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3. Relações fam iliares

3.2. Princípios básicos da teoria dos sistemas fam iliares

3.2.2. Estádios de desenvolvimento

Apresentando-se a família como um sistema, ela sofre um processo de desenvolvimento, no sentido da sua evolução e complexificação. Este processo di? respeito a mudanças na família enquanto grupo e mudanças nos seus membros individuais, quer a nível funcional, interaccional ou estrutural.

A sequência previsível de mudanças da organização familiar, em função do cumprimento de tarefas bem definidas, Relvas (1996) dá o nome de ciclo vital da família

Factores dé adaptação e de recuperação após uma doenca-hematooncolódca

Afirma, ainda, que estas tarefas relacionam-se com as características individuais dos elementos familiares, com a dinâmica interna do sistema, com a pressão social para o desempenho adequado de funções essenciais, e com os contextos em que a família se insere (sociedade, escola, mercado de trabalho), de forma a manter a continuidade funcional do sistema família.

A unidade familiar tem duas funções primordiais (desenvolvimento e protecção dos seus elementos; e socialização, adequação e transmissão de determinada cultura) e duas tarefas básicas (criação de um sentimento de pertença ao grupo e individualização/autonomização dos seus elementos). O desenvolvimento familiar efectua-se com base nestas funções e tarefas, sendo elas as impulsionadoras da criação de objectivos diferenciados e específicos para cada etapa do ciclo vital.

Alarcão (2002) ressalva dois aspectos pertinentes acerca desta temática. O primeiro é que com o aumento da esperança de vida, encontram-se, hoje, famílias com três e até'quatro . gerações. Assim, o ciclo de vida de cada uma destas famílias entrelaça-se, influencia e é

influenciado pelo ciclo de vida das outras.

Um segundo aspecto é que o limite entre as várias etapas não é rígido, ou seja, uma M tarefa de desenvolvimento não termina exactamente onde se inicia a seguinte. Assim, como algumas tarefas vão sendo preparadas na etapa anterior, também, e devido à grande distância etária entre iimãos, a família vê-se obrigada a realizar diferentes tarefas de desenvolvimento.

Relvas, em 1996, fez uma revisão das classificações dos estádios de desenvolvimento do ciclo vital da família até então expostos. Assim, baseando-se em Duvall (in Nichols 1984, referenciados por Relvas, 1996), Hill e Rogers (1964, referenciados por Relvas, 1996), e ainda, em McGoldrick e Cárter (1982, referenciados por Relvas, 1996), apresenta a sua própria classificação do ciclo vital da família, classificação esta apoiada por Alarcão, em

Factores de adaptação e de recuperação após uma doenca hemato-oncológica

2002. Dividiu o ciclo vital em cinco etapas: formação do casal, família com filhos pequenos, família com filhos na escola, família com filhos adolescentes e família com filhos adultos (Quadro 1).

Afirma que em relação aos autores anteriormente referenciados, esta classificação apresenta discrepâncias ao nível dos «marcadores» das etapas do ciclo vital. Remete a importância para o(s) critério(s) utilizado(s) pelo investigador, daí que “ (...) há que considerar a necessidade de uma certa relatividade fa ce ao seu valor, e a correspondente flexibilização face à sua u t i li z a ç ã o (Relvas, 1996. p.21).

Outro comentário, pertinente, é que esta classificação diz respeito, quase exclusivamente, à família típica, de classe média, e à família nuclear intacta. No entanto, actualmente, existem outras variantes, também elas importantes, como são exemplos, entre outras, os divórcios, as famílias reconstituídas, as famílias de coabitação monoparental, as famílias de homossexuais, as famílias sem filhos ou as famílias de adopção.

.Quadro L Estádios do ciclo vital da fam ília, segundo Relvas

Estádios Tarefas

1: Formação do casal Formação de uma nova família; criação e desenvolvimento do subsistema conjugal; diferenciação do novo casal; aprender a viver com o eu, tu e nós.

2. Família com filhos pequenos Nascimento do 1° filho; formação do subsistema parental e ajustamento do subsistema conjugal; abertura familiar ao exterior; educar os filhos; construção da parentalidade; criação do sentimento de

Factores de adaptação e de recuperacâo após uma doenca hemato-oncológica

pertença familiar; nascimento do 2o filho - formação do subsistema fraternal.

3. Família com filhos na escola Encontro com o sistema escola; aparecimento de um triângulo geracional (família-criança-escola); inicio do processo de separação e autonomização (entre a criança e a família).

4. Família com filhos adolescentes Continuação do processo de separação/autonomização; estabelecimento de vínculos (relações afectivas); expansão relacional e abertura ao exterior, gestão de poder e conflitos; manutenção do triângulo relacional (família-adolescente-escola); recentração na vida conjugal e profissional,

t por parte dos pais; apoio à geração mais velha.

5. Família com filhos adultos Facilitar a saída dos filhos de casa; reorganização do casal a nível individual, da díade e profissional; aprender a lidar com o envelhecimento.

A interacção e as necessidades dos membros de uma família são diferentes dependendo do estádio de desenvolvimento familiar em que se encontram. Taylor (2002) afirma existirem quatro necessidades emocionais básicas, a nível do casal e do sistema familiar: a afeição (que inclui a intimidade e a sexualidade), a pertença, a diversão e a

liberdade. Cada família deve negociar cada uma destas necessidades, ao longo do seu ciclo de desenvolvimento, de forma a conseguir um bom funcionamento. Outros factores importantes no ajustamento do casal e das relações familiares são: as necessidades físicas, as necessidades de segurança, o companheirismo e o significado familiar.

O mesmo autor (2002) considera que numa relação nova (dos primeiros seis meses até aos dois anos de casamento ou de união de facto), a afeição e a pertença, a diversão e a liberdade, o companheirismo e o sentido familiar são altos entre os parceiros que pretendem uma união duradoira. Com o nascimento dos filhos e a infância destes, habitualmente a manifestação de afeição entre o casal (e quase sempre a expressão sexual) decresce em frequência e intensidade, a pertença é posta de parte ou pode ter uma importância excessiva, a diversão pode ser redireccionada para os cuidados e responsabilidades com as crianças, o espaço individual diminui, o companheirismo sofre perdas a nivel de tempo e energia, e o significado das relações pode mudar para um ou para os dois parceiros.

Numa família com filhos adolescentes, a expressão da afeição conjugal pode estar diminuída e rotinizada, com perda da paixão e do entusiasmo. A diversão e o espaço individual podem aumentar ou manterem-se num nível baixo, tal como acontecia quando os filhos eram mais pequenos. O companheirismo e o significado relacional revestem-se de uma nova importância.

Para além das situações normativas em que a família transita de estádio em estádio, com o stress normal inerente, outras há em que ocorre um acontecimento não normativo, implicando maior stress e um ajustamento das tarefas de desenvolvimento e bem-estar do contexto familiar. São exemplos de situações não normativas o divórcio e a reconstituição familiar, a infertilidade, o aparecimento de doenças crónicas e a morte.

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