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5 DINÂMICA ESPACIAL E IMPACTOS AMBIENTAIS EM PARACURU

5.2 O ESTADO EM PARACURU (1985 – 1995)

A mudança nos processos sociais que motiva a separação deste período é relativa a influência do Estado no espaço paracuruense. Anteriormente, quando se discutiu a formação socioespacial do município, vimos que o não houve grandes intervenções estatais no mesmo, ficando o desenvolvimento de sua configuração espacial delegada a agentes locais, como os proprietários fundiários, a comunidade e, posteriormente, o setor imobiliário. Esse cenário foi modificado quando na metade da década de 1980 se realizou a implantação da unidade da Petrobras em Paracuru (figura 28).

Figura 28 - Configuração espacial de Paracuru no período de 1985 - 1995

Período Atividades Agentes Economia Organização

espacial 1985 - 1995 Pesca artesanal, pesca da lagosta, agricultura familiar, artesanato, comércio, construção civil, setor imobiliário, veraneio Comunidade, proprietários fundiários, veranistas, Estado Comércio, atividades primárias, serviços, atividade industrial Núcleo urbano consolidado, abertura de vias sobre o campo de dunas, expansão da área urbana em direção ao interior Fonte: Paracuru, 2008. organizado pelo autor.

Com cerca de 11.000 m² e dedicada a oferecer apoio logístico – suporte técnico e transporte de passageiros – às atividades de exploração das nove plataformas de petróleo existentes na bacia de exploração referente ao município, a unidade da Petrobras trouxe consigo sensíveis alterações de ordem ambiental – principalmente no que se refere à dinâmica das dunas, como já frisamos anteriormente – e social à Paracuru.

Em entrevista realizada com o Técnico de Logística de Transportes da unidade, Sr. Mário Marques, pudemos apreender características do funcionamento da mesma. Atualmente, cerca de 80 a 100 trabalhadores são empregados na unidade, dos quais 80% são

funcionários na própria base e majoritariamente moradores de Paracuru, com regime de trabalho em horário comercial de segunda a sexta-feira. Já os técnicos empregados nas plataformas são submetidos a um regime de trabalho em que passam catorze dias nas plataformas e catorze dias em terra, e são, em sua maioria, provenientes de outros lugares de todo o Brasil, não estabelecendo moradia na cidade.

A sede municipal funciona aos funcionários da Petrobras não nativos como uma espécie de suporte. Eventualmente é utilizada para alimentação, lazer e hospedagem, mas, somente em casos excepcionais, dado o regime de trabalho ao qual estão submetidos.

Assim, cotidianamente não são sensíveis grandes mudanças na economia do município em função da existência da Petrobras, sendo sua contribuição dada através de pagamentos de royalties derivados da exploração petrolífera. Aliás, o petróleo é direcionado à Refinaria Lubrificantes e Derivados do Nordeste (Lubnor), no bairro Mucuripe em Fortaleza, onde é transformado em asfalto e óleos lubrificantes.

No entanto, de acordo com o Sr. Mário Marques, a Petrobras oferece à comunidade apoio para a realização das tradicionais regatas de pescadores, além de cursos profissionalizantes em técnico de refrigeração, oferecidos através do programa Jovem Aprendiz a pessoas com idade entre 14 e 24 anos regularmente matriculadas no ensino fundamental ou médio.

Apesar de não ser a principal responsável pela dinamização da economia local, a Petrobras absorve um determinado contingente de trabalhadores locais. Assim, pessoas que se dedicavam a atividades como a pesca artesanal se viram, em função do declínio da produtividade, pouco a pouco atraídas a pleitear um emprego na base da estatal por conta da relativa estabilidade financeira oferecida por um emprego formal. Em entrevista com o pescador Sr, Suélio, foi confirmada a existência dessa dinâmica.

Logo, percebe-se a influência em maior ou menor escala que a implementação de atividades industriais tem sobre a dinâmica espacial de municípios da costa oeste cearense. Borges (2014) observa que em Pecém os filhos dos pescadores locais atualmente buscam empregos nas atividades dinamizadas pelo Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) abandonando a pesca, atividade tradicionalmente desenvolvida pelos seus pais e pela comunidade de maneira geral.

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Não foi só através do incentivo à atividade industrial que o Estado passou a promover alterações espaciais na costa cearense. O incentivo à atividade turística apoiado no desenvolvimento de programas como o PRODETUR foi um grande promotor de mudanças na organização espacial do litoral cearense. Com a construção de uma racionalidade turística ao Ceará pautada na atribuição de um caráter paradisíaco de seu litoral (ARAGÃO, 2006), o governo buscou construir novos significados ao espaço cearense, negando a imagem historicamente atribuída de uma terra seca e de oportunidades limitadas de exploração econômica (DANTAS, 2002).

Uma prova do forte apelo ao ‘turismo de sol e praia’ foi dada em 1989, quando o então Governo de Tasso Jereissati lançou o Programa de Desenvolvimento do Turismo em Áreas Prioritárias do Litoral do Ceará, o PRODETURIS (...). Em 1992,

o PRODETURIS foi incorporado a uma proposta maior – o Programa de Ação para

o Desenvolvimento Trístico do Nordeste, o PRODETUR-NE, o qual selecionou áreas específicas de investimentos turísticos no litoral de cada Estado nordestino. No Ceará, a área escolhida para o PRODETUR-CE foi a Região II do PRODETURIS, que compreende seis municípios do litoral oeste cearense, indo do Lagamar do Cauípe, em Caucaia, até a Praia da Baleia, em Itapipoca. (ASSIS, 2006).

Os projetos citados eram referentes à garantia da atividade turística, portando, perpassavam obras de infraestrutura, como a construção de estradas de acesso, e ações relativas ao ordenamento do uso do solo. Nota-se que Paracuru esteve desde o início incluído na lógica de expansão da atividade turística no Ceará, muito embora não tenha sido tomado nessa época como um pólo turístico do litoral oeste – sendo estas funções delegadas aos municípios de Itapipoca, Itarema, Jericoacoara e Barroquinha (ARAÚJO, 2012) – mesmo assim, surgiram modificações espaciais: a ocupação de novas áreas por segundas residências e a introdução de uma nova forma de apropriação e uso do solo, que reforçam a consolidação da urbanização (PEREIRA, 2006).

Figura 29 - Casa de veraneio em Paracuru

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