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Estabelecendo a parceria com uma professora de Matemática da Escola

2 A Escola Pública Estadual: Um cenário de pesquisa e reflexão 2.1 Introdução

2.4 Estabelecendo a parceria com uma professora de Matemática da Escola

Considero que o início da realização do estudo de campo na Escola ocorreu efetivamente em meados de agosto. Foi a partir deste período que comecei minhas tentativas de implantação de possíveis parcerias, solicitando a diferentes colegas – professores efetivos de Matemática da Escola - a abertura de espaço em suas aulas a fim de desenvolvermos juntos uma proposta de estudo de Matemática Financeira com os alunos do Ensino Médio. Nesta época firmei parceria com a professora Sandra e o trabalho em sala de aula iniciou-se logo após alguns trâmites, como reuniões para definirmos alguns pontos sobre as aulas de Matemática.

Em uma reunião inicial, Sandra e eu definimos algumas diretrizes para o início do trabalho em sala de aula com os alunos. Combinamos que o conteúdo previsto no Planejamento Anual, ao qual tínhamos que nos manter o mais possível fiel, seria trabalhado de forma mais acelerada, a fim de que fossem cumpridas as metas comuns de conteúdos do 1º ano do Ensino Médio e que elaboraríamos algumas atividades juntas e discutiríamos sobre como trabalhá-las em sala de aula.

Durante todo o mês de setembro a professora Sandra e eu conversamos sobre diversos aspectos da turma, tais como dificuldades que tinham em conteúdos de Matemática, características dos alunos e organização do trabalho da professora da sala. Esta troca de informações foi produtiva, pois pude traçar um pré-perfil dos alunos no que se refere ao conteúdo, ao seu grau de motivação frente aos estudos e a Matemática e, sobretudo observar a boa relação que ela mantinha com a turma. Este aspecto foi um dos determinantes para a realização do trabalho, pois a Sandra sempre manteve uma postura de auxílio e mediação de possíveis conflitos entre os alunos.

Fiz questão de convidar a professora a auxiliar-me na elaboração das tarefas, a ministrar e administrar as aulas e, sobretudo a trabalharmos definitivamente lado a lado.

Metodologia e Pano de Fundo Adotei esta postura, inicialmente, por julgar que deveria retribuir à Sandra toda sua boa vontade em abrir seu espaço em suas aulas e posteriormente por destituir-me da “arrogância” em acreditar que somente as tarefas elaboradas por mim seriam adequadas ao ensino de Matemática Financeira. Era necessário muito mais que isto, a figura desta professora foi quem garantiu a harmonia entre nós (ela, os alunos e a pesquisadora). Houve uma quebra de expectativa em relação a esta elaboração conjunta de tarefas e aulas, pois, ao longo do trabalho de campo, ela me pediu para elaborar as tarefas e também para ministrar as aulas, alegando que “possuía dificuldade com Matemática Financeira e queria aprender junto com os alunos”.

A turma de alunos do 1º ano I44 foi escolhida para a realização do trabalho de campo a pedido de Sandra. Ela me apresentou algumas características da turma de jovens, com a qual o trabalho de campo seria realizado, tais como baixa auto-estima frente ao processo de aprendizagem e desinteresse e rejeição por parte do corpo docente, que por muitas vezes a considerava como a “pior classe dos primeiros anos”. A possível superação deste sentimento era mencionada pela Sandra como um ponto positivo do trabalho com a sala do 1º ano I, visto que ela acreditava que este estudo seria uma oportunidade ímpar que os alunos teriam em participar de um projeto de Matemática na Escola, que incluía um desprender-se do livro didático e das aulas expositivas.

Em relação às aulas, Sandra e eu decidimos que trabalharíamos a metade do terceiro e todo o quarto bimestre, ou seja, ao longo dos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro e abordaríamos alguns temas de Matemática Financeira (porcentagem, juros simples e juros compostos). As aulas nesta classe ocorriam três vezes por semana, distribuídas nas segundas-feiras (16:50h às 17:40h), terças-feiras (13:10h às 14:00h) e quintas-feiras (das 13:10h às 14:50h). Ao todo foram contabilizadas vinte aulas com a turma, desenvolvidas em meio a suspensões de aulas para participação na Gincana da Cidadania45, uma “Semana do Saco Cheio46”, re-planejamento, conselho de classe, reunião de pais e a eleição que ocorreu naquele ano47.

44 Primeiro Ano do Ensino Médio “I”. As salas de aulas eram nomeadas segundo a seqüência alfabética,

justificando-se assim o “I”.

45 Esta Gincana foi imposta pela Secretaria Estadual de Educação de São Paulo e teve como objetivo fazer

com que toda a escola participasse de atividades “cidadãs”, tais como recolher sucata para vendê-la e arrecadar fundos para a escola ou descobrir novos talentos artísticos nas escolas públicas estaduais. Ao longo

Metodologia e Pano de Fundo Todas as aulas referentes ao trabalho de campo foram realizadas com a presença de Sandra e a minha em sala. Os alunos não estranharam esta parceria e, à medida que o trabalho se desenvolvia, perceberam que poderiam utilizar-se das duas “professoras” para auxiliá-los no aprendizado.

Um fato deixava Sandra e eu muito satisfeitas, pois observamos que mesmo nas várias pontes de feriados48, nos quais apenas um pequeno grupo vinha à escola, contávamos com alguns fiéis alunos do 1ºano I. Acredito que tal fato foi possível justamente pela boa relação que estabelecemos com estes jovens e pelo “jogo aberto” que mantínhamos com eles ao colocarmos o objetivo do trabalho que queríamos desenvolver, colocando-os a par da nossa preocupação com a aprendizagem de cada um e que, caso houvesse muitas faltas, este processo poderia ser muito prejudicado.