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Fotografia 53 – A3

Isso é o leão da coragem, que todo mundo chama, e a plaquinha de quem ajudou a construir aqui. É bastante importante a ajuda deles. (A7)

Fotografia 54 – A7

Com relação à companhia, A7 demonstrou tristeza ao visualizar, na fotografia que tirou, o leito que ocupa no hospital. Contudo, seu intuito foi registrar, em imagem, a poltrona ao lado do leito, a qual representa algo bom, mostrando que ela nunca está só, que sempre tem alguém querido, que há alguém ao seu lado para ampará-la e dar-lhe forças em todos os momentos:

Me sinto triste quando vejo a cama, porque eu queria estar em casa, mas essa foto é da poltrona. É porque sempre tem alguém do meu lado. Eu nunca tô sozinha (A7).

Fotografia 55 – A7

demonstraram positividade com relação ao tratamento e à cura próxima, expondo seus desejos de um retorno ao mundo da vida anterior ao hospital.

A esperança reflete uma percepção individual acerca da habilidade do indivíduo em conceituar objetivos, desenvolver estratégias para alcançá-los e sustentar a motivação para usar essas estratégias (CHI, 2007).

Esperança é considerada, então, uma estratégia efetiva de lidar com o câncer, provendo um poder de adaptação para ajudá-los a passar pelas situações difíceis e conquistar seus objetivos desejados (EBRIGHT e LYON, 2002). Neste sentido, alguns adolescentes almejam coisas maiores, outros, coisas palpáveis e relativamente fáceis. Na maioria das vezes, almejam apenas ser o que eram, continuar no seu processo de formação de identidade, de vínculo intenso com seus pares, de liberdade. Várias falas são exemplos do anteriormente descrito:

Vou ficar melhor! (A2)

Eu vou vencer de novo. (A7)

Penso em melhorar pro futuro. Tô confiante! (A3)

Eu espero que dê tudo certo pra mim e pra minha família. O que eles mais esperam é isso também. De voltar a encontrar meus amigos. (A6)

A esperança é uma qualidade interna que mobiliza as pessoas no sentido de ações voltadas para um objetivo que pode ser satisfatório e que sustente suas vidas.

Um sentimento de esperança é capaz de produzir o aumento na participação dos comportamentos positivos que buscam a saúde e, ainda, um aumento do sentido de bem-estar (RITCHIE, 2001). Sonhos simples que se tornam complexos quando o câncer faz com que o cotidiano, mesmo com a cura, possa ser diferente do que era antes e, desta forma, acabe com alguns destes sonhos, como é o caso do relato de A6:

Penso em voltar a caminhar, ter um emprego bom, voltar a estudar... Eu penso assim positivo, tento até nem pensar muito nisso... Eu tento pensar que vou voltar a caminhar sabe, fazer o que eu fazia antes (A6).

Quando questionado acerca da possibilidade de não voltar a caminhar após a amputação de sua perna, A6 responde, ainda positivo:

É melhor [estar curado, mas não voltar a caminhar], mas eu não vou poder fazer as coisas que eu fazia antes... Antes eu corria, jogava bola, fazia tudo (A6).

A percepção de A6 sobre o que “poderia ser pior” na sua situação já havia sido abordada em estudo realizado por Hinds e Martin (1988), no qual exploraram o processo do adolescente com câncer para conquistar a esperança. As estratégias que mais se destacaram foram os pensamentos positivos, como: “poderia ser pior”,

“eu já cheguei até aqui...”, “Deus vai tomar conta de mim” e “outros têm esperança por mim”. Por meio destas falas, os adolescentes procuraram voltar à normalidade, fazer algo a respeito de sua situação, olhar pra trás e ver os outros.

A4 falou a respeito de seu retorno à atividade física como prioridade, e complementou falando sobre um gesto grandioso que pretende realizar quando do término do tratamento:

Agora tô me sentindo um pouco melhor. Quando eu sair, eu espero continuar fazendo um pouco de musculação. Se eu for tratado a tempo, tem a questão de eu poder sair pra rua e o que eu pretendo fazer quando for tratado totalmente é trazer alguns brinquedos ou jogos que eu tenho em casa separado, minha mãe separou, trazer pras crianças daqui, pra que elas se sintam do jeito que eu me senti enquanto eu tava na recreação, quando tava me sentindo descontraído (A4).

Outro estudo que investigou o impacto do diagnóstico de câncer no comportamento da atividade física dos adolescentes constatou que eles, quando tratados para o câncer, experienciam um declínio significante na atividade física, a qual não é recobrada em seguida ao final do tratamento (KEATS et al, 2006).

Já A7 expõe o desejo de dar continuidade aos estudos, bem como ter uma carreira profissional de sucesso, mesmo com todas as adversidades impostas pelo câncer:

Queria fazer advocacia e, mais tarde, ser juíza. Nem que seja lá com quarenta, mas eu vou realizar esse sonho. Vou fazer supletivo, aí vou entrar na faculdade estudando que nem louca! (A7)

A vida é existência, apresentando os significados e valores concedidos pelo ser no mundo. É vivendo no mundo que o ser humano tem “possibilidade de crescer e desenvolver suas potencialidades”. Assim, ao estar no mundo, o ser humano possui a perspectiva de “vir a ser” (MOTTA, 1997, p. 80). O ser-no-mundo vive,

simultaneamente, o mundo dos objetos, o mundo natural, o mundo das relações com seus semelhantes e o seu mundo pessoal, das relações consigo mesmo (CAPPARELLI, 2004).

Os adolescentes mostraram-se, também, bastante inclinados a permanecer por alguns momentos em reflexão, de preferência no leito, longe das outras crianças, dos profissionais e dos pais, apenas em silêncio para analisar sua vida, suas condutas, suas percepções desse mundo novo. Referiram gostar dos momentos de solidão, no entanto apontaram o lado negativo de permanecer só: a propensão para pensar a respeito de coisas negativas. A literatura relata que o tempo que o adolescente passa com a família reduz muito entre os 10 e 18 anos, não porque a rejeitem. Para Papalia, Olds e Feldman (2006), eles preferem ficar mais no quarto talvez porque precisem ficar sozinhos para fugir das demandas dos relacionamentos sociais, para recuperar a estabilidade emocional e para refletir sobre questões de identidade.

Gosto de ficar pensativa, sozinha... Às vezes, penso muita bobagem! Às vezes, bate a deprê. Mas prefiro ficar aqui [no quarto]. (A7)

A9 registrou em fotografia um lugar importante para ela e que passou despercebido pela pesquisadora quando da revelação das fotografias, momentos antes da entrevista: o teto acima do seu leito hospitalar.

Esse aqui é o teto que fica em cima da minha cama. Ali ficam meus pensamentos, meus fantasmas... Eu fico deitada ali olhando [... ]Às vezes, quando eu tô entediada de noite, eu fico olhando pra ele.(A9)

Fotografia 56 – A9

E complementa, falando sobre o que pensa quando está só:

Penso em tudo, penso em casa, na minha família, na doença, no tratamento. Quando tu tá ali, sem fazer nada, tudo passa na tua cabeça. Me sinto mal por ter que olhar aquilo ali sempre, sem ter outra opção pra fazer (A9).

O ideal seria manter o foco no nível evolutivo do adolescente, ao invés de sua idade cronológica ou de seu diagnóstico, enfatizando suas capacidades e as fortalecendo. Para Hockeberry, Wilson e Winkelstein (2006) o enfermeiro, freqüentemente, está em posição estratégica para redirecionar o foco da atenção do modelo patológico, deixando de lado o foco na fraqueza e problemas, para o modelo evolutivo, com o objetivo de atender as necessidades únicas do adolescente e de sua família.