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A seguir, representado na Figura 1, encontra-se o esquema conceitual proposto com base nas articulações teóricas descritas ao longo desta dissertação. Em suma, sintetiza-se que as práticas de gestão ordinária presentes nos processos de organizar na atividade artesanal influenciam e são influenciadas pelas relações com os diferentes elementos que as circunscrevem.

Permeados por essas práticas cotidianas, encontram-se em uma interação dinâmica: relações familiares; produção e conhecimento. Essas práticas cotidianas, conforme nos ensina Certeau (1998), acontecem em meio a espaços e lugares, em temporalidades específicas. Por fim, advoga-se que essas práticas de gestão ordinária nos processos de organizar permitem a sobrevivência na atividade artesanal. A opção por utilizar as linhas pontilhadas nos elementos abaixo representados na Figura 1, deve-se ao fato de enaltecer o caráter dinâmico e reflexivo nas relações entre eles.

Figura 1 - Esquema conceitual para análise da gestão ordinária no organizar artesanal

Fonte: Elaborada pelo autor

Considera-se que as relações com contextos externos e institucionais à atividade artesanal perpassam por: elementos econômicos - tais como a situação macroeconômica e microeconômica do país; influências de órgãos regulamentadores – políticas públicas do estado e prefeituras; como também são referentes a outras organizações que se relacionam com o artesanato – por exemplo, o SEBRAE e Associações. Todavia, essas relações não somente influenciam como também são influenciadas pelas práticas cotidianas de gestão ordinária, uma vez que a base epistêmica adotada permite a afirmação de que existem redes de relações que

permitem aos artesãos atuarem de maneira reflexiva às influências

externas/institucionais.

O resistir do artesão se manifesta em diferentes tipos de práticas cotidianas, como por exemplo no habitar e caminhar dos diferentes espaços urbanos. Essa argumentação se sustenta nos ensinamentos de Certeau (1998), que sugere ao pesquisador uma

imersão no universo das cidades, visto compreender as diferentes práticas que sustentam as formas de ocupação desses lugares. Dito de outro modo, as práticas cotidianas de gestão ordinária estão entrelaçadas nos diferentes usos dos sujeitos (artesãos) em relação à cidade de Piúma (ES), perpassando por estratégias legitimadas em locais de poder, como também em transgressões que rompem com esse poder em práticas de resistir sutis.

As práticas cotidianas são indicadas em sua interação com dois elementos, discutidos separadamente na seção teórica, a saber: relações familiares e produção e conhecimento. Ademais, considera-se que a relação de espaço e tempo são de fundamental importância ao entendimento das práticas cotidianas em Certeau (1998). Por exemplo, as táticas se manifestam em microações oportunas condicionadas às redes de relações de forças (estratégias), sendo relevante considerar as condições espaço-temporais em que elas ocorrem.

As relações familiares são relativas às vidas pessoais dos artesãos. Com base no entendimento de gestão ordinária, por se tratarem de negócios de pequeno e médio porte, a separação entre a vida familiar e pessoal e a gestão de negócios não acontece de maneira evidente (CARRIERI; PERDIGÃO; AGUIAR, 2014). Reconhece-se, portanto, que as práticas cotidianas de gestão ordinária nos processos de organizar e Piúma (ES) estão entrelaçadas nas relações pessoais, como também nas interfaces dos artesãos com suas famílias. Essa característica coaduna com a investigação do artesanato, uma vez que nessa atividade não existe separação estanque entre casa e produção (SENNET, 2009).

A gestão ordinária do conhecimento, conforme explanado anteriormente, é um componente de extrema relevância na atividade artesanal. Isso porque, conforme salienta Sennet (2009), o conhecimento é um fator crítico que agrega valor (inclusive monetário) à prática artesanal. Nesse sentido, considera-se que a gestão ordinária do conhecimento é um elemento que está imerso nas atividades artesanais em práticas cotidianas, isto é, em diferentes estratégias e táticas (CERTEAU, 1998). Essas práticas são executadas em meio às relações dos artesãos nas produções de diferentes saberes e fazeres. Esse jogo ordinário acontecem nos processos de organizar da produção em Piúma (ES) por meio de: utilização de diferentes técnicas;

apropriação de diferentes usos de ferramentas; compras de materiais primas; como também em meio ao cotidiano de vendas dos produtos.

As culturas ordinárias e plurais (CERTEAU, 2012) aparecem como pano de fundo para todo o esquema conceitual adotado. Essa escolha se deve ao fato de que se considera as culturas como fenômenos que são produtos e produzem os elementos apresentados na Figura 1. As culturas têm sua formação no cotidiano (CERTEAU, 2012), atravessada pelas diferentes práticas cotidianas realizadas pelos sujeitos (CERTEAU, 1998). Por essa razão, as culturas são fenômenos que estão entrelaçados de maneira dinâmica com todos os outros elementos citados no esquema conceitual.

Por fim, considera-se que a própria dinamicidade presente entre os elementos constituintes das práticas cotidianas imbricados na atividade artesanal permite a sobrevivência na atividade. Em suma, a proposta do esquema proposto na Figura 1 resume-se em investigar: como as práticas da gestão ordinária se organizam nas artes de sobrevivência dos artesãos, no campo do artesanato de conchas em Piúma (ES)? Após a explanação do esquema conceitual adotado nesta dissertação, no próximo capítulo apresentam-se os procedimentos metodológicos adotados, tais como: a classificação da pesquisa; a seleção dos sujeitos; os procedimentos de coleta de dados; e as técnicas de análise desses dados.

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