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CAPÍTULO II – CRISE ESTRUTURAL DO CAPITAL: o trabalho precarizado no Brasil

2.1  O Estado burguês e luta de classes 63 

Cabe enfatizar que, conforme pode ser observado no capítulo anterior através da análise da via de desenvolvimento do capitalismo no Brasil e, sobretudo da conjuntura modernizadora nacional das décadas de 1930 e 1950, pode-se verificar que o Estado brasileiro, naquele contexto, promovera as vias necessárias para que o mercado fosse capaz de triunfar na condição de protagonista na regulação da economia, sendo assim o Estado mostrou que possui o papel de coadjuvante na sociedade burguesa, tendo em vista que sem Estado não há capitalismo. Nesse sentido vale lembrar que:

As teorias contraturalistas inauguram uma nova forma de pensar, segundo o qual o único

fundamento do homem é agora ele mesmo, que se descobre em absoluta individualidade e

64 partir daí que a Economia Política Clássica vai fazer do interesse próprio, do egoísmo, o centro a partir do qual se tece e se constrói a sociabilidade, se edifica a sociedade (...). Sendo assim surge naturalmente uma razão invisível que pauta as atividades da sociedade, tendo em vista que cada um ao cuidar de si mesmo termina por beneficiar o outro, na medida em que apreende que sua atividade e a satisfação de suas carências dependem da atividade e da satisfação dos desejos e carências dos ouros indivíduos. Empurrando todos os indivíduos para viverem em uma sociedade em que suas necessidades só podem ser satisfeitas pelo comércio. É daí que parte a teoria neoliberal para defender a ideia de que o mercado é o único meio de obtenção para a liberdade (TEIXEIRA, 1996, p. 227, grifos meus).

Sabe-se que as teorias contratualistas foram as primeiras formulações teóricas que se propuseram a dar uma resposta à realidade concreta sobre os conflitos e antagonismos que atravessavam as relações entre os homens, através da formação do Estado, tendo como principais pensadores Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rosseau. Cada um deles tinha uma concepção particular desse processo, mas convergiam sobre o discurso da existência de um contrato social que teria dado origem à regulação das relações entre o Estado e a sociedade.

Na perspectiva da formação do Estado moderno, para Hobbes, deve haver a transferência de poder para algum soberano: intitulado por ele de “O leviatã”, título do seu livro que trata sobre a questão. Nesse contexto, a transferência de poder consiste em um pacto, equivalente a um contrato social que é movido por uma “vontade razoável”, segundo a qual se garante a liberdade, sendo considerada razoável na medida em que garante a possibilidade de alcançar uma vida repleta de glórias e riquezas, tendo em vista a vontade natural dos indivíduos. Sobre a perspectiva de soberania o autor compreende o poder soberano como um poder perpétuo e ilimitado, que tem como as únicas limitações as leis divinas e naturais. Nesse sentido, a soberania não consiste em um poder tirano, portanto, deve haver algum retorno por parte do soberano, um elemento de favorecimento: garantia e/ou ganhos para a população. Assim, o individuo tem papel central na medida em que possui o direito inalienável a vida, é portador de direitos e sustenta e legitima o Estado.

A questão central dos estudos de Hobbes é o bem privado pode coincidir com o bem comum se ambos se preservarem, nesse sentindo a sociabilidade só é possível a partir do pacto, que é realizado no sentido de proteção e segurança. Logo, com o referido pacto se justifica o poder coercitivo por parte do Estado, já que partir dele é transferido a liberdade dos indivíduos para o Estado, que detém o poder absoluto com a finalidade de representar a maioria.

Diferentemente de Hobbes, que compreende o estado de natureza como um estágio de guerra, Locke entende esse estado como um estágio vivido pelos homens antes da formação

social e política, no qual todos os indivíduos eram iguais e livres. Assim, para esse autor a propriedade privada já existia nesse período, já que ao incorporar trabalho à terra dada por Deus o indivíduo consumava a propriedade privada, isto é, fundava a origem dela.

O estado de natureza tem uma lei da natureza para governá-lo, a que todos estão sujeitos; e a razão, que é aquela lei, ensina a todo o gênero humano... que, sendo todos iguais e independentes, ninguém deve prejudicar o outro em sua vida, saúde, liberdade ou posses (LOCKE, 1978, p.7).

Naquela época o trabalho não era aceito como algo positivo, tendo em vista que os nobres não tinham essa função social. Sendo assim, Locke busca legitimar o trabalho para se contrapor ao Estado absolutista. Dessa maneira, essa teoria de fato se aproxima aos interesses das massas enquanto legitima a propriedade privada através do trabalho. Locke tem como centralidade de seus estudos a propriedade privada e desse modo funda as bases do que é o Estado Liberal. Sabe-se que essa postura decorre do movimento político em que viveu de repulsão ao Estado absolutista enquanto forma de governo e por esse motivo a sua teoria política teve um grande poder de convencimento junto às massas, que em meio à revolta também se contrapõe a condição de hereditariedade do governo.

Devido ao fato da propriedade privada já existir antes da construção da sociedade segundo o pensando de Locke, ele a considera um direito natural dos indivíduos que não pode ser violado nem sequer pelo Estado, diferentemente dos pensamentos de Hobbes. Contudo, o autor discorre sobre a distinção da propriedade privada limitada e ilimitada:

O uso da moeda levou, finalmente, à concentração da riqueza e à distribuição desigual dos bens entre os homens. Esse foi, para Locke, o processo que determinou a passagem da propriedade limitada, baseada no trabalho, para a propriedade ilimitada, fundada na acumulação possibilitada pelo advento do dinheiro. (WEFFORT, 1991, p.85).

Assim, para Locke o contrato social e, portanto, a formação do Estado, se propõe a proteger a propriedade privada. Novamente aqui podemos observar diferenças significativas entre as concepções de Hobbes e Locke, já que para o último, o contrato social ocorre como um pacto consentido entre os indivíduos que buscam a proteção da inconveniente violação da sua propriedade que pode ocorrer durante o estado de natureza, ao contrário do que associamos na contemporaneidade a propriedade supracitada vai além dos bens materiais do indivíduo, abarcando inclusive sua vida e sua liberdade.

Essa transição do estado de natureza para a sociedade civil através da consolidação do Estado ocorre para Locke através do consentimento unanime dos indivíduos. Assim, após a

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unanimidade determinada no contrato inicial a forma de governo a ser escolhida deve ser determinada pelo princípio da maioria, segundo o qual os indivíduos optam entre os diversos tipos e governo (monarquia, oligarquia, democracia e etc.) Após a escolha do governo, cabe novamente a maioria escolher o poder legislativo, denominado por Locke de “poder supremo”. Nesse sentido, é importante ressaltar que na concepção desse autor o Estado tem a função de conservar a propriedade independente de sua forma de governo.

Em suma, o livre consentimento dos indivíduos para o estabelecimento da sociedade, o livre consentimento da comunidade para a formação do governo, a proteção dos direitos de propriedade pelo governo, o controle do executivo pelo legislativo e o controle do governo pela sociedade, são, para Locke, os principais fundamentos do estado civil. (WEFFORT, 1991, p.87).

De acordo com o pensamento de Rosseau, o progresso oriundo do século das luzes norteou o saber dos homens de uma maneira negativa, já que a partir de então, com o avanço das ciências e das artes, os costumes acabaram por se corromper. Além disso, segundo o referido autor, a prática da ciência passa a ser desenvolvida apenas em busca de prestígio frente a sociedade, de modo a sucatear cada vez mais a ciência comprometida.

Contudo, embora tenha feito essa crítica singular, Rosseau compreende também que o envolvimento dos cidadãos com as artes e a ciência se mostra necessário para mantê-los longe de problemas que possam corromper sua conduta moral. Contraditoriamente, ao mesmo tempo em que Rosseau adota essa postura, ele desenvolve atividade de escritor e produtor de peças de teatro e livros sobre moral e política. Sobre os temas abordados da filosofia política, destacam-se:

(...) a passagem do estado de natureza ao estado civil, o contrato social, a liberdade civil, o exercício da soberania, a distinção entre o governo e o soberano, o problema da escravidão, o surgimento da propriedade, serão trabalhados por Rosseau de maneira exaustiva. (WEFFORT, 1991, p.194).

Portanto, ao discutir sobre a transição do estado de natureza do homem até a sociedade regulada pela propriedade privada, Rosseau desenvolve uma história hipotética da realidade, assim, em sua obra intitulada “Discurso sobre a desigualdade” o autor ignora a realidade e os vestígios dela buscando traçar uma história que seja coerente, segundo ele, pautada em argumentos racionais.

Assim, a desigualdade se legitima na medida em que o rico propõe um pacto em defesa dos “fracos”, segundo o qual todos deveriam se submeter igualmente ao regulamento de justiça e paz e a deveres mútuos em busca de um bem comum. A partir dessa reflexão,

Rosseau muda sua metodologia de análise: “agora não se trata mais de reproduzir hipoteticamente a história da humanidade, mas de apresentar o dever ser de toda ação política”. (WEFFORT, 1991, p.195).

Sendo assim, a partir da sua nova metodologia de análise:

(...) ninguém sai prejudicado, porque o corpor soberano que surge após o contrato é o único a determinar o modo de funcionamento da máquina política, chegando até mesmo a ponto de poder determinar uma forma de distribuição da propriedade, como uma de suas atribuições possíveis, já que a alienação da propriedade de cada parte contratante foi total e sem reservas. (WEFFORT, 1991, p.196).

Para Rosseau o pacto é legítimo, igualitário. Segundo esse pensador em seu estado de natureza o homem é bom, “selvagem inocente”. Sendo assim, a propriedade privada inaugura o Estado de Sociedade, que se evidencia um pacto iníquo onde vigora força/poder equivalente ao Estado de natureza para Hobbes. (essa perspectiva o Estado tem a função de manter o “status quo”, mas apesar disso os atributos dos indivíduos permanecem iguais aos do Estado de natureza, de barbárie).

Para Rosseau o individuo natural não é o lobo do homem, ele tem uma função de auto conservação (como um amor próprio) e unido a isso uma compaixão/solidariedade aos problemas alheios. Assim, o homem não é só bom, ou só mau, suas carências são poucas e assim suas necessidades são criadas socialmente. Nessa perspectiva, Rosseau estabelece uma visão de que o homem pode mudar de acordo com o tempo.

Para além da importância da análise dos contratualistas, para a compreensão da gênese do Estado e sociedade civil, dimensões entre a particularidade e universalidade, é através do pensamento de Rousseau, que também inaugura-seo debate sobre a divisão do trabalho em relação à personalidade dos indivíduos, já que para ele através do trabalho coletivo o homem se socializa e a partir daí desenvolve o pensamento racional, a linguagem e a consciência.

Mediante a essa breve análise sobre as teorias contratualistas, e tendo em vista os estudos de Karl Marx, no que concerne ao debate sobre Estado e sociedade civil, compreende- se que este pensador inaugurou uma nova forma de pensamento submetendo essas categorias à historicidade. Em seus escritos, que datam desde 1843 até a publicação de O capital, Marx se ocupou em realizar a crítica às operações da filosofia idealista que insistia em tomar o Estado, a população, o dinheiro e assim por diante, como categorias descoladas da totalidade social. Sendo assim, pode-se compreender que os pilares da obra de Marx estão relacionados ao seu método de pesquisa, a sua perspectiva de revolução e à teoria do valor trabalho, constituindo-o como um pensador clássico que desenvolveu sua crítica à economia política,

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cujo método de análise da realidade se distingue e se contrapõe à concepção da realidade apoiada no “idealismo” por partir da base objetiva material da sociedade, para compreender a realidade, em vez de partir do campo das ideias.

Analisando o conjunto da crítica filosófica alemã, Marx e Engels (2006) elucidam que esta se limita à crítica das representações religiosas, já que para eles, na conjuntura em que a sociedade Alemã estava inserida, o progresso consistia em subordinar o Estado às representações jurídicas, políticas, morais e outras à esfera das representações religiosas, de forma que toda relação dominante era modificada em culto. Nessa perspectiva, para os novos hegelianos, a quem estava destinada sua crítica, a produção de consciência transformava-se em uma dimensão autônoma através das referidas representações. Sendo assim estas eram consideradas ilusórias e objeto de combate para Marx e Engels (2006), na medida em que as relações dos homens, suas atividades concretas e seus limites eram compreendidos como produtos de sua consciência. Sendo assim o modo idealista que a filosofia adotava naquele período era considerado equivocado por Marx, exatamente pelo fato de separar os sujeitos do contexto sócio-historico, econômico e político que atravessava as relações sociais.

Pode-se afirmar que Marx e Engels (2006) aprofundaram a crítica à lógica da construção do pensamento dos filósofos alemães, já que, de acordo com seus estudos, em nenhum momento os referidos pensadores associaram a filosofia com a realidade concreta, isto é, se referiam à desconsideração da dimensão objetiva e material da vida: a crítica versus o meio material, por isso, afirmaram que

Os pressupostos dos quais partimos não são arbitrários nem dogmas. São bases reais das quais não é possível abstração a não ser a imaginação. Esses pressupostos são os indivíduos reais, sua ação e suas condições materiais de vida, tanto aquelas que eles já encontraram elaboradas quanto aquelas que são o resultado de sua própria ação. Esses pressupostos são, pois, verificáveis empiricamente (MARX e ENGELS, 2006, p. 45).

Desse modo, estes fundamentos teóricos sob o ângulo das relações sociais naquelas comunidades levam a entender que as diferentes formas primitivas de propriedades privadas, tais como: Tribal, Comunal e Feudal constituem os estágios do desenvolvimento da divisão do trabalho como bases teóricas importantes na medida em que determinam as relações entre os indivíduos. Isso porque, ao modificar a natureza, os indivíduos com os avanços obtidos na evolução humana pelo trabalho e pela criação de novas necessidades tendem a modificar seus níveis de consciência. Isso é, cada indivíduo inserido em uma determinada relação de produção estabelece também determinadas relações sociais e políticas.

Assim, ao contrário do que propagavam os filósofos alemães, os quais partiam do plano das ideias e das representações para explicar a vida empírica dos homens, Marx e Engels (2006) deram um salto mais significativo na explicação teórica a esses fatos da história, quando afirmaram que deveriam partir das atividades da vida real dos homens para assim expor o reflexo das mesmas a partir de plano das ideias e da ciência, tendo em vista que mesmo os pensamentos dos homens são reflexos de sua vida material e assim empiricamente comprováveis, pois, a vida dos homens corresponde ao que eles produzem, desse modo:

(...) os homens, ao desenvolverem sua produção material e relações materiais, transformam, a partir da sua realidade, também o seu pensar e os produtos do seu pensar. Não é a consciência que determina a vida, mas a vida é que determina a consciência (MARX e ENGELS, 2006, p.52).

Na seção introdutória da Crítica da filosofia do direito de Hegel, livro escrito por Marx em 1843, o autor deixa claro que naquela conjuntura histórica em que vivia a Alemanha, a religião se apresentava como o idealismo filosófico capaz de acorrentar e silenciar os homens que sofriam com os rebatimentos do desenvolvimento do capitalismo naquele país. Obviamente, essa é uma crítica que perpassa as concepções de todo o território mundial, considerando que o globo terrestre, em suas fragmentações de Estados nacionais, desenvolve relações capitalistas de produção e consumo.43 Assim sendo, considera-se que, sobretudo em países de capitalismo periférico como é o caso do Brasil, esse ideário ilusório de felicidade individual alcança com ferocidade a classe trabalhadora, principalmente porque, como já sinalizado, na nossa condição de colônia nos foi imbuído o pensamento de que tudo que vem de países de capitalismo central é bom e promissor, principalmente as ideias. Ora, se não foram as ideias que fizeram deles o que são, “quem fomos?”. Ironias à parte, há de se considerar que para Marx se a explicação dos movimentos da realidade parte de uma premissa metafísica, então o homem não é capaz de se desvencilhar dos grilhões que o aprisionam. Sendo assim, a crítica a essa forma sagrada

(...) arrancou flores imaginárias dos grilhões, não para que o homem suporte grilhões desprovido de fantasias ou consolo, mas para que de desvencilhe deles e a flor viva desabroche. A critica da religião desengana o homem a fim de que ele pensa, aja, configure

43 Aqui, cabe destacar que concordo com Ricardo Antunes quando defende a tese de Mészáros de que: “O sistema do capital funciona através de um tripé composto por: Trabalho alienado, Estado e propriedade privada, portanto o desafio é eliminar o tripé em seu conjunto (...). Países chamados socialistas eliminaram o capitalismo, mas não o sistema do tripé do capital, portanto permaneceram prisioneiros a lógica do capital.”A afirmação foi elaborada na ocasião da palestra “A destruição do trabalho em uma era de rebeliões e contra revoluções,” organizada pelo Núcleo de Estudos Trabalho e Sociedade e ministrada no dia 16/11/2015 na Universidade

70 a sua realidade como um homem desenganado, que chegou à razão, a fim de que ele gire em torno de si mesmo, em torno de seu verdadeiro sol(MARX, 2010, p.146)

Portanto, é necessário pontuar que esta análise decorre do fato de que naquele momento histórico o Estado e a religião andavam, abertamente, de mãos dadas, sendo o Estado e a sociedade produtores e reprodutores da religião, fato que impulsionava uma consciência invertida do mundo. Marx expressava os desdobramentos do Estado moderno naquele período histórico não no intuito de apenas causar furor, mas que esse furor fosse capaz de reverter a “forma sagrada de autoalienação” (MARX, 2010, p.146).

Atualmente, sabe-se que a maior parte dos países, inclusive o Brasil, se declara laico, mas ainda assim a realidade expressa por Marx (2010) permanece e se perpetua das mais diferentes formas, sobretudo a partir da propagação e da emissão de valores religiosos na vida pública. Será que podemos averiguar esse assunto sem nos remetermos à bancada evangélica que integra atualmente o Congresso Nacional brasileiro? Essa bancada articula-se independente de partidos políticos para votar contra questões como: direito ao aborto, igualdade de gênero e casamento de pessoas homossexuais. Estas questões possuem claramente um viés religioso retrógrado que se destoa da premissa de um Estado laico, mas em uma democracia o que são os governantes, se não a imagem dos seus eleitores?

Retornando à crítica feita por Marx à teoria do Estado desenvolvida por Hegel, sobretudo sua incidência e particularidades na Alemanha, tem-se que naquele contexto o antigo regime teve forte impacto no que se formaria o Estado moderno, já que a Alemanha não viveu uma revolução burguesa, como viveu a França, e sim um movimento reconciliatório com o passado de modo a garantir as classes dominantes no poder, assim como fez o Brasil, mas com suas particularidades na condição de colônia, conforme foi exposto no capítulo anterior. Portanto há de se concordar que:

(...) mesmo para os povos modernos, essa luta contra o teor limitado do status quo alemão não carece de interesse, pois o status quo alemão é a perfeição manifesta do ancien régime, e o ancien régime é o defeito oculto do Estado moderno (...). Se acreditasse na sua própria

essência, tentaria ele ocultá-la sob a aparência de uma essência estranha e buscar sua

salvação na hipocrisia e o sofisma? O moderno ancien régime é apenas o comediante de uma ordem mundial cujos heróis reais estão mortos (MARX, 2010, p.148 grifos do autor).

A crítica de Marx (2010) a respeito da relação entre religião, Estado e sociedade civil é capaz de se contrapor à crítica de alguns pensadores que refutam o materialismo histórico dialético considerando-o economicista. Assim, pretende-se esclarecer que nesses estudos compreende-se que para Marx a sociedade não se constrói apenas pela dimensão econômica,

mas também pela organização política, as regras e a consciência social, cultural e essas dimensões se erguem a partir da base econômica. Nessa perspectiva, na sociedade capitalista a política é compreendida como o Estado, as regras como o ordenamento jurídico e a