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Da revisita ao passado do autor, recolhem-se um conjunto de mapas e descrições que configuram as histórias espaciais da infância do mesmo: o espaço da casa, o exterior próximo que envolve o seu prédio e a vila de Ponte de Lima. A partir das histórias espaciais interpretam-se as ações, as atividades diárias e os programas que compõem a sua rotina, dando origem à pesquisa dos hábitos e percursos que o mesmo partilhava com os seus amigos, num habitar comum do território.

Espaços do Autor transmite a reflexão das particularidades da interação do autor com os espaços e identifica a rotina comum compartilhada com as restantes crianças que o acompanham.

Desta forma, espaços do autor descreve não só a sua própria rotina, como a vivência comum do grupo de crianças com quem brincava, resultando num mapa de ações espaciais coletivas que representam uma infância particular vivida entre os anos de 1999 e 2001 na vila de Ponte de Lima.

As interações com os espaços da vila são representadas na Figura 33, descrevendo a rotina do autor e dos seus amigos, demonstrando o fluxo das atividades diárias praticadas, os locais com maior e menor frequência e apropriação infantil e os percursos que unem estes mesmos pontos, resultando num mapeamento da ação humana no território, onde nem sempre é possível definir os limites físicos e concretos presentes no espaço. Assim, este mapa representa a personificação dos atos e percursos experienciados pelo autor na vila.

Como forma de expressar os locais de permanência mais utilizados pelo autor, representa-se através da mancha os aglomerados de atividades diárias desenvolvidas, ligados pela ramificação dos percursos, conectando a sua casa à escola e às restantes partes da vila como o centro histórico e as margens do rio Lima, resultando na elaboração do desenho da sua apropriação espacial no território.

Esta primeira representação da vila, segundo a perspetiva do autor enquanto criança, apresenta um cenário de histórias, comuns e pessoais, um explorar de uma grande extensão do território que conecta as diferentes cotas (desde a sua casa, 45 metros acima do rio Lima até às margens do rio) presentes em Ponte de Lima e uma partilha

do espaço público com os diferentes grupos etários que o habitam. Deste modo, a superfície ativa exibe uma pertença sobre os principais espaços da vila, traduzindo a ação do autor como parte integrante da rotina comum do município.

Através do mapa pessoal, é possível perceber as diferenças de intensidade na mancha, representando os níveis de frequência da utilização dos espaços analisados. Estes definem quatros zonas cuja relevância no dia-a-dia do autor é maior: a sua habitação e envolvente próxima, por onde começa o seu dia; a escola, que ocupa a sua manhã e parte da tarde; o centro histórico, destino final antes do regresso a casa, no fim de cada dia; e o espaço que conecta a escola a este mesmo centro, que envolve o largo da Lapa e o paço do Marquês, onde todo o percurso é intercalado com o brincar com os amigos.

a ligação

Da mancha de apropriação traçada pela ação do autor e dos seus amigos no espaço da vila, são destacadas as principais zonas da rotina diária, segundo a perspetiva do autor, e é elaborada o mapa (Figura 33) onde se resume a junção dos espaços vitais e dos percursos que os conectam no dia-a-dia.

Para perceber e interpretar as analogias expostas pelas ações no espaço e os desafios impostos do território, é necessário entender as especificidades cada espaço e a diferença topográfica entre eles.

O centro histórico, é tido pelo autor como o local de maior afluência populacional, devido ao número de serviços comerciais e municipais, este insere-se na cota inferior da vila, compreendida entre os zero e os vinte metros acima da linha de água, representada pelo rio Lima, contrastando com as cotas superiores que possuem uma maior presença da população juvenil, nomeadamente a zona escolar e de habitação. A zona escolar e de habitação encontra-se numa plataforma distinta do centro histórico, acima dos vinte metros a partir do rio, estendendo-se até aos cinquenta metros, criando uma fronteira física que separa a ligação entre os espaços utilizados pelas crianças. Deste modo, os espaços encontram-se divididos pelas cotas que os contêm: - zona de habitação, cota superior a quarenta e cinco metros; - zona escolar, cota superior a vinte metros; e – centro histórico.

Incidindo na conexão entre os espaços da zona escolar e centro histórico, que são percorridos sem o auxílio de um veículo automóvel, a diferença de cotas é vencida pela forma como os espaços localizados entre si, possuem uma grande apropriação pela população infantil, agindo como uma série de plataformas que unem os dois espaços, compreendendo o campo de jogos, o largo da Lapa e o paço do Marquês. Estes espaços permitem que a distância entre a escola e o centro histórico seja atenuada, apresentando-se como suportes para a rotina diária da criança, lançando um fio condutor que sustenta uma segura deslocação ao longo do percurso de acesso à cota inferior da vila, através da capacidade física e social de receber o ato de brincar na extensão do território.

Assim, a criança vê-se completamente integrada no território que habita, intercalando o brincar com a rotina diária de outras faixas etárias, com quem se cruzam e compartilham os espaços da vila.