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ESTADO DA ARTE DA CULTURA POLÍTICA DE BRASIL, CHINA E RÚSSIA: CONCLUSÃO

3. A CULTURA POLÍTICA DOS PAÍSES EMERGENTES

3.4. ESTADO DA ARTE DA CULTURA POLÍTICA DE BRASIL, CHINA E RÚSSIA: CONCLUSÃO

A partir do que foi apresentado nas três seções deste capítulo é possível observar o que já é existente na bibliografia de Cultura Política sobre os países sendo estudados neste trabalho.. Como pode ser notado, os trabalhos existentes na área e aqui apresentados dificilmente apresentam os países de forma comparada sobre sua cultura política; os trabalhos na área tem normalmente âmbitos globais (não tratando apenas destes países mas do globo como um todo) ou em âmbitos regionais, e visto que estes países não fazem parte das mesmas regiões analíticas, normalmente não são comparados entre si. Entretanto, como será apresentado a seguir, os trabalhos comparativos com os países escolhidos para este estudo são raros, mas não inexistentes.

Neste sentido, deve ser ressaltado que em um de seus últimos trabalhos, o autor Stephen White (2017) - citado como um dos principais autores de cultura política no caso russo - faz uma comparação entre a cultura política russa e chinesa atualmente. Entretanto, a comparação não se dá no âmbito da cultura política em geral, mas apenas como forma de

observar se o grande crescimento econômico atual em ambos os países estaria ou não criando mais valores democráticos dentro do país (MCALLISTER; WHITE, 2017). Este estudo, desta forma, trata de um tema pertinente a este trabalho, mas não relaciona diretamente a cultura política ao estágio de emergência, mas sim tenta entender até que ponto o crescimento econômico por si só afeta o apoio à democracia nos países em questão. Seus resultados apontam para sim uma relação entre o crescimento econômico e o apoio à democracia, mas que as duas variáveis não são o bastante para explicar a realidade, e sim que diversas variáveis intervenientes, como a melhora na educação, que realmente possibilitam o entendimento da relação das variáveis nos dois países.

Ainda, algumas conclusões gerais podem ser tomadas a partir do que foi apresentado neste capítulo, sendo melhor aprofundadas dentro desta seção final, para que possam posteriormente ser consideradas dentro da análise de dados posterior. Primeiramente, percebe-se que um ponto de possível convergência no estudo entre os países é o de que busca-se entender o papel da cultura política dentro da construção da democracia nestes casos. Entretanto, este ponto reflete mais como se formou a área de cultura política dentro da Ciência Política do que de fato dos países específicos estudados. Ao mesmo tempo, ainda que o desejo de grande parte dos autores nos três casos seja o entendimento da democracia, as motivações e formas de observação utilizadas diferem entre eles.

No caso do Brasil, deseja-se entender a democracia visto que ela foi estabelecida institucionalmente apenas recentemente, e ainda existem fortes traços do regime autoritário dentro do país - ao mesmo passo que também procura-se entender como a cultura política influencia democracias dentro de países da periferia, visto que em grande parte as teorias aplicadas mesmo dentro destes países são originárias de teóricos dos grandes centros, que não necessariamente refletem os obstáculos e particularidades encontrados nestes casos. No caso da China, procura-se entender a atuação dos indivíduos politicamente dentro de um país que, a partir das principais vertentes teóricas do ocidente, não seria de fato uma democracia; em especial neste caso, também busca-se entender o funcionamento da atuação política e dos mecanismos democráticos dentro de uma sociedade considerada como comunista. Já no caso da Rússia, percebe-se quase que uma mescla da preocupação existentes nos casos dos dois outros países: busca-se entender o funcionamento da jovem democracia capitalista russa, ao mesmo tempo que tenta ser entendido como o regime socialista, existente na região durante quase a totalidade do século XX, afeta (ou não) a cultura política atual dentro do país.

Em segundo lugar, percebe-se que a literatura nos três países aponta para históricos bastante diferentes entre eles. Enquanto ainda pode-se argumentar que existe alguma indicação de similaridade histórica entre a China e a Rússia pelo passado (no caso da China, passado e presente) comunista dentro dos países, o caso do Brasil difere completamente do experienciado nos outros dois. Ainda, mesmo dentro dos casos de China e Rússia, a cultura política que antecede os regimes comunistas em ambos os países diferem em vários pontos e, como apresentado, ainda possuem fortes influências na cultura política dos tempos presentes nos dois casos. Entretanto, ainda que sejam históricos bastante diferentes, em certos aspectos estes históricos podem apontar para alguns resultados semelhantes dentro dos países.

Um exemplo disto seria o caso da participação política. No Brasil, percebe-se uma baixa adesão a participação política tradicional, como em manifestações e greves, devido aos valores autoritários ainda existentes dentro da população. Na China, o mesmo é percebido, mas desta vez por uma inerente confiança da população aos grandes centros de poder (o que é inexistente no caso do Brasil), devido à cultura política derivada do confucionismo. E na Rússia, a baixa participação é provavelmente devida ao contexto generalizado de incerteza e desconfiança do fim da União Soviética, que afeta a sociedade de forma a torná-la apática para a participação política.

Desta forma, as variáveis que possuem resultados similares nos três países, de acordo com a bibliografia utilizada, mas por origens diferentes em cada um dos casos, dão abertura a duas possibilidades explicativas: (1) uma variável interveniente entre os três que poderia guiar mesmo culturas políticas distintas para resultados semelhantes; ou (2) as variáveis que possuam algum tipo de semelhança entre os três casos são ainda situações isoladas e que são realmente melhor explicadas individualmente, do que por uma variável única entre os países. Estas duas possibilidades são o que guiará os questionamentos aqui realizados durante o próximo capítulo e as conclusões aqui tomadas.

4. A SIMILARIDADE DOS PAÍSES EMERGENTES: ANÁLISE DE DADOS