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O Estádio do Sport Lisboa e Benfica

No documento Mafalda Dourado Santos de Oliveira Ramalho (páginas 101-104)

CAPÍTULO III – A GESTÃO URBANÍSTICO-DESPORTIVA DOS ESTÁDIOS

2. Os “Estádios do Euro 2004” algumas das questões urbanísticas suscitadas a par

2.1. O Estádio do Sport Lisboa e Benfica

O Estádio do Sport Lisboa e Benfica, ou também designado Estádio da Luz, é um estádio de futebol, localizado na cidade de Lisboa, foi construído ex novo, com capacidade para 65 647 mil espetadores. No âmbito da realização do Campeonato Europeu de Futebol, em 2004, procedeu-se à demolição do antigo Estádio da Luz e construiu-se a nova Catedral, juntamente com dois pavilhões gimnodesportivos e um complexo de piscinas, em local adjacente, tendo este sido, inclusivamente, palco da final da Liga dos Campeões. A par disso, três anos depois, inaugurou, no Seixal, o local que alberga o Caixa Futebol Campus.

102 Embora a direção do clube tivesse já anteriormente decidido avançar com a modernização do antigo estádio, acabou por entender ser mais compensatório a opção pela construção de um novo equipamento coletivo do que propriamente a reabilitação do anterior. No entanto, a demolição do antigo e a adjudicação da obra para a construção do novo foram sujeitas à aprovação pelos sócios do clube, o que atrasou em larga medida todo o processo, fazendo com que o projeto fosse aprovado no último dia permitido e a sua construção arrancasse no último dia possível263.

No âmbito da construção deste estádio, as questões urbanísticas essencialmente suscitadas reduziram-se à área de loteamento dos terrenos em área designada por Urbanização Norte do Sport Lisboa e Benfica.264 Acontece que, em 1969, a CM de Lisboa vendeu ao Sport Lisboa e Benfica (doravante designado por SLB) duas parcelas de terreno confinantes e exclusivamente destinadas à edificação da sede do clube e à construção do estádio, de campos de jogos e arruamentos, tendo sido admitida na escritura a possibilidade de nessas mesmas parcelas se poderem instaurar outros tipos de usos. Em contrapartida, o SLB doou à CM de Lisboa um prédio, sito em Lisboa, e uma determinada quantia monetária, pelo que qualquer aumento de área de construção que a CM autorizasse, e que não se destinasse a instalações desportivas, ficaria sujeita ao pagamento de uma compensação. Mais tarde, a CML emitiu o Alvará de Loteamento n.º 15/89, onde consignou que os lotes que titulava se destinavam somente a habitação. Em 2001, a Sociedade Construtora de Pavilhões, Lda., requereu àquela a aprovação do projeto de arquitetura e o licenciamento da construção de um edifício a implantar no Lote 11 do referido alvará. Nestes termos, os serviços camarários, em 2002, procederam à elaboração de uma informação sobre o pedido no qual concluíram que “o presente processo, referente à construção nova de um edifício destinado a escritórios, a localizar em área designada por Urbanização Norte do Sport Lisboa e Benfica, se encontrava sujeita a autorização administrativa, nos termos da alínea c) do n.º 3 do artigo 4.º do Decreto-lei n.º 555/99, e não a licença administrativa solicitada pela requerente”. Com efeito, verificou-se uma discrepância entre os usos propostos no requerimento levado a cabo pela Sociedade Construtora de Pavilhões, Lda., e os consignados no alvará, isto porque a CML, como

263 Recentemente, foi noticiado que, por decisão de uma reunião com sócios do clube, o Estádio irá sofrer

novas obras de modernização, essencialmente centradas na iluminação (a implementação de luzes LED mais eficientes e ecológicas) e o reforço da rede dos telemóveis e do acesso à Internet em dias de jogo. Cfr.

Jornal Record, Modernização do Estádio da Luz vai avançar, disponível in

https://www.record.pt/futebol/futebol-nacional/liga-nos/benfica/detalhe/modernizacao-do-estadio-da-luz- vai-avancar, acedido em 08.06.2020.

103 vimos, emitiu-o prevendo que os lotes se destinavam à edificação de prédios para habitação e não para a construção de edifícios destinados a escritórios, como pretendia a sociedade. Nesse sentido, e uma vez indeferida tal pretensão, a sociedade veio posteriormente requerer à CML, ao abrigo do disposto no artigo 148.º do CPA, a

retificação do erro material existente no alvará de loteamento de modo a que se

alterassem os usos previstos para «escritórios e serviços». Sobre isto, depois de solicitados vários pareceres a diversas entidades265, a CML, em 2003, emitiu um despacho de retificação nos termos do qual retificou o alvará na parte respetiva aos usos passando a consignar que “onde por lapso se referiu que os lotes se destinam à edificação de prédios de habitação deverá constar que os Lotes se destinam à construção de prédios de habitação, com exceção do Lote 11 que se destina à atividade terciária”. Posto isto, é aprovado o respetivo projeto de arquitetura, sendo mais tarde, em 2008, deferido o pedido de licenciamento de uma construção no Lote 11.

De verdade, em termos urbanísticos, as questões que aqui se foram esbatendo foram as de saber se, por um lado, a CML deveria tratar o caso enquanto um “erro material do alvará”, nos termos do art.º 148.º do CPA266, ou, se, por outro lado, se justificaria o

recurso a um procedimento de alteração do alvará previsto no artigo 27.º do RJUE. Por entendimento da PGR, mediante parecer (Parecer n.º 10/2010) e perante tudo o que demais foi exposto, considerou que não se encontravam preenchidos os pressupostos objetivos aptos a justificar a retificação do alvará de loteamento operada por despacho da vereadora da CML. Isto porque, considerou que a sua decisão não teve por base a contradição entre o que a autoridade administrativa quis manifestar e o que efetivamente manifestou através do ato administrativo, como aliás dita o art.º 148.º do CPA, mas antes com base nos elementos de facto que se retiram das conclusões preliminares de todas as entidades solicitadas. Aliás, considerou até afigurar-se de difícil compreensão que o pretenso lapso ou erro material “não tenha sido detetado e retificado

265 Nomeadamente à Comissão da Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo

(CCDRLVT) – que conclui que “o procedimento utilizado, de retificação ao alvará, carece de adequação, sendo de duvidosa legalidade”-, ao Senhor Provedor de Justiça – que considerou que “o ato de retificação ao alvará padece do vício de invalidade ou, mesmo, de inexistência jurídica”-, e à própria Divisão de Assessoria Jurídica do Urbanismo da CML.

266 “Um ato administrativo padece de erro grosseiro, evidente ou manifesto quando é facilmente

reconhecível uma contradição entre o que a autoridade administrativa quis manifestar e o que efetivamente manifestou através do ato administrativo”. Cfr. OLIVEIRA, Mário Esteves, GONÇALVES, Pedro Costa, AMORIM, João Pacheco de, colab. Rodrigo Esteves de Oliveira., Código do Procedimento Administrativo

Comentado, 2ª. Edição, 7ª reimp. da ed. de 1997, Coimbra, Almedina, 2007, p. 696.Assim, só haverá lugar

à retificação, ao abrigo deste regime, se o erro for manifesto pois, não o sendo, terá de seguir-se o regime geral da modificação ou da revogação dos atos administrativos.

104 no momento de uma primeira e própria retificação, no exato momento em que se detetaram os lapsos concernentes à descrição predial do lote 11 da designada urbanização do Sport Lisboa e Benfica”. Desta forma, considerou que tal ato consubstanciava uma verdadeira alteração da licença de loteamento titulada por aquele alvará, o que a nós nos parece verdadeiramente resolver a questão, até pelo supra mencionado no art.º 27.º/2 do RJUE, que diz que a “alteração da licença de operação de loteamento é precedida de discussão pública (…) salvo se houver consentimento escrito dos proprietários de todos os lotes constantes de alvará (…)”267, o que não aconteceu in casu.

No documento Mafalda Dourado Santos de Oliveira Ramalho (páginas 101-104)