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9. Comportamento sísmico do sistema construtivo em taipa

9.1. Estabilidade através da matéria-prima

Para edificar com o sistema construtivo de taipa é necessário proceder à estabilização da matéria-prima (terra). Este processo consiste em reduzir/preencher o volume de ar existente e reforçar a ligação entre as partículas. Através deste processo é possível melhorar as características do material, uma vez que há uma redução da sua porosidade e permeabilidade, aumentando assim a sua resistência mecânica. Este processo segundo Paula (2012) pode obter-se de diversas formas, como:

- Estabilização por compactação, procedimento base no que diz respeito à construção em taipa, o qual consiste na prensagem da terra, manualmente, com recurso a pisões ou ferramentas pneumáticas, de modo a reduzir o volume do material;

- Estabilização por armação, a qual consiste na introdução de fibras (quantidade não superior a 3%) na matéria-prima, as quais diminuem a massa das paredes construídas em taipa de modo a evitar a sua fissuração e a aumentar a resistência à tracção;

- Estabilização por correcção granulométrica, a qual consiste na correcção granulométrica da matéria-prima que, em casos de se tratar de terra fina é adicionada gravilha de tamanho não superior a uma noz, ou em casos de terra com excedentes de gravilha são adicionadas areias;

- Estabilização físico-química, que consiste na introdução de elementos ligantes e hidrófugos, que tanto podem ser de origem natural ou artificial, como por exemplo, o cimento (geralmente numa proporção de 1:12, ou seja uma parte de cimento para doze partes de terra), a cal, o betume, pozolana, cinzas volantes, o óleo de coco ou algodão, excrementos, cabelos, latex, os ácidos, os silicatos, as resinas, entre outros.

Este processo não é somente utilizado na matéria-prima usada para construção das paredes, é, também, muito utilizado nas argamassas de reboco, nas quais o método mais utilizado é a estabilização físico-quimica, de forma a criar uma camada impermeabilizante.

“Em Portugal é comum a adição dos desperdícios de lagares de azeite, sebo de porco ou carneiro, ou sangue de boi.(…) no Sul da Argélia utiliza-se um reboco não estabilizado,

constituído por bolas de terra projectadas na parede.”(Paula, 2012)

Com a utilização deste tipo de estabilização pode obter-se um material de construção bastante mais duradouro, uma vez que este ganha uma maior resistência mecânica, bem como a sua vulnerabilidade à água, bactérias e fungos diminui consideravelmente.

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9.2. Estabilidade através da volumetria

A volumetria dos edifícios é um factor de extrema importância no comportamento dos mesmos perante acções sísmicas. Este factor assume mais relevância quando se trata de edificar com um material como a taipa (mais vulnerável a este tipo de acções), numa zona de elevada perigosidade sísmica, como é a região do Algarve.

Como refere Parreira (2007), testes já realizados demonstram que um volume de planta quadrada resiste melhor às acções sísmicas do que uma planta rectangular, e que um volume de planta circular é ainda mais resistente que a primeira. Volumetrias com plantas em “L”, “U”, ou outras que formem ângulos, não são aconselháveis, pois são pouco resistentes a este tipo de acções. É, então, aconselhado que quando este esquema seja necessário haja uma separação dos espaços, utilizando uma ligação que seja leve e flexível.

Ainda assim não são apenas as formas geométricas mais básicas, como o círculo, as únicas que apresentam um boa resistência a este tipo de acções. O arquitecto Syed Sibtain construiu, no Afeganistão, vivendas anti-sísmicas, utilizando paredes convexas reforçadas nas esquinas com contrafortes, com uma volumetria que se aproxima formalmente de um quadrado, (Figura 34). Este tipo de planta proporciona uma resistência a acções sísmicas idêntica à de planta circular.

9.2.1. Aspectos estruturais

Actualmente, já foram estudados e analisados vários métodos de construção “tipo” para conceber edifícios anti-sísmicos. Neste trabalho serão abordados três desses métodos.

O primeiro método trata-se uma construção totalmente sólida, em que tanto as paredes como a cobertura devem permanecer e funcionar como um único conjunto. Para tal, segundo Parreira (2007) é utilizada uma estrutura em betão armado consistente, havendo um reforço de todos os vãos, uma união entre os pilares, o lintel na fundação e o anel de coroamento, os quais envolvem as paredes (pelo menos as exteriores). Todos estes elementos devem encontrar-se estáticos e unidos por tensores. A maior fragilidade deste sistema é a

Figura 34 – Planta de uma habitação anti-sísmica, no Afeganistão. Fonte: Sibtain (1982) citado em Minke (2001)

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possibilidade de existir um ponto sobrecarregado que entre em decadência no caso de ser alvo de uma forte acção sísmica, levando ao colapso da restante estrutura.

No segundo método as paredes são o alvo destas acções, pelo que sofrem algumas deformações, absorvendo assim alguma da energia cinética do sismo. Segundo Minke (2001) a cobertura deve encontrar-se bem fixa e apoiada nas paredes. Este sistema permite construir sem recurso ao betão armado e a tensores, o que faz com que se torne um método bastante mais económico que o apresentado anteriormente.

No terceiro método as paredes têm a capacidade de absorver alguma da energia cinética do sismo, à semelhança das paredes referidas no caso anterior. Como refere Minke (2001) a grande diferença, em relação aos casos anteriores, é o facto da estrutura que suporta a cobertura se encontrar separada das paredes. Deste modo, as paredes têm um movimento independente da estrutura durante um sismo.

Pode, então, dizer-se que para uma estrutura ser resistente a acções sísmicas é necessário existir uma relação entre resistência e ductilidade. No primeiro caso, acima referido, é evidente a sua alta resistência e baixa ductilidade. O segundo método apresentado refere um equilíbrio entre resistência e ductilidade. Já o terceiro e último caso, apresenta-se com uma grande ductilidade e baixa resistência.