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Atualmente as sociedades modernas encaram um aumento de produção de RCD. Mais de metade da população mundial vive em cidade, ou seja, existe um crescimento bastante significativo dos aglomerados urbanos. Segundo Ferreira (2006), pelo menos 60 cidades são habitadas com mais de 5 milhões de habitantes, Tóquio ou São Paulo são cidades que ultrapassam os 20 milhões de habitantes.

Atualmente, na grande maioria dos países, as populações vivem em cidades. Na Alemanha, 88% da população vive nas cidades, no Reino Unido 89% e na Bélgica a percentagem é ainda superior, atingindo os 97%. Por sua vez, a África e a Ásia do Sul, serão maioritariamente urbanas em 2025 (Canedo, 2011).

Em Portugal tem-se assistido a uma renovação contínuo dos centros urbanos em consequência do aumento da densidade populacional reaproveitando melhor o solo, sendo demolidas as edificações mais antigas que são substituídas por novas e modernas construções. Com 55% de população urbana, Portugal é considerado o segundo país mais rural da União Europeia mas é também um dos países com as maiores taxas de crescimento urbano (UNFPA, 2003). Como consequência deste crescimento urbano, o número de demolições também se evidenciaram.

Em Portugal, o número de demolições tem avançado a um ritmo avassalador. Este facto deve- se a enorme necessidade de melhor aproveitamento do solo, reorganização do centro das cidades, mudanças tecnológicas céleres na construção, mau estado das habitações e presença de materiais perigosos em alguns edifícios. Um fator que contribuiu bastante para o aumento do número de demolições foi o incremento de construções no parque habitacional em Portugal. Este incremento implicou a construção de edifícios de baixa qualidade, tendo como consequência a diminuição do ciclo de vida desses mesmos edifícios. Por este motivo, Portugal apresenta um conjunto de edifícios de péssima qualidade, o que conjugado com a pouco incentivo á reabilitação urbana, faz com que se verifique um número cada vez mais elevado de edifícios degradados (figura 9).

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Figura 9 - Edifício bastante degradado (fonte: Google images)

Existem em Portugal vários exemplos que refletem a péssima qualidade dos edifícios e “erros urbanísticos” (“prédio Coutinho” em Viana do Castelo (figura 10 a); “torres de Ofir” (figura 10b); Pavilhão do Dramático de Cascais), em que a única forma de resolução foi decretar a respetiva demolição dos edifícios, algo que até ao momento ainda não se sucedeu (Costa, 2009).

a) b)

Figura 10 – Exemplos de erros urbanísticos em Portugal: a) Prédio Coutinho; b) Torres de

João Pedro da Silva Pereira Ferreira 47 Com o objetivo de retratar a evolução do setor das demolições ocorridas em Portugal, efetuou-se uma consulta com base nos dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e registou-se o número de licenças de construção e demolição, passadas pelas Câmaras Municipais.

Afigura 11 apresenta a evolução dos números de licenças emitidas pelas Câmaras Municipais (CM) para obras referentes a ampliações, alterações, reconstruções e demolições de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE).

Figura 11 - Licenças emitidas por tipo de obra em Portugal Continental (fonte: INE)

Após observação da figura 11, conclui-se que até 2001 as obras de ampliação de edifícios eram feitas em maior número, no entanto, a partir desta data verifica-se um decréscimo das obras de reconstrução e um aumento das obras de demolição. Pode parecer estranho acontecer esta situação, pois os conceitos do INE dizem que uma reconstrução é uma obra de construção subsequente a uma obra de demolição parcial, mas não é possível saber se essas obras de demolição parciais são contabilizadas para as obras de demolição. Contudo, isto leva a que se possa concluir que houve um desinteresse por parte dos proprietários pela reconstrução, nomeadamente em centros urbanos, optando-se pela demolição total, e posteriormente, a construção de novos edifícios. As obras em que se procede à alteração das características físicas dos edifícios não sofreram grandes alterações ao nível do número de licenças emitidas pelas CM, mantendo-se aproximadamente constantes ao longo do tempo.

48 João Pedro da Silva Pereira Ferreira Dos vários países europeus, Portugal é o que menos investe na reabilitação de edifícios. Em relação aos restantes países, investe menos de 10%, em que a atividade na área da reabilitação atinge os 50%. Esta percentagem deve-se em muito às várias dificuldades que o processo de reabilitação tem de enfrentar e também, pelo facto, de grande parte da construção existente, ser caraterizada por uma baixa qualidade e sem qualquer valor patrimonial, fazendo com que não haja qualquer motivação para se investir na reabilitação. Em muitas situações, quando se faz reabilitação, esta é apenas executada na fachada e não no interior (Couto & Couto & Teixeira, 2006).

Um estudo realizado pelo INE, no ano de 2009, revelou que houve um decréscimo de 21,5% de edifícios licenciados em Portugal, relativamente ao ano anterior. Este decréscimo vem se verificando desde o ano 2000. A grande generalidade dos edifícios licenciados destina-se a construções novos, representando cerca de 67,5% do total de edifícios. No ano anterior, as construções novas representavam cerca de 72,3% do total de edifícios, o que evidencia a importância crescente da reabilitação do edificado, no sector da construção.

Como já foi dito anteriormente, muitas vezes para a construção de novos edifícios outros têm de ser demolidos. No entanto, o sucessivo aumento de demolições provoca uma grande quantidade de resíduos de construção que, na maioria dos casos, só aumenta a quantidade de material, que é enviada para aterro.

Um estudo efetuado pela European Demoliction Association, (EDA) prevê o aumento crescente da produção anual de resíduos, dos atuais 450Mt para cerca de 600Mt por ano, em 2020. Uma alternativa para tentar reduzir a quantidade de resíduos de construção de demolição que são enviados para aterros, é a adoção da desconstrução seletiva, de forma mais frequente, como processo de demolição.

Este conceito surgiu, tal como foi referido, com a necessidade de uma diminuição rápida dos resíduos produzidos, sobretudo através dos processos tradicionais de demolição. No entanto, e mesmo com o aumento da preocupação ambiental expressa pela sociedade, esta prática ainda não é muito verificada atualmente. Pode-se dizer que em Portugal não existe uma compreensão e aceitação relativamente ao processo de desconstrução.

João Pedro da Silva Pereira Ferreira 49 Para que se atinja esse patamar, é necessário a divulgação e consciencialização de regras e regulamentações ambientais, junto das entidades envolvidas na Industria da Construção, especialmente proprietários, projetistas e empreiteiros sobre a importância da desconstrução seletiva.