natureza (Humanas e Inacabadas) 207

Seguir este curso sobre Relações entre Educação, Cultura e Natureza Humana é entender a importância do método hermenêutica que, também, encontra-se estar incorporado no Método Geográfico.

Incorporar a hermenêutica é, de certa maneira, voltar as origens do homem. Ou seja, é voltar ao tempo e ao espaço do tudo possível. De certo modo, a criança, inclusive a criança que fomos e que está sempre presente dentro de nós, não nos pertence. Nós é que lhes pertencemos. Por isso, abusar de uma criança é alterar esse processo, sempre inacabado, da formação sempre aberta do tudo possível. Abusar de uma criança é impossibilitar o futuro ao manter o “status quo”.

“Façamos de conta que a criança é um operário e que a finalidade de seu trabalho é produzir o homem (...) porque o trabalho das crianças não produz um objetivo material, mas cria a mesma humanidade, não uma raça, uma casta, um grupo social, mas a humanidade inteira. Considerando-se este fato, avulta claramente que a sociedade deve tomar em consideração a criança, reconhecendo-lhe os direitos e providenciando suas necessidades (...) Considero esta a última revolução, uma revolução não violenta e tanto menos cruel que exclui até toda a violência por mínima que seja, porque quando nela houvesse qualquer sombra de violência a construção psíquica da criança seria ferida de morte” (MONTESSORI apud ANTUNES, 2005: 37).

Em épocas onde acaba de sair uma lei que proíbe o tapa na bunda, é interessante observarmos que o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, que tem 15 anos, continua sem ser comprido. Então, de que serve uma norma destas se o número de meninos de rua continua crescendo e se os meninos da FEBEM - uma instituição criada para detectar as crianças subversivas em tempo de ditadura - continuam com seus direitos não compridos? Para quem serve o ECA se as crianças indígenas continuam morrendo a beira das estradas? E, fora do aspecto físico da violência, porque não proibir, também, o aspecto psicológico da violência, sobretudo usada em crianças que nascem nas camadas mais altas da sociedade?

207

A partir do curso, “Hermenêutica das Relações entre Educação, Cultura e Natureza Humana”, administrado pela Prof. Dra. Maria da Nazaré de Camargo Pacheco Amaral, em Filosofia da Educação, na Faculdade de Educação, FEUSP, 2005. Este curso resultou nos trabalhos seguintes: “O que pode a educação? Relações entre individualidade e totalidade”; “Seminário sobre Johann-Gottlieb FICHTE”; “Prova escrita sobre a educação em J.G. FICHTE.”; “Fundamentar criticamente as relações entre conceito de educação, conceito de imaturidade e conceito de interesse e esforço em John Dewey”, 2005.

No que diz respeito a essa origem como base do futuro não só da pedagogia mas, sobretudo, do futuro da humanidade e de suas possibilidades, o maior expoente é, sem dúvida, Maria Montessori para quem: “O homem pertence a um todo maior que o sustenta

e se ele se constrói segundo este todo ao qual está subordinado, mantendo-se fiel artesão, especifica sua função no grande Cosmos. Por isso, a função da pedagogia consiste em auxiliar a encarnação do espírito no homem e participar, assim, da ordem cósmica”.

Montessori explica: “Ora, com a palavra encarnação queremos referir-nos a fatos

psíquicos e fisiológicos de crescimento. Este é o processo misterioso da energia que animará o corpo inerte do recém-nascido e dará a carne de seus membros, aos órgãos de articulação da palavra, o poder de agir segundo a vontade e assim encarnará o homem”

(GIORDANI, 2005: 45).

Não se consegue entender a Pedagogia do MST sem reconhecer o papel das Cirandas, Escolas Itinerantes e dos Encontros de suas crianças - Sem Terrinha - no seu processo pedagógico. Pois: “O grande poder do homem é que se adapta a qualquer meio e

que o modifica. Por esta razão todo o homem que nasce deve voltar-se a criar sua personalidade de novo” (MONTESSORI apud GIORDANI, 2005: 41). Pois: “Uma das descobertas de Montessori é que existem potencialidades na personalidade humana que correspondem a todos os fenômenos universais, dirigindo o indivíduo em crescimento a realizar atividades específicas” (GIORDANI, 2005: 45).

Assim, as Relações entre Educação, Cultura e Natureza Humana entreaberta, porque permanentemente inacabada, num acontecer sempre por vir são interações208, de fato, indissociáveis.

Na pedagogia Montessori, como na Pedagogia do MST: “O ser humano que se

propõe à mudança estará, conseqüentemente, mudando o mundo que está ao seu redor, já que, ele mesmo, servirá de modelo ético-social para a comunidade que o cerca” (BELLO,

2005: 79).

Como entender o número crescente de Sem Terra assassinados, inclusive durante os sucessivos governos Lula, senão por aqui mesmo?

208

“O pensamento em termos de campo demanda uma conversão de toda a visão ordinária do mundo social, que se ocupa exclusivamente das coisas visíveis: do indivíduo, ens realissimum, ao qual nos liga uma espécie de interesse ideológico primordial; do grupo, que só aparentemente é definido exclusivamente pelas relações, temporárias ou duradouras, informais ou institucionais, entre seus membros; enfim, das relações entendidas como interações, ou seja, como relações intersubjetivas realmente efetuadas”. (BOURDIEU, 1982: 45).

8 – Interações entre Teoria e Prática (Técnica é Uso)209

Segui este curso durante 3 anos letivos: 2003, 2004 e 2005. Primeiro, por necessidade, sendo não geógrafa de formação, cada ano letivo me possibilitou um maior aprendizado geral da Geografia Nova e uma maior compreensão da especificidade do Método Geográfico.

Segundo, por vontade de aperfeiçoar o meu conhecimento pessoal no que diz respeito a pedagogia usada por minha orientadora. A Professora Maria Adélia é A Professora da Geografia Nova em Ação. Cada curso abrindo espaço para novas reflexões teóricas enriquecidas pelos recortes e os enfoques dos alunos.

Infelizmente, na posição de aluno não nos é dada a possibilidade de ver nascer uma teoria científica, de seguí-la em construção, ao ser constantemente enriquecida no decorrer do mundo novo. Sobretudo nesta aceleração contemporânea com a qual convivemos.

Raramente, o aluno tem orientadores que continuam estudando, lendo, se formando, trabalhando e suando com ele, inclusive, ao desvendar os erros de seus próprios trabalhos. O conhecimento além de ser um indispensável trabalho gastro-intestinal pessoal com bunda na cadeira, também é um processo de construção coletiva não só de troca de informação, mas de uso respeitoso do trabalho do outro.

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