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Mapa 12  RMF: frente de expansão imobiliária a oeste/sudoeste de Fortaleza

3 A REGIÃO METROPOLITANA NA ALVORADA DO SÉCULO XXI:

3.2 Os espaços de dinamismo econômico

mudanças que emergiram no mundo capitalista na esteira da globalização e da reestruturação econômica, diante da crise iniciada no final da década de 1970. No Brasil, essa crise se aprofundou ao longo de toda década de 1980, com crescimento da inflação e desemprego. Nesse contexto, ocorreu uma paulatina adesão de ideias neoliberais, com o objetivo de adaptar o país à nova realidade atribuída ao processo de globalização.

Tais mudanças também foram sentidas nos governos locais, já que “em função da crise do Estado moderno no Brasil, o quadro político, ditatorial, centralizador das ações, foi substituído por um democrático, promotor de políticas de descentralização” (DANTAS et. al, 2006, p. 23). A partir desse período, os governos locais passaram a assumir maior responsabilidade sobre a formulação de suas políticas econômicas. Tal autonomia, associada à crise fiscal do Estado brasileiro, conduziu boa parte dos governos estaduais e municipais a adotarem uma postura empreendedora, tendo como principal objetivo criar condições favoráveis para atração dos capitais privados em busca de valorização.

No Ceará, o final da década de 1980 indicou alterações de ordem político- econômica, com a ascensão de um novo grupo de gestores públicos que implantou mudanças nas estratégias de desenvolvimento do Estado, com repercussões sobre o arranjo espacial na RMF. O “governo das mudanças70” trouxe um conceito de Estado com forte influência do setor privado nas formas de gestão nas ações governamentais. Conforme indicou Bernal (2004, p. 61), a partir desse período, o Ceará passa a adotar a “guerra fiscal” com estratégia para atração de capitais privados. Essa estratégia foi baseada em três eixos: atração de indústrias (notadamente oriundas do sul e sudeste do país), investimento na implantação de um polo turístico e na modernização da agricultura.

As ações governamentais produziram uma reorganização na divisão territorial do trabalho na RMF, redefinindo funções de municípios e incorporando novos espaços à dinâmica metropolitana de Fortaleza. Os incentivos fiscais, associados à dotação de infraestruturas, favoreceram o desenvolvimento de

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Governo das Mudanças é uma denominação utilizada para se referir aos governos de Tasso Je- reissati e Ciro Gomes, iniciados no final da década de 1980.

espaços de produção industrial em diversos municípios da RMF, entre eles Maracanaú, onde já existia um distrito industrial desde 1970, e Horizonte e Pacajus (incorporados à RMF em 1999). Essas mudanças aceleraram o processo de urbanização nesses municípios e fortaleceram a sua integração à dinâmica metropolitana.

Os municípios de São Gonçalo do Amarante e Caucaia também passaram por significativas mudanças, após a implantação do complexo industrial e portuário do Pecém (CIPP). A implantação do CIPP ocorreu mediante a ação do poder público com o objetivo de ampliar o ambiente favorável ao desenvolvimento de novos negócios privados no Ceará, facilitando o transporte de mercadorias produzidas no estado e na região nordeste.

Objetivando o desenvolvimento do turismo litorâneo, os governos passaram utilizar recursos locais e buscar fontes de financiamento de instituições multilaterais (como o Banco Interamericano de Desenvolvimento) para a dotação de infraestruturas necessárias ao desenvolvimento das atividades turísticas (notadamente implantação de vias litorâneas, projetos de saneamento e reformas do aeroporto). Conforme indicou Dantas (2009), a partir dos esforços do Estado, grandes investimentos turísticos-imobiliários passaram a ocupar o litoral da RMF, reforçando a lógica de urbanização paralela à faixa de praia. Esse processo atingiu especialmente os setores litorâneos dos municípios de Aquiraz, Cascavel e Caucaia, que a partir do fortalecimento dessas ações do poder público, passaram a receber hotéis, resorts e uma quantidade expressiva de casas de veraneio.

Concomitante à ação dos governos estaduais, os governos municipais passaram a adotar políticas favoráveis à atração de investimentos, em muitos casos resumindo os impostos municipais, investindo em infraestruturas físicas, flexibilizando as legislações que regulam o uso do solo e, frequentemente doando terrenos para a implantação de empresas em seus territórios.

Em síntese, se observou uma reorganização da RMF baseada na satisfação dos interesses privados, com o argumento de que o desenvolvimento econômico do Estado traria amplos benefícios para sociedade cearense, principalmente em novas oportunidades de emprego e aumento da renda. Essa

racionalidade das políticas de desenvolvimento, implementadas pelo poder público, permaneceu e foi fortalecida nos governos subsequentes.

A despeito do crescimento de alguns municípios da RMF que passaram a receber novos investimentos públicos e privados, a Região Metropolitana de Fortaleza ainda apresenta um padrão extremamente desigual no que se refere à distribuição das riquezas. Conforme se pode observar no gráfico 8, Fortaleza permanece com aproximadamente 75% do PIB da RMF e cerca de 60% do PIB do estado do Ceará. Maracanaú, Caucaia e Eusébio aparecem em segundo, terceiro e quarto colocados com, respectivamente 8,3%, 5,2% e 2,5% do PIB da RMF. Os municípios de Horizonte e São Gonçalo do Amarante, que passaram por recentes processos de industrialização possuem uma participação de 2,2% e 1,9% do PIB da RMF. Já alguns municípios, como Chorozinho, Guaiúba, Itaitinga e Pindoretama apresentam um baixo dinamismo econômico, com suas participações no PIB da RMF abaixo de 1%.

Gráfico 8 - RMF: Produto Interno Bruto (2010)

O processo de centralização identificado na RMF foi gestado em meados do século XX quando ocorreu a intensificação dinâmica-comercial na capital e o aumento dos fluxos populacionais oriundos do sertão. Nesta conjuntura, Fortaleza passou a se destacar como importante centro coletor das riquezas produzidas no sertão (notadamente o algodão) e capturou a dinâmica econômica do interior, criando as condições para a efetivação do seu crescimento urbano. Desde então Fortaleza se consolidou como a cidade primacial de uma rede urbana desequilibrada, concentrado parte significativa das riquezas produzidas no território estadual, mas também uma série de problemas sócio-espaciais associados ao seu rápido e intenso processo de urbanização.

Mesmo após as sucessivas tentativas de diversificação da economia cearense, fortalecidas nas últimas décadas do século XX através dos ciclos de industrialização, do fortalecimento da agroindústria ou do incentivo ao turismo, não ocorreu o enfraquecimento da primazia de Fortaleza na rede urbana. Pelo contrário, comumente as atividades de produção e consumo atraídas para o território estadual nas últimas décadas se instalaram na capital ou em municípios da RMF. A grande aglomeração urbana de Fortaleza é decisiva nas escolhas das localizações de novos investimentos públicos e privados, que vêm fortalecendo a expansão da influência da capital para os municípios do seu entorno.

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