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4.3 DIMENSÃO CONCEITUAL: DELINEAMENTOS E POSICIONAMENTOS

4.3.2 Espaçotempo da Educação Marista

Na sequência da terceira etapa, detivemos nossas discussões acerca do Espaçotempo da Educação Marista. Baseado na tradição educativa marista, hoje se propõe um Projeto Educativo em que o educando é sujeito, protagonista, autor do seu processo, com uma visão de pessoa como sujeito ativo em complexa interação, pois suas vivências humanas, sociais e culturais vão se ‘com-formando’, socializando e construindo subjetividades. Assim, no Projeto Educativo, (2010, p. 52):

a educação, de acordo com a visão de Marcelino Champagnat, é mais do que um processo de transmissão de informações: é um meio poderoso de formação e transformação das mentes e dos corações das crianças e dos jovens. Nessa perspectiva, a proposta educativa e a proposta de evangelização identificam-se, inter-relacionam-se, não são antagônicas.

Na escola, a equipe diretiva, a partir de seu processo de gestão, adota políticas e práticas que sustentam o processo de ensino e aprendizagem.

No Projeto Educativo, (2010, p. 52):

A educação marista assume uma concepção cristã e sistêmica da pessoa humana na configuração de uma educação integral, de modo a educá-la na e para a solidariedade, formando agentes de transformação social e encorajando-os a assumir sua responsabilidade pelo futuro da humanidade.

A gestão educacional deve assumir um pensar sistêmico, pensando o todo do processo educativo, não engavetado ou setorizado. Setores existem para tornar o processo fluido e viável, mas todos devem pensar o processo como um todo, pois o resultado final é a formação integral do sujeito. Segundo Luck (2011, p. 23):

Daí a importância da gestão educacional, na determinação desse novo destino, uma vez que, a partir de seu enfoque de visão de conjunto e orientação estratégica de futuro, tendo por base a mobilização de pessoas articuladas em equipe, permite estabelecer a devida mobilização para maximizar resultados.

Nesse sentido, ampliamos a discussão da equipe partindo do pressuposto de que não devemos separar evangelização de educação, pois seria considerar a evangelização relacionada aos processos voltados ao setor de pastoral, e a educação voltada aos processos de ensino e aprendizagem do setor pedagógico. Precisamos sim criar sinergia nos conceitos e processos e capacitar as pessoas numa mesma sintonia.

É perceptível que o documento do Brasil Marista, bem como o Planejamento Estratégico da Rede de Colégios aponta para a prestação de um serviço de excelência à comunidade por meio da formação humana de excelência com alto desempenho acadêmico. Isso implica formação e fidelização de equipes de docência e de gestão, com qualidade na entrega dos serviços. Aliado a isso, necessita-se de um currículo dinâmico, aberto e focado na aprendizagem no espaçotempo escolar.

Ao integrar as opções pedagógico-pastorais, o Projeto Educativo do Brasil Marista ressalta a ímpar decisão que as escolas maristas devem fazer com suas equipes de gestão e de docência, pois se torna necessário incorporar nas práticas curriculares a promoção de competências interligadas às práticas sociais, com diálogo e relação entre o rigor científico, ética cristã, ciência e fé.

O Projeto Educativo Marista (2010), ao apontar para uma educação crítica e novas e criativas formas de educar para atingir resultados satisfatórios, toma como necessidade decisões estratégicas de caráter pedagógico; que implicam nova metodologia de ensino e nova organização curricular e de caráter financeiro, fazendo-se necessário a ‘garantia’ de investimentos que viabilizem de fato a qualidade desejada.

Concordamos que o Projeto Educativo viabiliza uma educação processual, inter-relacionada, convergindo para o mesmo fim, uma educação evangelizadora de qualidade, o que significa bons processos em sala de aula e mesmo fora dela, nos diversos setores e espaços. “A escola é compreendida como espaçotempo, pois se materializa num tempo e lugar localizados, precisos, específicos, numa história e geografia cotidianas, nas quais nos formamos como sujeitos da educação – educação marista” (PROJETO EDUCATIVO, 2010, p. 53).

O espaçotempo da educação marista se destaca pela multiplicidade, pois alarga suas fronteiras nas regionalidades, na pluralidade cultural, nos muitos Brasis que os constituem. Nesse sentido, O Projeto Educativo (2010, p. 53-54) ressalta que:

os espaçotempos da educação marista são polissêmicos e polimorfos, possuem uma multiplicidade de sentidos e formas. Isso implica levar em conta que os espaços, tempos e relações são significados e organizados de forma diferenciada pelos seus sujeitos, dependendo da cultura e dos projetos dos diversos grupos neles existentes.

Luck (2011, p. 43), destaca que:

A gestão, portanto, é que permite superar a limitação da fragmentação e da descontextualização e construir, pela ótica abrangente e interativa, a visão e orientação de conjunto, a partir da qual se desenvolvem ações articuladas e mais consistentes.

A escola marista é espaçotempo de missão, dinamizando os princípios e valores da educação marista com participação de todos os atores e sujeitos da escola. Dessa forma, contempla “os desafios da educação contemporânea advindos de múltiplos cenários, o compromisso da educação com esta geração de crianças, adolescentes, jovens e adultos e efetivação do compromisso social da escola” (PROJETO EDUCATIVO, 2010, p. 54).

As múltiplas infâncias, adolescências, juventudes e vida adulta compõem um cenário complexo, composto de distintas categorias sociais, significando cada realidade, pressupondo os estudantes como sujeitos de direitos e vendo a escola um espaçotempo privilegiado para a promoção desses direitos. Dali, resultam modos de pensar e de viver nos aspectos políticos, sociais, econômicos e culturais, incluindo aspectos familiares, étnicos, raciais, religiosos e geográficos específicos. Segundo o Projeto Educativo (2010, p. 57)

cada escola, sala de aula e grupo convive uma multiplicidade de crianças e infâncias, adolescentes e adolescências, jovens e juventudes, adultos e modos de vida adulta, o educador marista deve promover o diálogo e possibilitar a inclusão de todas e todos, reconhecendo-os como sujeitos de direitos.

Enquanto equipe, sentimo-nos impelidos a buscar, inspirados no Projeto Educativo, no Regimento Escolar, nas Diretrizes da Ação Evangelizadora, um norte para criar um currículo capaz de nos aproximar da nossa missão, de atender aos

espaçotempos. Entendemos nossa missão, além de desafiadora, visível aos apelos que hoje se apresentam. Percebemos uma possibilidade de oferta de uma educação apaixonante, que, conforme o Projeto Educativo (2010, p. 55), busca na inter-relação dos sujeitos uma

concepção integrada e integradora da pessoa, da sociedade e do mundo, bem como a construção de uma nova consciência e mentalidade, capazes de compreender, dialogar, e relacionar-se com sistemas complexos e abertos, como são os sistemas vivos, os sistemas sociais e os sistemas culturais.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998, p. 363-364), cabe à escola, na diversidade e multiculturalidade, atuar com os sujeitos da seguinte forma:

Trabalhar de modo cooperativo, organizar-se em grupo em função de objetivos comuns, elaborar e desenvolver projetos, gerenciar o tempo e o espaço, estabelecer relações de respeito mútuo e autonomia no trabalho e com as figuras de autoridade, posicionar-se, argumentar, afirmar seu ponto de vista e compreender os outros, reivindicar o que considera justo para si e para os demais, propor mudanças, são aprendizagens fundamentais ao cidadão trabalhador/ consumidor, uma vez que se referem a capacidades e conteúdos importantes para atuar de modo autônomo nas relações sociais e políticas.

O Projeto Educativo (2010, p. 56) assume a concepção de que mulheres e homens “são sujeitos inteiros, diversos e diferentes que se relacionam com o mundo, com os conhecimentos e saberes a partir de sua inteireza e sua singularidade”. Isso inspira um estilo pedagógico marcado pela preferência pelos mais fracos, pela delicadeza no trato, pela entrega generosa, pela não discriminação, pelo saber dissimular as dificuldades alheias, para a formação de nossos educandos na busca do exercício da cidadania em favor de um mundo melhor.

Enquanto escola nos percebemos seguidas vezes atrelados a medidores externos, focados de forma acirrada nos resultados acadêmicos, citando especialmente ENEM e vestibulares. Assim reproduzimos um sistema baseado no resultado final, importando-se poucas vezes com o processo. “Enquanto sujeito, nem sempre a equipe e a mantenedora olha para os professores em especial, como sujeitos principais na condução desse processo. Por vezes, cobra-se o que não se deu condições de oferecer” (Sujeito B).

Há uma acentuada necessidade de organizar um currículo composto a partir da intencionalidade do processo formativo, com respeito às diferenças e subjetividades dos sujeitos. Da mesma forma, a metodologia acena para um percurso que educadores e estudantes traçam para a construção dos conhecimentos, competências, valores e discursos.