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Foto 16. Título: Trecho de mata amazônica intacta no Parque Indígena do Xingu,

2.1 PARÁ: ESPAÇOS POR ENTRE LUGARES

O estado do Pará é o segundo maior estado brasileiro em extensão territorial (PARÁ, 2011). Sua dimensão física e a localização geográfica são marcadas por uma exuberante diversidade fluvial, sendo seu grande território atravessado por rios com um imenso volume de água. Como o meio de transporte fluvial é em sua maior parte mais demorado, isto favorece o distanciamento entre as várias regiões que constituem o estado.

Mapa 1: Mesorregiões do Estado do Pará.

Fonte: Resolução (PR), n° 51 de 31.07.89. Reprodução a partir das informações constantes no Projeto de Regionalização Administrativa do Estado do Pará, editado pela SEPLAN/IDESP em 1992 publicado na Revista Nosso Pará, 1996 .

Segundo Douglas Santos (2002, p. 27), “um dos pontos de partida da ação humana no que tange a superação de suas necessidades de sobrevivência implicou, sempre, algum tipo de deslocamento”. Ação e movimento, lugar de ser, lugar para se ir, motivação espacial que faz o homem fazer-se discurso. As delimitações que geram mapas já se fazem a reprodução de uma disposição do espaço. Assim, no caso do Pará, teremos as mesorregiões do estado. Isto não se delimita aos aspectos físicos, mas também a uma significação atribuída aos lugares, ao modo como os sujeitos se percebem, se encontram/confrontam com os lugares.

A menor mesorregião territorialmente delimitada no mapa acima refere-se à região Metropolitana de Belém, sendo a mais populosa. As quatro regiões localizadas na parte superior do mapa apresentam maior semelhança sociocultural: são elas, a região Metropolitana, do Nordeste paraense, do Marajó e do Baixo-amazonas. Dessas, as duas primeiras localizam-se mais próximo à capital paraense. A última, apesar de apresentar semelhança sociocultural com a Mesorregião Metropolitana, se faz distanciada pelos rios que caracterizam o estado, principalmente no que tange à geografia das regiões mais ao Oeste do Pará.

Já as duas mesorregiões abaixo do mapa, no caso, as regiões sudeste e sudoeste, apresentam-se mais distantes, revelando maior índice migratório de outros estados, dada, entre outros fatores, a proximidade com o centro-sul do país. A seguir, identificaremos cada mesorregião e as microrregiões que lhes constituem, destacando-lhes a atividade econômica e constituição social. Daí, pontuaremos algumas inter-relações entre as mesorregiões.

Considerando o mapa 1(um), faremos um breve resumo das seis mesorregiões do estado do Pará destacadas. A mesorregião Metropolitana de Belém reúne onze municípios e duas microrregiões, quais sejam: Belém e Castanhal. A primeira apresenta uma das menores áreas territoriais quanto às demais microrregiões, no entanto, o maior índice populacional, segundo dados do IBGE de 2006, estimado em 2.671.066 habitantes. Compreende seis municípios: Ananindeua, Barcarena, Belém, Benevides, Marituba, Santa Bárbara do Pará. A microrregião de Castanhal é formada por cinco municípios: Bujaru, Castanhal, Inhangapi, Santa Izabel do Pará e Santo Antônio do Tauá (ANUÁRIO ..., 2010).

A mesorregião do Nordeste paraense é constituída por quarenta e nove municípios e cinco microrregiões (PARÁ, [2011]). A microrregião Bragantina apresenta uma população estimada em 374.907 habitantes, sendo formada por treze municípios: Augusto Corrêa, Bonito, Bragança, Capanema, Igarapé-Açu, Nova Timboteua, Peixe-Boi, Primavera, Quatipuru, Santa Maria do Pará, Santarém Novo, São Francisco do Pará e Tracuateua.

A mesorregião do Marajó é constituída por dezesseis municípios. Esses se agrupam em três microrregiões: Arari, Furos de Breves e Portel. A microrregião do Arari tem 127.950 habitantes distribuídos em sete municípios: Cachoeira do Arari, Chaves, Muaná, Ponta de Pedras, Salvaterra, Santa Cruz do Arari e Soure. A microrregião do Furo de Breves é constituída por uma população aproximada de 187.176 habitantes em cinco municípios: Afuá, Anajás, Breves, Curralinho e São Sebastião da Boa vista. A microrregião de Portel apresenta cerca de 110. 037 habitantes em quatro municípios: Bagre, Gurupá, Melgaço e Portel (WIKIPEDIA, 2010c).

A mesorregião do Baixo-Amazonas apresenta três microrregiões: Almerin, Óbidos e Santarém. A microrregião de Almerin apresenta uma população de cerca de 64.228 mil habitantes, distribuídos em dois municípios: Almerin e Porto de Moz. A microrregião de Óbidos constitui-se de uma população de 173.083 mil pessoas, encontrada nos cinco municípios: Faro, Juruti, Óbidos, Oriximiná e Terra Santa. A maior densidade populacional fica na microrregião de Santarém com uma população de 455.639 mil habitantes, ou seja, bem mais à frente das demais; sendo constituída por sete municípios: Alenquer, Belterra, Curuá, Monte Alegre, Placas, Prainha e Santarém (WIKIPEDIA, 2010b).

A mesorregião do Sudeste constitui-se de 39 municípios, distribuídos em sete microrregiões: Conceição do Araguaia, Marabá, Paragominas, Parauapebas, Redenção, São Félix do Xingu e Tucuruí. A microrregião de Conceição do Araguaia tem cerca de 115.950 habitantes, constituindo-se por quatro municípios: Conceição do Araguaia, Floresta do Araguaia, Santa Maria das Barreiras e Santana do Araguaia. A microrregião de Marabá apresenta a segunda maior população da mesorregião, estimada em 259.514 habitantes, e dividi-se em cinco municípios: Brejo Grande do Araguaia, Marabá, Palestina do Pará, São Domingos do Araguaia e São João do Araguaia (WIKIPEDIA, 2010e).

A mesorregião do Sudoeste apresenta duas microrregiões: Altamira e Itaituba. Na primeira, há em torno de 247.642 habitantes em oito municípios: Altamira, Anapu, Brasil Novo, Medicilândia, Pacajá, Senador José Porfírio, Uruará e Vitória do Xingu. Já a microrregião de Itaituba apresenta cerca de 272.781 habitantes. É cortada por duas importantes rodovias, a BR-163 (Rodovia Cuiabá-Santarém) e a BR-230 (Rodovia Transamazônica). Encontram-se nessa microrregião seis municípios: Aveiro, Itaituba, Jacareacanga, Novo Progresso, Rurópolis e Trairão (WIKIPEDIA, 2010f).

Então, o estado do Pará é constituído por seis mesorregiões. Algumas mais próximas, outras mais distantes no que tange ao aspecto geográfico. Todas mais ou menos diferenciadas naquilo que se refere ao aspecto social. Em cada região, podemos apontar, além das

microrregiões definidas acima, os municípios polos que as constituem e tendem a caracterizá- las, conforme a população, a atividade econômica e a formação social predominante:

Quadro 1-Título: Lista e Características das Mesorregiões do estado do Pará10.

MESORREGIÃO POLO(S) POPULAÇÃO MIGRAÇÃO ECONOMIA E

CARACTERÍSTICAS Metropolitana de Belém Belém Castanhal 2.437.297 137.157 Remonta ao período colonial: indígena, branca e negra.

Primeira cidade da Amazônia Comércio Serviços Turismo Indústrias-(alimentícias, naval, metalurgia, pesqueira e química) Madeireiras Baias e rios Nordeste Bragança Capanema 1..789.387 71.634 Remonta ao período colonial: indígena, branca e negra. Migração do nordeste (maranhenses). Polo pesqueiro; Extrativismo de Caranguejo; Pecuária;

Área desflorestada (2º maior índice de desflorestamento por km2 entre as mesorregiões) Turismo;

Maior produtor de açaí do estado;

Banhada pelo atlântico.

Marajó Soure

Salvaterra 487.010 2.465Remonta ao período colonial: Forte influência indígena- Caboclos. Agricultura: Côco; Fruticultura nativa:

Açaí segundo maior produtor do

estado),bacuri,murici,abricó,sa potilha, cajarana, abacaxi (exportação);

Área desflorestada (Menor índice de desflorestamento por km2 entre as mesorregiões) Baixo-Amazonas Santarém 736.432 49.359 Remonta ao período colonial: Forte influencia indígena- Caboclos. Extrativismo: madeira, borracha, castanha; Agricultura, juta, mandioca, jota, suínos, ovos, pesca; Indústria de fibra;

Processamento de pescado (exportação);

Rios Tapajós e Amazonas.

MESORREGIÃO POLO(S) POPULAÇÃO MIGRAÇÃO ECONOMIA E

CARACTERÍSTICAS

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A informação referente à quantidade de mesorregiões e às suas denominações é baseada em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados sobre a população total de cada região foram extraídos do censo 2010. Os dados concernentes ao fluxo migratório para cada mesorregião são do censo 2000. A informação referente ao censo 2010 ainda não foi tabulada pelo referido órgão. Os dados sobre o extrativismo de açaí e criação bovina também são do IBGE, no entanto, apresentam base interpretativa do Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Estado do Pará (IDESP).

Continua Continuação

Sudeste Marabá

Parauapebas 1.647.514 212.707Muito ocupada, no período da construção das Rodovias Federais Transamazônica e Belém-Brasília, por imigrantes goianos, mineiros, sulistas e maranhenses.

Maior rebanho bovino do estado. (10.868.241 cabeças) Extrativismo Vegetal

Polo Mineral de Carajás; Vocação agrícola e comercial; Muito desenvolvida nos últimos anos;

Rio Tocantins.

Área desflorestada (Maior índice de desflorestamento por km2 entre as mesorregiões. Duas vezes maior do que a segunda mesorregião)

Sudoeste Altamira;11

Itaituba 483.411 109.488Caracterizada pela migração, pelas rodovias federais ‘Santarém-Cuiabá’ e ‘Transamazônica’- área de fronteira da Amazônia Presença indígena

Segundo maior rebanho bovino do estado (3.184.561 cabeças);

Área desflorestada ( Terceiro

maior índice de

desflorestamento por km2 entre as mesorregiões. Quantitativo bem próximo do segundo)

Assentamentos–geram cidades como Anapu;

Agricultura; Extração de borracha e castanha-do-pará; Pecuária; Rios Araguaia e Xingu; Complexo potencial energético.

Total de População 7.581.051 582.810.000 Total de Imigrantes

Fonte: IBGE, Censo demográfico 2010. População residente por situação do domicílio e sexo-Sinopse (www.sidra.ibge.gov.br); IBGE, Censo demográfico 2011. População residente, por lugar de nascimento e sexo, segundo as Mesorregiões, as Microrregiões e os Municípios- Pará; Instituto de desenvolvimento sócio ambiental do estado do Pará (Idesp). Área desflorestada em km2 segundo Mesorregião−2000–2009

(http://www.sie.pa.gov.br/i3geo/relatorio.php).

O quadro acima aponta para algumas indicações. A mesorregião Metropolitana é a mais antiga e mais populosa, enquanto a mesorregião do Sudoeste do estado do Pará inversamente é a menos populosa. A primeira foi colonizada já pelos portugueses; a segunda recebeu colonização interna de imigrantes de outros estados brasileiros, incentivados pela construção de duas rodovias federais que possibilitaram a ocupação desse espaço. Esta última, ainda que seja a mesorregião com menor contingente populacional, é a que apresenta maior número de imigrantes, vindos, em sua grande maioria, do Sudeste brasileiro. O Sudoeste ainda é a região que, em suas áreas urbanas ou mesmo nos assentamentos rurais, apresenta o maior número de índios; é a parte do estado que mais possui reservas indígenas, ou seja, onde a presença indígena se faz mais marcante.

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É o maior município do país. Isto é bastante simbólico pelo fato de o Pará possuir a segunda maior extensão territorial do Brasil. Tal extensão irá redundar em várias consequências históricas, tais como certas diversidades geográfica, humana e econômica.

Justamente por caracterizar-se por esse cenário, pelo aspecto migratório, demonstra uma grande incidência de extrativismo vegetal, o que resulta em “noticiados” conflitos agrários. A geografia fluvial dos rios dessa região, favorecendo o surgimento de cachoeiras, imprimindo densidade e força às águas, potencializa a produção de hidrelétricas nesse espaço, muitas em fase de construção. Esse processo tem gerado debates ambientalistas acerca dos impactos ambientais envolvendo várias entidades, ressaltando-se, inclusive, a face resistente das comunidades indígenas.

Também a região Sudeste teve a formação de seus povoados e cidades estimulada, tanto pela Transamazônica quanto pela Belém-Brasília, duas rodovias federais que muito trouxeram para região imigrantes do Sudeste, Nordeste, Centro-Oeste e principalmente do Sul do país. Esta mesorregião é a que apresenta o maior índice migratório do estado do Pará. Neste caso, a maior proveniência migratória é do Sul do país.

A mesorregião Sudeste caracteriza-se pelo maior índice entre todas quanto ao desflorestamento, apresentando índices bastante superiores em relação às demais mesorregiões. Em segundo lugar, quanto a este índice temos a mesorregião Nordeste e logo em seguida a Sudoeste. Esta, apesar de estar em terceiro lugar, com índices bem próximos da segunda, caracteriza-se também pelos conflitos agrários.

Outras atividades econômicas as quais destacamos no quadro acima são a extração e o beneficiamento mineral, atividades que referendaram outros caminhos econômicos para a mesorregião Sudeste, estimulando bastante seu crescimento, atenuando um pouco a exploração ambiental, embora ainda presente. Esta mesorregião apresenta-se em grande destaque em relação ao rebanho bovino. Logo em seguida, aparece a mesorregião Sudoeste. A criação extensiva de gados nessas mesorregiões aponta para a formação de grandes pastos, fato que se mostra indicativo da existência de desmatamento nesta parte do estado.

As regiões ‘Metropolitana’, ‘Nordeste’, ‘Marajó’ e ‘Baixo-amazonas’, pelo que se demonstrou no quadro, apresentam maior similaridade, tanto em relação à formação populacional quanto em relação à economia e às características mais gerais. São as regiões mais antigas do estado, remontando, principalmente as três primeiras, ao período colonial, justamente pelo fato de a geografia física dessas facilitar o acesso das expedições colonizadoras, considerando-se a posição próxima ao oceano Atlântico dos municípios de Bragança (região Nordeste), bem como a existência da baía do Guajará (região Metropolitana). Essa favorece o adentramento de embarcações maiores, tanto em Belém como em Soure, no arquipélago do Marajó.

A mesorregião do Marajó é a que apresenta maior produção de açaí, inversamente às mesorregiões do Sudeste e Sudoeste do estado. Enquanto essas caracterizam-se pela grande produção de rebanho bovino, ou seja, por uma atividade que repercute diretamente na degradação ambiental, aquela caracteriza-se por uma atividade extrativista adequada à preservação ecológica. Os açaizais são palmeiras características da paisagem ribeirinha amazônica. Desse modo, a coleta e o consumo do açaí inserem-se na prática cultural alimentar, bem como na subsistência econômica, dos nativos paraenses. O Marajó, conforme apresentado no quadro acima, é a mesorregião com menor índice de desflorestamento no estado do Pará.

Apesar de a região do Baixo-amazonas não ser banhada pela baía, que tem contato direto com o oceano Atlântico, o fato de a grande costa da ilha do Marajó aproximar-se mais dos rios que levavam dessa região facilitou também a ocupação colonizadora naquele espaço geográfico. Assim, a densidade fluvial favoreceu o contato português com o espaço citado, de modo antecipado à ocupação das regiões Sudeste e Sudoeste paraense. Essas, mesmo sendo caracterizadas pelos rios, mostravam-se mais interiorizadas e de difícil acesso pela densidade florestal, vindo ocorrer nessas, de modo bem mais demorado, o surgimento das cidades.

Há duas paisagens bem distintas no estado do Pará, ambas caracterizadas por alcançarem grandes extensões. Uma remete à natureza, outra diretamente à intervenção humana. No caso, verificamos no estado do Pará os rios e as estradas. A primeira anterior ao colonizador português, a segunda por ele veio, para ele facilitou o acesso. A primeira é implicada na paisagem natural da floresta amazônica, está constitui-se numa imensa e “caudalosa” bacia hidrográfica. (WIKIPEDIA, 2010g) Desta, destaquemos o Amazonas, o Tapajós, o Tocantins, o Araguaia, o Xingu, o Guamá e a baía “banhando” a cidade de Belém, que se faz local de encontro do rio com o mar, fazendo o mar ser um pouco do rio e o rio um pouco do mar.

O Rio Amazonas é o segundo maior rio do mundo em extensão e o destacadamente maior em volume de água (WIKIPEDIA, 2010h). Nasce no Peru, outro país latino americano, e desemboca no rio Tocantins no estado do Pará. O Rio Tocantins, é o segundo maior rio brasileiro, ficando depois do São Francisco. Este banha a cidade de Marabá e Cametá, entre outras. Começa no estado de Goiás e desemboca no Pará. Esse rio, ao encontrar-se com o Araguaia, vai ser denominado de Tocantins-Araguaia, na região do “Bico do Papagaio”, localizada entre o Tocantins, o Maranhão e o Pará. No vale do Tocantins, encontra-se a maior concentração de castanheiras da Amazônia.

O Rio Araguaia faz uma espécie de limite natural dos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Pará (WIKIPEDIA, 2010i). Apesar de ser considerado um dos rios mais propícios à pesca do mundo, vem sofrendo uma diminuição na incidência de peixes, dada a pesca predatória e os impactos da hidrelétrica de Tucuruí. Tal ação tem contribuído para o assoreamento de certos trechos. É um rio caracterizado pela intensa quantidade de praias que se formam nos períodos de maior estiagem, proporcionado uma intensa atividade de acampamentos turísticos na região.

Outro rio que fica próximo à região do Araguaia, cortando principalmente o Sudoeste do estado do Pará, é o Rio Xingu (WIKIPEDIA, 2010m). Esse nasce no Mato Grosso e desemboca no Pará, próximo a foz do Amazonas. O parque indígena do Xingu localiza-se na cabeceira desse rio, daí constituir-se na principal fonte de alimentos de uma população de cerca de 4.550 indígenas que habita em suas margens. Conforme se ressaltou anteriormente, a preservação florestal dessa área motiva a ambição e ação dos exploradores da floresta, assim, ameaçando a sobrevivência do rio Xingu.

O Rio Tapajós é outro grande rio que se encontra com o Amazonas nas margens da maior cidade da região do Baixo-Tocantins (WIKIPEDIA, 2010k): Santarém. Também por esse rio pode-se viajar da região Sudoeste do estado, partindo-se do segundo maior município dessa região, Itaituba, para Santarém.

As duas grandes estradas federais que cortam ou chegam ao estado do Pará seguem o trajeto dos rios. São, elas, a Rodovia Cuiabá-Santarém (WIKIPEDIA, 2010n) e a “Transamazônica” (WIKIPEDIA, 2010o). A primeira, longitudinal, liga o Sul do país ao estado do Pará. A segunda, transversal, liga o Pará ao Nordeste.

Vários foram os objetivos para a implementação de rodovias nessa região. Pode-se destacar: a promoção da unidade territorial brasileira, a garantia da ocupação e crescimento econômico da Amazônia, a integração das regiões, a promoção de novas fronteiras produtivas. Ainda criar oportunidades para aqueles que não conseguiam se estabelecer em suas regiões, embora mais prósperas, no caso do sulista; ou apontar uma alternativa diante da escassez natural de sua própria região.

Por esse fio de sentido se construiu o fio discursivo para o empreendimento dessas imensas rodovias impondo-se à região amazônica, ao estado do Pará. Por elas esse se fazia o mais próximo entre os estados amazônicos.

A BR-163, denominada de Cuiabá-Santarém, tem 1780 km de extensão, com menos da metade desse trecho asfaltado, apenas 702 km. Possibilita o trajeto entre os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Pará, ou seja, do

Sul do país, passando pelo Centro-Oeste até o Norte. A parte asfaltada dessa rodovia refere-se a que serve aos estados do Sul e Centro-Oeste. A maioria da rodovia, justamente a parte não asfaltada, cerca de 1.152 km de estradas de chão, fica numa parte de Mato Grosso e no Pará, onde se localiza grande parte de sua extensão.

O acesso rodoviário ao município polo da região do Baixo-Amazonas é pouco beneficiado por essa rodovia, dada suas condições de trafegabilidade. Pela Santarém-Cuiabá, provavelmente, chegaram a maior parte dos trabalhadores e grileiros da região. Talvez, por ela, também vieram fazendeiros e madeireiros, a maioria, muito possivelmente usaram do meio de transporte aéreo.

A BR-230, denominada de Rodovia Transamazônica, é outra estrada federal construída na época da ditadura militar, ressaltando o caráter agressivo de se promover a ocupação territorial do país. Foi projetada pelo presidente Emílio Garrastazu Médici (1969 a 1974). Gigantesca obra, é quatro vezes maior que a Cuiabá-Santarém, numa extensão de 4.977 km. Terceira maior rodovia do Brasil, atravessa sete estados, quatro ao Nordeste do país (Paraíba, Ceará, Piauí e Maranhão) e três ao Norte (Tocantins, Pará e Amazonas).

Tal como a anterior, essa estrada federal não é pavimentada, principalmente no trecho que se relaciona ao território paraense. Por ela, as regiões Norte e Nordeste podem acessar, ainda que em desfavoráveis condições, o Peru e Equador, por meio rodoviário. Essa rodovia, dada sua maior extensão e fazendo confluências com a Cuiabá-Santarém e a Belém-Brasília; foi a que mais concorreu para ocupação do Sudoeste e mais efetivamente do Sudeste do estado do Pará. Assim, contribuiu sobremaneira para exploração irregular e abusiva da floresta, bem como para a ocupação irregular das duas regiões citadas, motivando o acirramento de conflitos.

Portanto, os rios se constituíram como roteiro para a abertura das estradas no território paraense. Rios e estradas, estradas e rios, por esse trajeto se evidenciam saberes e poderes configurando um espaço e uma identidade para esse espaço, essa paisagem humana em movimentos e tensionamentos no estado do Pará.