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O estabelecimento do Ensino Médio no Instituto Adventista Grão-Pará (IAGP)

No documento MESTRADO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO SÃO PAULO (páginas 193-200)

Capítulo III. Internatos Adventistas Brasileiros: permanência ou atualização?

3.3 As evidências de atualização

3.3.1 O estabelecimento do Ensino Médio no Instituto Adventista Grão-Pará (IAGP)

Antes de verificarmos como o estabelecimento do Ensino Médio no Instituto Adventista Grão-Pará (IAGP) quebrou um paradigma dentro da Filosofia Educacional Adventista no Brasil relacionado ao regime de internato, vamos abordar o período de pioneirismo do Ensino Médio no Brasil, para depois verificarmos em que a rápida expansão desta fase educacional contribuiu com o rompimento de um dos princípios que moldaram a Filosofia Adventista de Educação nos primórdios da Igreja Adventista do Brasil: o princípio de que o ensino médio deveria ser ministrado exclusivamente em colégios cujo o regime de ensino fosse o internato.

A primeira instituição educacional adventista no Brasil a implantar o Ensino Médio regular oficial, de acordo com a legislação da época, foi o então Colégio Adventista Brasileiro (hoje, UNASP, campus São Paulo), em 1943, com o oferecimento dos cursos de Contador, Científico e Clássico (AZEVEDO, P., 2004, p. 51). Desta forma, o ano de 1943 pode ser considerado como efetivamente o ano em que se iniciou. Dito de outro modo, a educação básica até 1942 consistia em quatro anos do primário e cinco anos do ginásio e, após esse período, o aluno fazia um pré-universitário de um ano. Assim, os alunos do CAB, em 1943, que estariam no quinto ano do Ginásio, foram já para o segundo ano do curso de Contabilidade (AZEVEDO, P., 2004, p. 55).

A partir de 1943, a educação básica passou a ter 11 anos, divididos da seguinte maneira: Primário – quatro anos; Ginásio – quatro anos; Colegial – três anos. Neste ano, além do CAB, o Brasil já contava com mais quatro instituições com internato. Estas ofereciam na época até o Ginásio, em sistema de ensino livre, não oficializado. O Instituto Petropolitano Adventista de Ensino (IPAE) e o Educandário Adventista Nordestino (ENA) passaram a oferecer o Ensino Médio em 1954, já o Instituto Adventista Cruzeiro do Sul (IACS) passou a oferecer o Ensino Médio em 1957 (AZEVEDO, P., 2004, p. 55).

Na segunda metade da década de 1940 em face à realização de um concílio de professores da União Sul-Brasileira no Colégio Adventista Brasileiro, a Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) deveria manifestar sua posição concernente ao desenvolvimento educacional no país. Para tanto, foi convidado o Pr. Steen Emil Marius Rasmunssem, um professor dinamarquês que ocupava a função de diretor adjunto do departamento de

educação da Associação Geral da IASD. Rasmunssen veio ao Brasil para defender e veicular em caráter oficial as determinações sustentadas pelas entidades superiores da Conferência Geral da IASD. Tais determinações preconizavam o fechamento de todas as iniciativas quanto à expansão de novas instituições educacionais adventistas no Brasil. Nesta época havia planos de se fechar três projetos, a saber: (a) O Colégio Adventista Campineiro em Hortolândia, em São Paulo, que já possuía um terreno, (b) O Colégio Adventista de Taquar, no Rio Grande do Sul e, (c) O Colégio Adventista de Curitiba, no Paraná (STENCEL, 2006, p. 155).

Ao receber Rasmunssen em São Paulo, Renato Emir Oberg cônscio das intenções e visão dos órgãos superiores da IASD, expressou uma tristeza profunda quanto aos planos de extinção dos colégios secundários no Brasil. Ao perceber sua fisionomia consternada, Rasmunssen o chamou para uma conversa em particular. Neste diálogo, Oberg revelou todas as suas idéias e expectativas quanto à importância da educação para o desenvolvimento da IASD no território nacional. No diálogo, Oberg remeteu a atenção de Rasmunssen ao Emmanuel Missionary College (atual Andrews University) nos EUA, e perguntou: “Quantos colégios de segundo grau existem ao redor da instituição?” Rassmunssen disse: “Uma meia dúzia!”. “Muito bem”, disse Oberg, “e por que, que ao redor do nosso colégio não pode haver outras instituições?” (STENCEL, 2006, p. 156).

Na sala onde conversavam o havia um mapa do Brasil. “Olha o tamanho do nosso país. Como um aluno do Amazonas tem que vir a São Paulo para obter sua formação? Nós temos que construir uma escola”, defendeu Oberg. Em face aos argumentos, Rasmunssen a partir daquele instante compreendeu as necessidades do Brasil, e disse: “Não precisa falar mais nada. Pode deixar comigo”. Sendo assim, no concílio da USB o Prof. Rasmunssen efetuou um discurso completamente contrário àquele esperado pela liderança. Em suas palavras, destacou que o Brasil deveria seguir os passos percorridos pela educação adventista nos EUA. Após seu discurso, todo o grupo foi favorável a prosseguir com os planos expansivos quanto à educação adventista em território brasileiro (STENCEL, 2006, p. 156).

Aproveitando o espírito de mudança originado a partir daquele concílio quanto aos destinos da educação adventista no Brasil, Oberg convocou Rasmunssen para uma consulta

quanto à possibilidade de enviar professores das instituições adventistas para cursarem programas de nível superior a fim de se qualificarem quanto às futuras necessidades nesta área, ao que Rasmunssen concordou plenamente. De acordo com Oberg, a partir de então passa a existir um espírito de aceitação, ou seja, uma abertura maior entre os líderes brasileiros da IASD quanto à ideia de se enviar alunos às universidades públicas (STENCEL, 2006, p. 156).

Sendo assim, ao final do concílio, Oberg solicitou à administração do Colégio Adventista Brasileiro (CAB) para que fossem escolhidos alguns dos melhores alunos da instituição a fim de serem enviados à Universidade de São Paulo (USP) para obterem seus diplomas de graduação com propósito de atuar como professores nos futuros cursos superiores que seriam eventualmente abertos pela denominação no Brasil. Segundo Gorski (2000), nesta oportunidade foram indicados os alunos Mário Roque, Orlando Ritter, Arthur Dassow e Nevil Gorski (STENCEL, 2006, p. 156-157).

Além da criação e consolidação do Ensino Médio nos internatos que iam surgindo, os externatos começaram também a estabelecer esse curso. Os dois primeiros colégios a implantá-lo foram, ainda na década de 1960, o Instituto Adventista Grão-Pará, em Belém (PA) e o Instituto Adventista Caxiense, em Duque de Caxias (RJ). O Instituto Adventista Grão- Pará (IAGP), que nasceu sob a coordenação da União Norte-Brasileira, em 1961, visava atender uma necessidade regional, visto que em toda a área dessa União não havia ainda nenhum internato e a comunidade adventista já era bastante significativa, principalmente em Belém do Pará. Desta forma o IAGP foi o primeiro colégio de externato a abrir o Ensino Médio no Brasil e, com exceção do ano de 1974, o curso vem funcionando sem interrupção até a presente data (AZEVEDO, P., 2004, p. 55).

O Instituto Adventista Caxiense abriu o Ensino Médio em 1969, porém, o curso foi desativado em 1973 por orientação da Divisão Sul-Americana. A orientação, na época, foi de que esse curso deveria continuar sendo preferencialmente oferecido nos internatos em função da Filosofia da Educação Adventista. O próximo colégio de externato a oferecer o Ensino Médio, foi o Instituto Adventista de Manaus, que começou a funcionar em 1982 (AZEVEDO, P., 2004, p. 56).

Até o final de 1987, já eram 13 instituições adventistas que ofereciam o Ensino Médio no Brasil: Instituto Adventista de Ensino – IAE (1943), Instituto Petropolitano Adventista de Ensino – IPAE (1954), Educandário Nordestino Adventista – ENA (1954), Instituto Adventista Cruzeiro do Sul – IACS (1957), Instituto Adventista Grão-Pará - IAGP (1964), Instituto Adventista Paranaense - IAP (1964), Instituto Adventista São Paulo - IASP (1967), Educandário Espírito-Santense Adventista - EDESSA (1975), Instituto Adventista Agro- Industrial - IAAI (1976), Instituto Adventista do Nordeste - IAENE (1981), Instituto Adventista de Manaus - IAM (1982), Instituto Adventista Transamazônico Agro-Industrial - IATAI (1982) e Instituto Adventista Brasil Central - IABC (1985). Das 13 instituições, 11 eram de regime de internato, e duas de externato (IAGP e IAM). Nessa época, o sistema educacional adventista no Brasil já estava estruturado em relação às escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental, tornando-se assim a base para a expansão do Ensino Médio. A partir de 1988, centenas de terrenos foram adquiridos e edifícios construídos (AZEVEDO, P., 2004, p. 56).

Assim, chegamos ao ano de 1988, ano este que podemos definir como um marco na expansão do Ensino Médio no Brasil, pois, depois deste ano e em virtude do pioneirismo do Instituto Adventista Grão-Pará, do Instituto Adventista Caxiense e do Instituto Adventista de Manaus, esta fase educacional começa a crescer intensamente em número de escolas. De acordo com Paulo Azevedo (2004, p. 57-61), as próximas 110 escolas adventistas que ofereceriam o Ensino Médio, seriam construídas no intervalo de apenas 14 anos, entre 1988 e 2002. Estas escolas, a quase totalidade em regime de externato, estavam localizadas nas seguintes cidades:

1988 (de 13 para 17 colégios): Em Porto Alegre (Bairro da Floresta) e Novo

Hamburgo (RS); e, no Colégio Adventista de Salvador (BA). Além do UNASP - Engenheiro Coelho, em regime de internato.

1989 (de 17 para 18 colégios): Colégio Adventista de Santo André (SP).

1990 (de 18 para 23 colégios): Colégio Adventista de Santo Amaro, São Paulo

capital; no Centro Educacional Adventista do Rio de Janeiro, junto à Igreja Central; no Colégio Adventista de Vila Galão, Guarulhos (SP); no Colégio Curitibano Adventista (PR); e, no Colégio Adventista de Joinville (SC).

1991 (de 23 para 24 colégios): Colégio Adventista Roberto Rodrigues de

Azevedo, em Florianópolis (SC).

1992 (de 24 para 26 colégios): Instituto Adventista da Amazônia Ocidental

(AM); Colégio Adventista de Campinas (SP); Instituto Adventista Brasil Central (GO), também em regime de internato.

1993 (de 26 para 33 colégios): Colégio Adventista de São Luiz (MA); Colégio

Adventista de Várzea Grande (MT); na capital paulista, colégios adventistas de Campo Limpo e do Capão Redondo (atual Ellen G. White); os colégios adventistas de Londrina e Maringá (PR); e o Colégio Adventista de Porto Alegre (RS).

1994 (de 33 para 42 colégios): Colégio Adventista de Fortaleza (CE); Instituto

Adventista do Recife, bairro do Arruda (PE); Colégio Adventista de Belo Horizonte (MG); Instituto Adventista de Ensino de Minas Gerais, em Lavras (MG); Colégio Goianiense Adventista, em Goiânia (GO); nos colégios de São Carlos, Mogi das Cruzes e no bairro do Tucuruvi (SP); e, no Colégio Adventista do Esteio (RS).

1995 (de 42 para 49 colégios): Colégio Adventista de Taguatinga (DF); e, o

Colégio Adventista de Monte Belo, em Gravataí (RS). E, Mais cinco colégios nos Estado de São Paulo: nos bairros de São Miguel Paulista e Vila das Belezas, na capital paulista; e nas cidades de Bauru, Presidente Prudente e São José dos Campos.

1996 (de 49 para 61 colégios): Instituto Adventista Transamazônico (PA); na

capital baiana, os colégios adventistas dos bairros de Itapagipe e Liberdade; o Centro Educacional Adventista de Uberlândia (MG); o Colégio Adventista de Vitória (ES); o Centro Educacional Adventista de Jacarepaguá (RJ); o Colégio Adventista Campo Grandense (MS); no estado de São Paulo, os colégios adventistas de Sorocaba, São José do Rio Preto, Jacareí, Coita e Osasco (Vila Yara).

1997 (de 61 para 70 colégios): Porto Velho e Ji-Paraná (RO); Itabuna e

Eunapólis (BA); Rondonópolis (MT); Centro Educacional Adventista Milton Afonso (DF); em Ipatinga (MG); em Diadema e Santo André, no Jardim Utinga (SP).

1998 (de 70 para 82 colégios): Itacoatiara (AM); Cuiabá, na Morada da Serra

(MT); Gama (DF); Niterói (RJ); no estado de São Paulo, no Brooklin, capital paulista e nas cidades de São Caetano do Sul, Taboão da Serra, Assis, Itararé e Hortolândia; Curitiba, bairro do Boqueirão (PR); e, Viamão Central (RS).

1999 (de 82 para 91 colégios): Cáceres (MT); na capital paulista nos bairros da

Liberdade, junto à Igreja Central e na Cidade Ademar; e nas cidades de Itapecerica da Serra, Capivari, Tatuí, Votuporanga e Taubaté, em Tremembé (SP); Curitiba, no bairro de Boa Vista (PR).

2000 (De 91 para 109 colégios - 2 colégios fechados = 107 colégios): Abertos

em Recife; Araguaína (TO); jardim Europa, em Goiânia (GO); Planaltina (DF); o Instituto Adventista Caxiense, em Duque de Caxias (RJ) é reaberto novamente. Vila Nova Cachoeirinha, na capital paulista; e nas cidades de Guarulhos, em Gopoúva, São Bernardo do Campo, Tupã, Ribeirão Preto, Limeira, Piracicaba, Sorocaba, Bragança Paulista, Cruzeiro e Santos (SP); Guarapuava (PR) e Indaial (SC). Sendo desativados em Rondonópolis (MT) e Uberlândia (MG).

2001 (de 107 para 115 colégios): em Maceió (AL); Palmas (TO); Jardim dos

Estados, em Campo Grande (MS); bairro da Vila Alpina, na capital paulista e Lorena (SP); Curitiba, bairro do Centenário (PR); e, Santa Maria (RS).

2002 (de 115 para 123 colégios): Rio Branco (AC); Colégio Adventista Paul

Benard, em Manaus (AM); Ananindeua e Tucumã (PA); Goiânia, Setor Pedro Ludovico (GO); Imperatriz, no bairro Nova Imperatriz (MA); Paulínia (SP); em Foz do Iguaçu (PR); São Francisco do Sul (SC); e, São Borja (RS).

De 1988 a 2002 surgiram 108 novos colégios em regime de externato, uma média aproximada de sete por ano. Assim em 2002, já existiam no Brasil 13 internatos e 110 externatos, totalizando 123 instituições com o Ensino Médio, ficando atrás apenas da Índia, que já em 2001, contava com 134 colégios (AZEVEDO, P., 2004, p. 57).

Portanto, o estabelecimento do Ensino Médio no Instituto Adventista Grão-Pará, no Instituto Adventista Caxiense e no Instituto Adventista de Manaus, romperam com um ideal dentro da Filosofia Educacional Adventista no Brasil relacionado ao regime de internato: o

ideal de que o Ensino Médio deveria ser ministrado exclusivamente em colégios cujo o regime de ensino fosse o internato. Após o pioneirismo destes colégios, a partir de 1988, houve uma explosão no número de escolas que ofereciam o Ensino Médio: de 11 escolas em regime de internato e 2 em regime de externato em 1987, para 13 escolas em regime de internato e 110 em regime de externato em 2002.

3.3.2 O sonho da Universidade Adventista e a consequente ampliação dos cursos

No documento MESTRADO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO SÃO PAULO (páginas 193-200)