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5.5 Diretrizes para o planejamento territorial na área de estudo

5.5.4 Espaços de interação

De acordo com Pires et al. (2004), a interação entre o sistema social e natural permite o preparo de atores sociais para a participação ativa na gestão e nas escolhas de alternativas para os problemas ambientais, partindo do contato com a realidade e da redescoberta dos sistemas ambientais.

Diante desta perspectiva, propõe-se a implantação de espaços de interação em meio aos biótopos urbanizados na esperança de se promover o desenvolvimento da educação, da recreação, da multiplicidade social e dos benefícios ambientais. Os espaços de interação correspondem à definição de “greenways” proposta por Ahern (1995), como elementos planejados e desenhados para diversos propósitos, com os seguintes atributos básicos:

a) configuração linear favorecendo o movimento de espécies e o transporte de nutrientes e matéria, podendo ser aproveitado pelo sistema viário para implantação de ciclovias e passeios para pedestres;

b) conexões e trocas ao longo de escalas e usos diversos, funcionando como uma rede de informações;

c) multifuncionalidade, que deve ser cuidadosamente planejada para evitar usos incompatíveis;

d) equilíbrio entre diferentes agentes sociais e natureza;

e) estratégia espacial, que integra sistemas lineares com outras parte não lineares, cuja composição não é beneficiada pela diversidade de usos.

Segundo Frischenbruder e Pellegrino (2004), a tradução do termo proposto por Ahern (1995), “caminhos verdes”, ainda não é usado regularmente. Entretanto, segundo Mascaró e Yoshinaga (2005), as áreas verdes tradicionalmente dispostas em pequenas praças distribuídas em terrenos geralmente desvalorizados têm sido substituídas por áreas marginais aos cursos d´água, configurando parques lineares.

De acordo com Frischenbruder e Pellegrino (2004), a proposta de parque linear visa preservar as estruturas ambientais da paisagem ao assumir diversas formas e funções e agregando o uso humano às áreas naturais. Assim como o “greenway”, o

parque linear é um elemento estruturador de programas ambientais em áreas urbanas sendo muito utilizado como instrumento de planejamento e gestão das áreas marginais aos cursos d´água, conciliando as exigências da legislação com a realidade existente (Friedrich, 2007).

Com base no estudo preliminar, o planejamento destes espaços envolverá outras etapas relacionadas aos usos pretendidos, aos materiais de construção, às estratégias tecnológicas e sobretudo, à definição de programa ambiental. Para Mascaró (2008), aos diversos quesitos necessários para a construção de um projeto desta proporção dá-se o nome de infraestrutura da paisagem, compreendendo conhecimentos de ecologia, botânica, geologia, hidrologia, engenharia, urbanismo entre outros ramos da ciência.

Parte da infraestrutura de um parque linear, a drenagem urbana representa um dos elementos principais, garantindo a permeabilidade do solo das margens dos cursos d´água e permitindo a infiltração e a vazão mais lenta em períodos de inundações. De uma forma conveniente, o córrego das Bandeiras é alvo da parceria ente Prefeitura Municipal e SABESP para a construção de um reservatório de contenção, ou “piscinão”; porém, este projeto configura uma solução isolada, sem o perfil estrutural dos parques lineares. No que se refere aos aspectos de biodiversidade, Frischenbruder e Pellegrino (2004), ressaltam a importância deste elemento urbano na conexão entre espaços naturais, agindo como corredores ecológicos para a dispersão de plantas e espécies.

Conforme o levantamento dos biótopos urbanizados, os padrões que correspondem aos atributos discutidos são os biótopos de áreas verdes que abrangem as praças, jardins públicos e as áreas de preservação permanente dos cursos d´água intraurbanos. Entre os biótopos urbanizados que possuem potencial para conversão em espaços de interação, estão os biótopos de vazios urbanos por sua distribuição entre os diversos padrões de biótopos identificados e por encontrar-se em estado ocioso, facilitando intervenções.

Foram identificados 6 cursos d´água que são utilizados como eixos para a construção dos espaços de interação. São eles: córrego da Bomba e afluente, com percursos aproximados de 5,7 e 2 quilômetros; afluente do rio Jaguari-Mirim, com

percurso aproximado de 1,1 quilômetro; 2 afluentes do ribeirão São João com percurso aproximado em 1,4 e 0,6 quilômetro e o córrego da Bandeira, com percurso aproximado de 1,6 quilômetro. O percurso total destes eixos é estimado em 12,4 quilômetros e as áreas de preservação permanente destes cursos d´água estão estabelecidas em 30 metros de largura em ambas as margens.

O córrego das Bandeiras e um afluente do ribeirão São João possuem trechos de suas áreas de preservação permanente ocupadas por edificações e por infraestrutura viária, contabilizando uma distância de 1 quilômetro, equivalente a 8 por cento do percurso total estimado para os 6 eixos propostos. Os trechos que possuem conflitos podem ser objeto de intervenções do Poder Público por meio de ferramentas urbanísticas para desapropriação e a readequação destas áreas pode ser realizada com base na Resolução CONAMA n° 369, de 28 de março de 2006, que dispõe sobre as exceções que possibilitam intervenções em áreas de preservação permanente, permitindo a utilização destes espaços para a implantação de áreas verdes públicas, conforme redigido em seu artigo 2° (CONAMA, 2006).

Os biótopos de vazios urbanos identificados distribuem-se em meio aos demais biótopos urbanizados e podem ser convertidos em áreas verdes devido a suas características superficiais; são considerados estratégicos por funcionarem como interseção dos eixos propostos ao longo do córrego das Bandeiras e dos afluentes do córrego da Bomba e do ribeirão São João e pela proximidade com a rodovia SP 342 (Figura 80). Estas áreas podem ser utilizadas inclusive para a construção de novos equipamentos urbanos, com usos institucionais e de apoio, ou para implantação de áreas multiuso, com participação da sociedade e da iniciativa privada.

Figura 80 – Distribuição dos cursos d´água utilizados como eixos; em branco, abrangência dos biótopos de vazios urbanos. Fonte: modificado de Quickbird (2006).

A existência destes biótopos reduz a necessidade de intervenções extremas no ambiente urbano já consolidado possibilitando a inserção de novos equipamentos urbanos e institucionais. A utilização de ferramentas urbanísticas estabelecidas no Plano Diretor Municipal e no Estatuto da Cidade pode auxiliar o município na aquisição dos biótopos de vazios urbanos, promovendo a função social de terrenos considerados ociosos.

Partindo dos atributos mencionados e dos objetivos pretendidos, é apresentada na Figura 81, a proposta de distribuição dos espaços de interação por meio de um plano de massa com as áreas suscetíveis à sua implantação. Esta proposta visa abranger os biótopos urbanizados já existentes e conduzir novos projetos de urbanização, condicionando-os à sua morfologia.

De forma semelhante aos espaços de amortecimento, os espaços de interação devem levar em consideração a expansão da malha urbana e, a partir do

reconhecimento da matriz biofísica que servirá como suporte e entorno, serem planejados de forma a manter a unicidade do projeto e a estrutura linear das áreas verdes e dos eixos propostos.

O Quadro 11 apresenta as diretrizes básicas para auxiliar tomadores de decisão e agentes sociais na implantação, no manejo e na gestão dos espaços de interação.

Quadro 11 – Planos e ações para o planejamento dos espaços de interação.

PLANO ALVO AÇÃO

Pesquisa Biótopos antrópicos Identificação das demandas biofísicas e sociais

Pesquisa Biótopos antrópicos Identificação dos conflitos e dificuldades de implantação

Políticas Sociedade civil e investidores

Desapropriações, consórcios, parcerias, audiências públicas Implantação Biótopos de áreas verdes Desenho e projeto

Implantação Biótopos de áreas verdes Construção dos espaços de interação Gestão Poder público, sociedade

civil e investidores

Programas de educação, segurança e de uso compartilhado