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TABELA 02 – DENSIDADE POPULACIONAL

2.10. ESPAÇOS E SOCIEDADE

O espaço não precisa ser visto ou sentido para ser imprescindível para a existência humana. O espaço precisa, sim, ser situado como um ato sob a perspectiva do homem com suas experiências. Segundo MATTA

apud LIVRAMENTO (2008), o espaço se confunde com a própria ordem social, de modo que, sem entender a sociedade com as suas redes de relações sociais e valores, não se pode interpretar como o espaço é concebido.

A maior parte dos espaços livres de uma cidade é constituída pelas circulações, as quais se destinam ao tráfego de veículos e pedestres. Paralelamente, essas áreas de circulação podem também assumir funções de lazer, nos casos de utilização mais restrita ou controlada do trânsito.

O espaço e a paisagem são elementos distintos. O primeiro é resultado da inter-relação entre sociedade e paisagem, é a paisagem mais a vida existente nela, formado pela interação entre configuração territorial e dinâmica social (SANTOS, 1991).

“A paisagem nada tem de fixo, de imóvel. Cada vez mais a sociedade passa por um processo de mudança, a economia, as relações sociais e políticas também mudam em ritmo e intensidade variados. A mesma coisa acontece em relação ao espaço e a à paisagem, que se transforma para se adaptar às novas necessidades da sociedade.” (SANTOS, 1998)

A configuração do espaço é gerada a partir da consideração de elementos geográficos distribuídos sobre o território e o modo de interação entre esses e a sociedade. O resultado dessa utilização do espaço acarreta em sua transformação.

As relações entre espaço e sociedade sofreram muitas transformações ao longo dos anos. Essas conexões foram se moldando ao longo do tempo, vinculadas, principalmente, às atividades realizadas pelo homem.

Citando SANTOS (1991):

“A paisagem não se cria de uma só vez, mas por acréscimos, substituições; a lógica pela qual se fez um objeto no passado era a lógica da produção naquele momento. Uma paisagem é uma escrita sobre a outra, é um conjunto de objetos que têm idades diferentes, é uma herança de muitos diferentes momentos. Daí vem a anarquia das cidades capitalistas. Se juntos se mantêm elementos de idades diferentes, eles vão responder diferentemente às demandas sociais. A cidade é essa heterogeneidade de formas, mas subordinada a um movimento global. O que se chama desordem é apenas a ordem do possível, já que nada é desordenado. Somente uma parte dos objetos

geográficos não mais atende aos fins de quando foi construída. Assim, a paisagem é uma herança de muitos momentos, já passados, o que levou Lênin a dizer que a grande cidade é uma herança do capitalismo, e veio para ficar, devendo os planejadores do futuro levar em conta essa realidade.”

Inicialmente, a relação homem-espaço restringia-se apenas à coleta de objetos, sem uma interação mais intensa com o espaço. Havia uma dependência do espaço quanto à disponibilidade de recursos de fácil acesso. Nesse momento o espaço restringe-se a um meio de subsistência.

O surgimento das sociedades agrícolas é um marco no processo de mudança na relação entre a sociedade e o espaço. Esse deixa de ser apenas um objeto de trabalho, transformando-se em um meio de trabalho – o solo agricultável. Nessa fase há uma divisão mais definida do trabalho, a estratificação social baseada em títulos, na posse da terra e em instrumentos de trabalho. É este processo que leva à constituição do Estado, surgindo a partir de então conceitos de defesa do território.

Ainda nesta fase os modos de vida encontram-se expressivamente associados aos espaços nos quais se localizam.

Com o advento do capitalismo, principalmente nas sociedades europeias, os limites da apropriação natural do espaço começam a ceder espaço para as relações espaço-sociedade. Assim, o processo de modificação, iniciado com as sociedades agrícolas antigas, atinge seu ápice no pós Revolução Industrial, no momento em que as mercadorias deixam de ter somente um valor de troca e passam a ter valores expressos também no seu processo de produção.

Esse processo torna-se de mais fácil compreensão pela exemplificação de SANTOS (1991):

“O espaço habitado se tornou um meio geográfico completamente diverso do que fora na aurora dos tempos históricos. Não pode ser comparado qualitativa ou estruturalmente, ao espaço do homem anterior à Revolução Industrial. Conforme assinala Garrett Ekbo em seu belo livro A Paisagem em que vemos, com a Revolução Industrial a articulação tradicional, histórica, da comunidade com seu quadro orgânico natural, foi então substituída por uma vasta anarquia mercantil. Agora, o fenômeno se agrava, na medida em que o uso do solo se torna especulativo e a determinação de seu valor vem de uma luta sem trégua entre os diversos tipos de capital que ocupam a cidade e o campo. O fenômeno se espalha por toda a face da terra e os efeitos diretos ou indiretos dessa nova composição atingem a totalidade da espécie. Senhor do mundo, patrão da natureza, o homem se utiliza do poder científico e das inovações tecnológicas sem aquele senso de medida que caracterizou

as suas primeiras relações com o entorno natural. O resultado, estamos vendo, é dramático”.

Para SARAIVA (2005), a relação do homem com os objetos e o espaço depende não unicamente dos espaços em si, mas também da maior ou menor proximidade em relação a eles. – por exemplo, estar imerso neles ou observando a certa distância.

O espaço é elemento indispensável a qualquer atividade social e serve para dar suporte à produção e ao consumo. O espaço de uma cidade é produto, condição e meio de processo de produção da sociedade em todos os âmbitos. O uso do espaço urbano é a forma de ocupação em certo lugar da cidade. A diversidade desse uso é fator que contribui para o dinamismo urbano ao passo que é priorizada a multifuncionalidade, ou seja, a convivência em um mesmo ambiente de funções como trabalhar, passear, habitar, conviver e circular.

2.11. O AMBIENTE E A APROPRIAÇÃO DOS ESPAÇOS