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O risco de crédito representa um dos maiores problemas que as instituições financeiras enfrentam no âmbito da sua actividade de intermediação financeira. Ao concederem crédito a clientes, incorrem no risco de estes não cumprirem com as obrigações contratadas e consequentemente entrarem em incumprimento. Desta forma é fundamental que as instituições financeiras apresentem uma eficiente gestão e análise do risco de crédito de modo a diminuírem a proporção de incumprimentos da sua carteira de clientes.

4.1.1 R

ATING VS

S

CORING

Para analisarem o risco de crédito dos seus clientes, as instituições financeiras tendem em atribuir uma notação de modo a distinguir os clientes com um maior risco de crédito daqueles com menor. Esta notação representa a avaliação que é feita a um cliente ao nível da sua capacidade de fazer face ao serviço de dívida, ou seja, avalia o grau de probabilidade do cliente entrar em incumprimento.

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O rating permite classificar a dívida existente atribuindo uma notação à capacidade de pagamento, sendo por isso, segundo Neves (2000) orientado para o futuro. Esta notação depende da percepção que o analista tem sobre a empresa em análise e da sua capacidade de cumprimento, revelada numa opinião de qualidade do crédito. É, pois um sistema de avaliação baseado também em julgamentos qualitativos.

Por outro lado, o scoring permite classificar os clientes por grau de risco através de pontuações, estimando a probabilidade de incumprimento. Para o cálculo deste tipo de notação são utilizados rácios e outros indicadores financeiros, baseando-se em informação histórica. Deste modo, traduz-se num sistema mecanicista de pontuação.

4.1.2 A

CORDO DE

B

ASILEIA E O IMPACTO NA ATRIBUIÇÃO DE

C

RÉDITO

Com o crescimento do consumismo no mundo ocidental e a progressiva liberalização e inovação dos instrumentos financeiros, a partir da década de 80, as entidades reguladoras dos mercados financeiros necessitaram de impor regras sobre a regulamentação bancária. Foi então constituído, em 1988, o Acordo de Capital, hoje denominado por Basileia I. Este acordo tinha por objectivo fortalecer a solidez e estabilidade do sistema bancário internacional através do estabelecimento de níveis mínimos de solvabilidade e, por outro lado, pela diminuição das fontes de desequilíbrio competitivo entre os bancos.

Contudo, os objectivos deste Acordo tornaram-se insuficientes para acompanhar a evolução da economia mundial e a crise do mercado de crédito. Deste modo, em 2004 foi assinado o Acordo de Basileia II assente em três pilares: requisitos mínimos de fundos próprios, supervisão do Sistema Bancário e Disciplina de Mercado e Transparência. A determinação dos requisitos mínimos de fundos próprios visa cobrir os riscos de crédito, de mercado e, pela primeira vez, o risco operacional. O segundo pilar tem o objectivo de reforçar o processo de supervisão bancária, agora mais focada em processos e modelos definidos. E por último, a Disciplina de Mercado e Transparência visa implementar uma disciplina de mercado com vista a contribuir para práticas bancárias mais saudáveis e seguras. De acordo com este último pilar, os

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bancos terão de divulgar mais informação sobre as fórmulas que utilizam para gestão de risco e alocação de capital.

Outra particularidade do Acordo de Basileia II está relacionada com a obrigatoriedade das instituições financeiras em implementarem sistemas de análise de risco mais rigorosos. Estes sistemas podem ser baseados em agências de rating externas ou podem ser utilizados modelos internos de risco de crédito.

Devido à recessão económica sentida após a crise financeira que se iniciou em 2007, o Banco Central Europeu em conjunto com os bancos centrais dos países da União Europeia, desenvolveram um novo acordo, o Acordo de Basileia III, de modo a assegurar a liquidez e capital próprio dos bancos no caso de ocorrência de uma nova crise de crédito. O Acordo de Basileia III obriga os bancos a deterem mais capital e activos de menor risco de modo a torná-los mais resistentes em choques financeiros.

Este novo acordo traduz-se em percentagens mais restritas ao nível dos capitais que os bancos devem ter como requisitos mínimos, ou seja, os capitais garantidos através de reservas.

Com a imposição destas novas regras de mercado, as instituições financeiras têm maior pressão na concessão de crédito pois necessitam por um lado de alcançar níveis mínimos de fundos próprios e por outro justificar às entidades reguladoras a capacidade dos seus clientes em fazer face ao serviço da dívida, através dos sistemas de análise do risco de crédito. Desta forma, a cedência de crédito encontra-se num ciclo mais rigoroso e por isso também com mais limitações.

Esta situação atinge principalmente as empresas de menor dimensão pois são as que apresentam maior dependência do financiamento bancário à sua actividade. As Pequenas e Médias Empresas (PME) deverão adoptar medidas para reforçar e tornar mais transparente o seu relacionamento com as instituições financeiras, de modo a conseguirem o financiamento que necessitam.

Sendo a análise económico-financeira uma parte importante na gestão do risco de crédito, as PME deverão fornecer informação contabilística e financeira de qualidade e

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actualizar regularmente essa informação de modo a reforçar a sua relação com as instituições de crédito.

4.1.3 S

ISTEMAS DE

R

ISCO DE

C

RÉDITO

Como mencionado no ponto anterior, com a implementação do Acordo de Basileia II as instituições financeiras são obrigadas a aplicar sistemas de risco de crédito para classificar os seus clientes quanto à probabilidade de incumprimento. Estas podem fundamentar a sua avaliação baseando-se em sistemas externos ou internos.

Os sistemas externos de notação são desenvolvidos por empresas especializadas na atribuição de risco de crédito, designadas por agências de rating. Atribuem notação de rating com o objectivo de classificar a capacidade de pagamento de dívidas, emitindo assim uma opinião sobre a qualidade de crédito. Estas notações são atribuídas a Estados, empresas de grande dimensão e também a emissão de títulos.

As principais ag ncias de rating são a Standard & Poor’s, a oody’s e a Fitch. A notação de rating que atribuem é classificada através de letras sendo que uma notação alta traduz-se em baixo risco de crédito e pelo contrário uma notação baixa significa mais risco de incumprimento.

Na Figura 4-1 pode-se observar a classificação de rating de cada uma das três entidades. De notar que se a análise for feita à emissão de dívida então as classificações de rating apresentadas na figura corresponderiam a dívidas de longo prazo.

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S&P Credit Rating

Moody's Credit Rating

Fitch Credit

Rating Qualidade do Crédito

AAA Aaa AAA De melhor qualidade

AA+ Aa1 AA+

Elevada qualidade

AA Aa2 AA

AA- Aa3 AA-

A+ A1 A+ Forte capacidade de pagamento A A2 A A- A3 A- BBB+ Baa1 BBB+ Capacidade de pagamento correcta BBB Baa2 BBB BBB- Baa3 BBB-

BB+ Ba1 BB+ Assegura provavelmente os

compromissos (incerteza crescente)

BB Ba2 BB

BB- Ba3 BB-

B+ B1 B+

Dívidas com elevado risco

B B2 B B- B3 B- CCC+ Caa1 CCC+ Vulnerabilidade actual ao incumprimento CCC Caa2 CCC CCC- Caa3 CCC- CC Ca CC Em falência ou em incumprimento C C C D D D

Figura 4-1 - Notação de Crédito das Empresas de Rating

Relativamente aos sistemas de notação de crédito internos, estes começaram a desenvolver-se mais após divulgadas as exigências do Acordo de Basileia II. Estes sistemas permitem uma avaliação pormenorizada e personalizada de cada cliente e abrange todo o tipo de empresas, ao contrário dos sistemas externos que não podem ser utilizados aquando análise de uma PME.

Os sistemas internos baseiam-se na informação disponibilizada pelo cliente. O processo base destes sistemas está ilustrado na Figura 4-2.

Qualidade de crédito decrescente

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Figura 4-2 - Processo de sistema interno de classificação de crédito

4.2 A

NÁLISE

E

CONÓMICO

-F

INANCEIRA DE

E

MPRESAS NA PREVISÃO DO