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Estágio supervisionado e a formação inicial do professor de Matemática: saberes docentes e afetividade

PARTE I – REVISÃO SISTEMÁTICA DE TESES E DISSERTAÇÕES: A RELAÇÃO ENTRE A AFETIVIDADE E OS SABERES DA PRÁTICA DOCENTE ENTRE A AFETIVIDADE E OS SABERES DA PRÁTICA DOCENTE

Dissertação 01: Estágio supervisionado e a formação inicial do professor de Matemática: saberes docentes e afetividade

Angelita Leite (2014) trouxe para o processo investigativo a necessidade de compreender os saberes docentes que emergiram durante uma prática de estágio supervisionado, envolvendo alunos de um curso de formação inicial de professores, a Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual da Bahia (UNEB).

Referenciou para a compreensão e reflexão dos saberes docentes, o aporte teórico apresentado por Maurice Tardif, em diálogo com Clemont Gauthier e Selma Garrido Pimenta, de modo que os saberes foram significados como um conjunto de conhecimentos, competências, habilidades e atitudes relativas à prática docente e que são desenvolvidos a partir das situações de trabalho desse profissional:

Nos textos examinados, encontramos diferentes concepções referentes aos saberes necessários à prática docente, porém vamos nos reportar à concepção de Tardif (2010), complementando-as com as ideias de Gauthier (1998) e de Pimenta (2012) sobre os saberes necessários à prática do professor. (LEITE, 2014, p. 42)

A partir da compressão dos saberes, a autora apontou a perspectiva da formação inicial de acordo com os autores Selma Garrido Pimenta, Marcelo Garcia e Antônio Nóvoa, que preconizaram a necessidade de pensar a formação inicial de professores a partir das demandas que emergem da prática docente, dentro dos contextos reais de trabalho, considerando os saberes que são mobilizados no seu dia a dia. Segundo a autora:

Precisamos compreender que a formação de professor é um processo complexo, que requer a ampliação dos saberes docentes e o

compromisso eticopolítico e que demanda, também, qualificação e revalorização do profissional na perspectiva de contribuir com o desenvolvimento de uma política que consinta em repensar a práxis do trabalho docente. (LEITE, 2014, p. 30)

Com a necessidade de aliar o processo formativo inicial de professores de matemática com a realidade da prática docente, Angelita Leite (2014) analisou, dentro da prática de estágio supervisionado, o desenvolvimento dos saberes docentes. Com a realização de questionários e entrevistas junto aos estagiários, identificou o desenvolvimento dos seguintes saberes: (I) saber ter domínio de classe; (II) saber ter domínio do conteúdo e (III) saber planejar e transmitir o conteúdo. Além dos três saberes sistematizados, a autora destacou que os estagiários apresentaram, junto ao desenvolvimento dos saberes docentes, a presença das dimensões cognitiva (denominada pela autora como relação epistêmica) e afetiva, denominada como relação pessoal. Para os estagiários, o desenvolvimento dos saberes como ter domínio do conteúdo, há o predomínio da dimensão cognitiva, a relação epistêmica, enquanto que os saberes do domínio da classe e planejar, transmitir o conteúdo, requer o predomínio da dimensão afetiva.

Ademais, inicialmente, o processo da prática docente compreendida no estágio, apresentava somente uma dimensão cognitiva (epistêmica). Nas reflexões realizadas a partir da análise dos dados, a autora identificou a interligação entre as duas dimensões na construção e mobilização dos saberes docente. Para Angelita Leite (2014) a dimensão afetiva não estava compreendida nos objetivos iniciais da pesquisa, contudo, no desenvolver do percurso investigativo, se tornou patente a dimensão afetiva, como uma relação presente na construção e mobilização dos saberes docentes, identificando que:

[...] perceber a dimensão afetiva do futuro professor é reconhecer que seus saberes docentes são atravessados por saberes relacionados a sua afetividade, que precisam ser valorizados no decorrer da sua formação. (LEITE, 2014, p. 51)

A partir do pensamento de Henri Wallon, vimos que Angelina Leite (2014, p. 53-54) definiu a afetividade como “um conceito abrangente, que engloba diferentes sensações, como prazer e desprazer, e é constituída por emoções, sentimentos e paixão, que, mesmo sendo muito parecidos, são distintos entre si”. Ademais, a autora

destacou que para Henri Wallon e Lev Vygotsky, a afetividade é despertada a partir das interações, bem como das mediações presentes entre as interações.

Em sequência, Angelita Leite (2014) também evidenciou que esses autores contribuíram para pensar a importância da afetividade no contexto da prática docente, além de comporem os programas curriculares das licenciaturas. Outrossim, ressaltou que a afetividade na prática docente foi identificada a partir das relações que se constituem nas relações humanas estabelecidas para a prática docente. A manifestação da afetividade, entre os sujeitos da interação professor-aluno, pode interferir no processo de ensino e aprendizagem, de forma negativa ou positiva.

Nesse sentido, para Angelita Leite (2014) os autores do Grupo do Afeto1 reconhecem em seus sentidos a relação do afeto na formação e prática docente, pois juntamente com os demais saberes mobilizados em sua atuação é capaz de aproximar os sujeitos no processo da aprendizagem.

Ao conduzir suas reflexões em relação à formação inicial docente, Angelita Leite (2014) constituiu diálogo com autores como Clemond Gauthier, Maurice Tardif; Marcelo Garcia, Antonio Nóvoa, Selma Garrido Pimenta e Paulo Freire. A partir desses autores, evidenciou que o processo de formação inicial implica um movimento interno e constante, subjetivo, que envolve a identidade pessoal e profissional dos sujeitos, bem como a construção de saberes. Desse modo, não pode ser limitado à prática de treinamentos nem à sua dimensão técnica. Estabeleceu a formação inicial como um processo em que os futuros professores vivenciam realidades da prática docente e as construções de seus saberes, considerando os diferentes contextos da prática. Esse processo formativo requer estar imerso a uma prática reflexiva e investigativa, conforme anotou a autora:

É preciso pensar em uma formação mais significativa, que dê condição ao professor de buscar mudanças expressivas, que resultem na formação continuada, que preparem o indivíduo para se adaptar às constantes mudanças sociais e resolver problemas que requerem soluções urgentes, superando os inúmeros e desafios que

1 O Grupo do Afeto, vinculado ao grupo de pesquisa ALLE/AULA, da Faculdade de Educação da Unicamp, constituiu-se no final da década de 90, do século passado. É formado por professores, doutorandos, mestrandos e alunos do curso de Graduação em Pedagogia. Tem como objetivos pesquisar, analisar e discutir os impactos afetivos produzidos pela mediação pedagógica, desenvolvida por agentes mediadores, como os pais e os professores, nas relações que se estabelecem entre o sujeito e o objeto de conhecimento, tendo como base as concepções de Vygotsky e Wallon.

surgem constantemente em determinado contexto social. (LEITE, 2014, p. 34)

Trata-se, nesse ponto de vista expresso pela autora, de um processo formativo coerente com o compromisso da formação de um profissional reflexivo, autônomo, capaz de construir seus saberes de acordo com os as diferentes condições e demandas educacionais.

Nos apontamentos conclusivos, revelou a experiência da prática do estágio supervisionado e a reflexão sobre os saberes desenvolvidos nesse processo, por futuros professores de Matemática, evidenciou que as dimensões cognitiva e afetiva são entrelaçadas e estão presentes na prática docente e no desenvolvimento dos saberes pelos professores. Diante dessas reflexões, a autora afirmou a necessidade de considerar a dimensão afetiva na formação inicial de professores de matemática, sendo que sua ausência inviabiliza o processo do desenvolvimento de saberes essenciais à prática desses futuros professores.

Dissertação 02: Processo identitário e saberes docentes: um estudo a partir da