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5 AS OPORTUNIDADES E OS RISCOS NA DINÂMICA DE EVOLUÇÃO DA REABILITAÇÃO URBANA DOS CENTROS HISTÓRICOS

B. Estado Físico

B1. Edificação B. Edificação B1. Altura/Cércea

B2. Espaço exterior B2. Alienação e altura

interior

B3. Mobiliário urbano B3. Catalogação e medidas de tratamento vertical B4. Usos recomendados C. Actividades C1. Usos dos edifícios C. Espaço

exterior C1. Melhoria ambiental C2. Usos do espaço exterior público C2. Envolvente espacial C3. Usos recomendados D. Paisagem Urbana D1. Relação edificado- paisagem D. Tráfego e transportes D1. Hierarquia de vias

D2. Identidade urbana D2. Rede pedonal

D3. Áreas ambientais D3. Política de

aparcamento D4. Espaço edificado e privado D4. Rotas e paragens de transporte público E. Vias de tráfego e infra- estruturas de transportes

E1. Transporte público

E2. Parqueamento

Figura 5.2 – Organização de temas para desenvolvimento de metodologias de análise e intervenção em centros antigos (adaptado de Candeira, 1999).

Esta carta recomenda que a conservação integrada não deverá excluir a arquitectura contemporânea em conjuntos antigos, mas recomenda-se que esta tenha em reflexão as preexistências, deverá respeitar as proporções, a forma e a disposição dos volumes locais e os materiais de construção tradicionais. Para se poder alcançar os objectivos de conservação integrada do património devem estar disponíveis os meios jurídicos, mediante leis e

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regulamentos que orientem as intervenções no património, os meios administrativos funcionais, meios financeiros e os meios técnicos qualificados.

5.4 - Os riscos associados à reabilitação do património

O património é um bem colectivo e cada um dispõe desse património a título provisório, sendo por isso da responsabilidade individual e das autoridades a sua transmissão às gerações futuras. O projecto de reabilitação e reutilização da cidade é provavelmente mais difícil do que construir de novo. Mas é também a forma mais adequada para a valorização do património construído, seja este erudito ou vernáculo, e certamente a opção que melhor defende um conjunto amplo de aspectos que passam pelos económicos, preservação da memória da história e garantia de futuro.

A exploração do património como fenómeno de multidões, incentivado muitas vezes pelas receitas das entradas em recintos e espectáculos e dos consumos diversos, pode acarretar inúmeros inconvenientes destacando-se a necessidade de criação de acessibilidades, que muitas das vezes se localizam muito próximo dos centros históricos, exigindo parques de estacionamento e serviços de apoio, quando não poucas vezes estes fluxos de viaturas os atravessam de forma massiva.

Atribuir novas funções a uma construção antiga, feita com técnicas e materiais que muitas vezes se perderam no tempo, é uma tarefa delicada e complexa, não só a nível construtivo mas, na maioria das vezes, ao nível das forças que definem e condicionam o planeamento. Mas as cidades e os seus conjuntos antigos, constituindo património “histórico” ou não, são o palco para as dificuldades que se confrontam na valorização e reutilização do seu património, nomeadamente perante as exigências da sua adaptação aos estilos de vida contemporâneos. A integração dos conjuntos históricos nos modelos de vida actuais assume importância internacional a partir de 1975 e em 1976 em Nairóbi a UNESCO adopta as “Recomendação sobre a Salvaguarda dos Conjuntos Históricos e da sua Função na Vida Contemporânea”, cujo texto apresenta uma visão de enquadramento dos conjuntos urbanos antigos numa perspectiva não museológica, constituindo um texto que continua ainda muito actual, alertando para os perigos que podem advir deste enquadramento (UNESCO, 1976).

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Nas recomendações, que começam por considerar que “ …os conjuntos históricos ou tradicionais fazem parte do ambiente quotidiano dos seres humanos em todos os países, que os conjuntos históricos ou tradicionais constituem através das idades os testemunhos mais tangíveis da riqueza e da diversidade das criações culturais, religiosas e sociais da humanidade e que sua salvaguarda e integração na vida contemporânea são elementos fundamentais na planificação das áreas urbanas e do planeamento físico-territorial, …”, entre outras questões, são apontadas direcções para a protecção dos conjuntos antigos considerando a vivência das comunidades autóctones nesse conjuntos, sendo esta uma forma de combater o processo global de “banalização e de normalização das sociedades e do seu ambiente”.

O perigo da cidade convertida em cenário com uma imagem mediática, onde acontecem festivais, festas, celebrações, e demais acontecimentos, alguns verdadeiros e outros falsos, com o objectivo de movimentar o maior número de visitantes em movimento à procura de uma ideia imaginada. Nestes casos a cidade como património passa a ser uma má realidade encenada e ao mesmo tempo a paisagem é convertida sucessivamente em cena. Colocam-se assim em marcha enormes multidões, em que o património, tanto cultural como construído, se converte em divertimento para consumo da sociedade de espectáculo, a cultura de massas, popular e contemporânea, para a gente da outra cidade que é momentaneamente libertada da clausura das assoalhadas e dos órgãos mediáticos.

Factores tecnológicos contribuem também para montar uma encenação como é o caso da iluminação que expõe em demasia, em monumentos e edifícios que nunca a tiveram, e o som que distrai e diverte o visitante (Choay, 2008). É o efeito da animação nessas e outras derivadas formas que actuam sobre o visitante e que mais uma vez introduzem um ruído no verdadeiro contexto histórico que se pretende presenciar, mas que tantas vezes interessa ao público “de massas” que pretende obter um efeito imediato, quase instantâneo, sem entender perfeitamente nada daquilo que possui o local onde este se encontra.

Choay aborda no último capítulo do livro de (Choay, 2008), o património na era da indústria cultural e o culto do monumento histórico, a mundialização dos valores e das referências ocidentais apontados na Conferência Geral da UNESCO de 1972, onde se estabelece a definição de património cultural universal. Com base nestas ideias universais a Convenção

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definiu “a identificação, protecção, conservação, valorização e transmissão às gerações futuras do património cultural”; “incumbe à totalidade da colectividade internacional participar na protecção desse património”.

O desenvolvimento da sociedade de lazer, do turismo cultural de massas, é quase como que retornar à teoria de Ruskin, a valorização da cidade museu intocável, enquanto, por outro lado, se destrói, por razões económicas, quarteirões inteiros. Trata-se segundo Choay (2008) de um “combate desigual e duvidoso”, em que se pode com uma decisão mudar o destino de um monumento ou de uma cidade antiga. Os “termos simbólicos” conservação e restauro, encenação, animação, modernização, rentabilização e entrega devem ser questionados de forma a serem evitados alguns erros a que se chegou a partir da década de 1970 até à actualidade na conjugação, segundo Choay, da “trindade património-reabilitação-economia”. Tal como refere G. Giovannoni (1931) e citado por (Choay, 2008) “Os centros e os bairros antigos não poderão ser conservados e integrados na vida contemporânea se o seu novo destino não for compatível com a sua morfologia e a sua escala”. A integração na vida contemporânea, o evitar dos efeitos perversos da massificação do turismo associado ao património, a criação de programas de conservação estratégica, evitando que as actividades que envolvem a património se transformem num “espelho e num comportamento narcísico” são os objectivos que deverão ser ambicionados.

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6 - SANTA MARIA DA FEIRA. HISTÓRIA, CARACTERIZAÇÃO E EVOLUÇÃO