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CAPÍTULO 2 ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS APLs: CARACTERIZAÇÃO,

3.1 Especificidades da Mineração

A indústria mineral tem características especiais que a diferencia dos demais segmentos econômicos. Como reflexo, sobretudo, do tipo de substância mineral produzida, essas peculiaridades possuem diferentes causas e proporcionam impactos de variadas amplitudes nas condições de mercado e na competitividade da atividade mineral27.

O ponto de partida dessa diferenciação da mineração é decorrente da natureza do produto dessa indústria – os bens minerais. Trata-se de recursos naturais não-

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Não obstante as diferenças da mineração em relação a outras atividades econômicas no que tange a instituições, tecnologia, grau de competição e comportamento do mercado, Nappi (1996), como tratado também por Coelho (2001), avalia que esse setor pode ser abordado a partir dos mesmos instrumentos

renováveis, cuja localização é intrínseca ao ambiente geológico, o que, consequentemente, condiciona a instalação e o desenvolvimento da atividade mineral.

Os recursos não-renováveis, especialmente minerais e rochas, compreendem substâncias que têm seus estoques naturais sujeitos à exaustão. Embora os processos geológicos tenham condições de formação e acúmulo de novos estoques, a escala de tempo geológico é incompatível com a depleção de reservas que se dá pelo consumo na escala humana.

A tendência de escassez das substâncias minerais tem sido minimizada pela incorporação de novos processos e inovações tanto por parte da indústria mineral quanto pelos setores de consumo. O progresso das tecnologias prospectivas e de tratamento dos minérios faz com que haja uma contínua incorporação de uma quantidade cada vez maior de recursos à dimensão de reservas. Complementarmente, a expansão da reciclagem de materiais pelas indústrias consumidoras, aliada à otimização dos processos de transformação das substâncias minerais e ao desenvolvimento de sucedâneos de melhor desempenho, tem ampliado o horizonte de suprimento de parcela importante dos recursos minerais (KULAIF, 2001).

Característica fundamental da mineração está relacionada à natureza e à singularidade das jazidas minerais. Enquanto componente básico dessa atividade econômica, as jazidas se constituem em condicionante fixo da produção, distinguindo-a de outras indústrias. Essa rigidez das jazidas é expressa na sua localização (rigidez locacional28) e em outros fatores que interferem diretamente no seu aproveitamento econômico, como dimensão e qualidade das reservas. A singularidade dos depósitos minerais, a qual se manifesta pelo caráter particular de suas condicionantes e propriedades naturais, implica a necessidade de pesquisas tecnológicas ou, ao menos, a constante adequação dos processos correntes de lavra e beneficiamento às características espaciais e qualitativas das mineralizações.

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Diferentemente de outras atividades econômicas que gozam de certa liberdade quanto à sua fixação locacional e podem ser remanejadas, caso isto seja conveniente, a atividade de mineração tem uma dependência definitiva com os condicionamentos geológicos, pelo fato de ter que se desenvolver exatamente onde a natureza possibilitou a acumulação mineral.

Essas peculiaridades da indústria mineral têm conseqüências diversas, podendo, por exemplo, funcionar como uma barreira à entrada de novos competidores ou limitar os efeitos que se poderia obter com uso mais intensivo de tecnologias modernas.

A implantação de uma mineração envolve uma série de atividades técnicas e o cumprimento de exigências legais que a diferenciam e a tornam mais complexa do que a maioria dos negócios relacionados às indústrias de transformação e de serviços. Como etapa prévia à produção, incluem-se os trabalhos de prospecção e pesquisa mineral (identificação, quantificação e qualificação de reservas), os estudos de tecnologia mineral e de lavra para a definição de rotas mais adequadas para o aproveitamento dos minérios (extração e beneficiamento) e a avaliação de impactos e procedimentos de recuperação ambiental da área minerada. Tudo isso faz com que o tempo de maturação de um empreendimento mineral seja elevado. A depender de uma série de variáveis – entre outros, tipo de substância, porte da mineração, processo de lavra e beneficiamento, características do território abrangido, como áreas mais restritivas a implantação de empreendimentos (áreas especialmente reservadas, de proteção ambiental, etc.), o prazo que decorre entre o início dos trabalhos prospectivos e a operação da mina pode variar na escala de dois a quatro anos a até uma década (CABRAL JUNIOR; OBATA; SINTONI, 2005). Com a finalização da atividade produtiva pelo esgotamento das reservas, dá-se a fase de descomissionamento da mina, por meio da recuperação e reabilitação da área impactada para o seu uso por outras atividades (econômica, de lazer, cultural, de preservação ambiental, etc.).

Coelho (2001), ao analisar a competitividade da mineração e subsidiando-se em estudo de Chappius (1995), destaca outros fatores fundamentais no seu desempenho, além das condicionantes naturais, como disponibilidade e qualidade dos recursos, situação geográfica (que influencia os custos de transporte e ambientais), e facilidades de acesso à pesquisa e lavra. Dessa forma, a competitividade na indústria mineral depende também de fatores atribuídos a características mais abrangentes, institucionais e econômicas, como políticas de acesso aos recursos minerais, grau de estabilidade política e econômica, legislação ambiental, acúmulo de conhecimentos tecnológicos, nível de capacitação empresarial, disponibilidade e qualificação de mão- de-obra, entre outros.

Outra característica importante da atividade mineral é a sua regulamentação extensiva, sendo intensamente controlada por legislação desde as etapas pré- produtivas de prospecção e pesquisa mineral e que prossegue na fase de lavra e comercialização.

Serra (2000 apud KULAIF, 2001) observa que os recursos minerais por constituírem bens relativamente raros, essenciais e insubstituíveis são considerados patrimônio da nação na Constituição da maior parte dos países, conferindo ao seu aproveitamento tratamento jurídico e institucional diferenciado do aplicado a outras atividades econômicas29. Completando essa argumentação, para Kulaif (2001) a explicação para esse forte controle da atividade mineral é corroborada, de forma geral, por outros três fatores externos: pelo acesso ao recurso mineral definir-se juridicamente como independente da propriedade do solo, por ter a mineração tendência de competir e conflitar com outras formas de uso e ocupação do meio físico, e por ser considerada como atividade altamente impactante ao meio ambiente e causadora de transtornos à coletividade dos entornos.

Estabelecendo uma ponte de análise entre a regulamentação da atividade mineral, suas peculiaridades locacionais e o interesse da sociedade na compatibilização das diversas formas de uso e ocupação do espaço geográfico, fica evidenciada a importância do poder público em considerar a mineração quando da formulação do ordenamento territorial como um dos instrumentos de promoção do desenvolvimento local e regional.

Sob o enfoque mais localizado, a mineração deve ser considerada como forma individualizada de uso e ocupação do solo, cabendo ser inserida no planejamento do

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Pela Constituição do Brasil, os recursos minerais são bens da União e somente podem ser lavrados com sua autorização ou concessão. O concessionário tem a garantia da propriedade do produto da lavra e a obrigação de recuperar o meio ambiente degradado.

O Código de Mineração (Decreto – lei no 227, de 28 de fevereiro de 1967), conjugado com a legislação correlata, é o instrumento básico legal que dispõe sobre as formas e condições de habilitação e execução das atividades de pesquisa e lavra de substância minerais, sendo sua aplicação da alçada do Departamento Nacional da Produção Mineral – DNPM (Ministério de Minas e Energia – MME).

Na legislação ambiental, a mineração é classificada como atividade potencialmente modificadora do meio ambiente, estando sujeita, entre outros, ao processo de licenciamento ambiental, de competência dos órgãos integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente – Sisnama.

desenvolvimento socioeconômico de cada município ou dos arranjos intermunicipais, em consonância com as diretrizes maiores do Estado. O tratamento da mineração dentro da estruturação e institucionalização do ordenamento espacial dos territórios tem o intuito de promover a racionalização do aproveitamento dos recursos minerais, uma melhor compatibilização dessa atividade produtiva com as demais aptidões, já estabelecidas, potenciais ou previstas em legislação, e garantir o suprimento de insumos minerais, o que se reveste de particular importância nas aglomerações de base mineral.