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Fonte: Shvarzman et al., 2003, p 408.

2.4 PROPRIEDADES DAS ARGAMASSAS

2.4.1 Estado fresco

As propriedades das argamassas em seu estado fresco estão diretamente ligadas a sua trabalhabilidade, manuseio e aplicação enquanto esta ainda não começou a endurecer. Uma correta adequação de suas características reológicas às diversas solicitações envolvidas no momento da sua aplicação contribui para obtenção das máximas propriedades finais determinadas pelas características de formulação (CARDOSO et. al., 2010).

67 As características reológicas de uma argamassa são muito complexas. Esses parâmetros geralmente são avaliados através de métodos simples como o da mesa de escoamento, do cone de Abrams ou do penetrômetro. Além desses ainda existem outros métodos tais como o do “Squeeze-flow”, usado principalmente no estudo do comportamento de argamassas industrializadas de cimento Portland, e que indica o tempo além do qual a argamassa não deveria ser mais trabalhada; o Vane test mede a tensão limite de escoamento, determinando de forma indireta a consistência. Vários trabalhos, no Brasil, têm utilizado o “Squeeze Flow”, como em Cardoso et. al. (2005), Silva et al. (2005), Cardoso et al. (2009), Betioli et al. (2009) etc., assim como também o Vane test (ALVES, 2002; DO Ó, 2004; BAUER et al., 2007). Através desses métodos só é possível obter apenas um parâmetro, seja relacionado à viscosidade ou a tensão de cisalhamento, os outros são obtidos de forma indireta.

Para uma análise mais precisa e direta desse comportamento reológico são necessários ao menos dois parâmetros: a tensão de cisalhamento inicial e a viscosidade (BANFILL, 1994; TATTERSALL, 1976 apud AZEREDO, 2008). E isso só é possível através do uso de um reômetro. No Brasil o estudo envolvendo o uso de reômetros para argamassas e pastas ainda é incipiente. O uso de reômetros tem sido mais frequente no estudo de pastas cimentícias. Um dos motivos seria o fato da não disponibilidade desse tipo de equipamento para estudo em argamassas.

Neste trabalho as argamassas no estado fresco foram estudadas através da sua consistência pelo método da mesa conforme NBR 13276 (2005) e também pela sua densidade de massa fresca de acordo com a NBR 13278 (2005).

Segundo Cincotto et al. (1995) a consistência é a propriedade pela qual a argamassa no estado fresco tende a resistir à deformação, não existindo uma unidade definida que a quantifique. No entanto, vários autores classificam as argamassas segundo esta propriedade, em argamassas secas, plásticas ou fluidas (CINCOTTO et al., 1995). A consistência é diretamente determinada pelo conteúdo de água, sendo influenciada pelos seguintes fatores: relação água/aglomerante, relação aglomerante/areia, granulometria da areia, natureza e qualidade do aglomerante (SILVA, 2006).

A consistência pode ser influenciada pelo tipo, forma e características texturais do agregado, apesar de não haver trabalhos conclusivos que quantifiquem tal influência (ARAÚJO, 2001 apud SILVA, 2006). Segundo Carneiro (1999) a areia não contribui com as reações químicas do endurecimento da argamassa, mas influencia no estado fresco pela

68 composição granulométrica; o formato dos grãos interfere na trabalhabilidade e na retenção de água; nas resistências mecânicas, na capacidade de deformação, na permeabilidade.

As características granulométricas, segundo Tristão (1995) e Carneiro (1999), influenciam nos volumes de vazios máximos e mínimos, causando uma variação na quantidade de aglomerante requerida na mistura. Quanto maior a continuidade na distribuição granulométrica do agregado, menor será o volume de vazio e menor é a necessidade de pasta para uma dada consistência. Carneiro (1999) em seu estudo coloca que a massa unitária e o índice de vazios calculado são “indicadores relevantes” para a avaliação da compacidade das areias, ressaltando que em conjunto com o coeficiente de uniformidade, deve-se analisar também o perfil da curva granulométrica. No entanto, estas considerações foram feitas para materiais monofásicos ou com pouca variação mineralógica nas frações, o que não é o caso do resíduo de caulim.

A densidade de massa fresca está relacionada com a quantidade de ar presente na argamassa fresca e que tem influência em sua massa fresca assim como também na densidade de massa endurecida (NAKAKURA, 2003). Ainda conforme o mesmo autor, o ar possui densidade menor que a argamassas e ocupa uma fração de seu volume.

A argamassa incorpora ar durante o período de mistura e atinge no máximo cerca de 3 a 4% do volume da mistura conforme Nakakura (2003). Esse teor de ar pode ser aumentado com o uso de aditivos incorporadores de ar. O teor de ar também influencia em características como as resistências mecânicas. Segundo Alves e Do Ó (2005) a incorporação de ar nas argamassas traz benefícios para algumas de suas propriedades tais como:

Módulo de deformação que é normalmente reduzido, o aumenta a capacidade de deformação da argamassa;

Retração que também é normalmente reduzida; Exsudação, também diminui;

Massa específica que é reduzida.

Dentre alguns estudos realizados sobre as argamassas a base cal e de cal-pozolana no estado fresco, pode-se destacar aqueles realizados por Seabra et al. (2007); Seabra et al. (2009); Izaguirre et al. (2011) e Nóbrega et al. (2010). Os três primeiros tratam do estudo do comportamento de argamassas contendo apenas cal como ligante em função da adição de aditivos químicos, o qual não está no escopo deste trabalho. Em Nóbrega et al. (2010) a

69 trabalhabilidade de argamassas de cal-metacaulim é estudada através da mesa de consistência. Nesse estudo é mostrada a influência de dois tipos de metacaulim comercial nas propriedades frescas e endurecidas de argamassa de cal. Os resultados apontaram que quando o teor de MC foi menor em relação ao teor de cal, a trabalhabilidade das argamassas foi semelhante para os dois tipos de MC, enquanto que para um maior teor de MC houve influência nessa propriedade. Essa influência foi devido a diferença de finura entre os dois tipos de MC.

Estudos sobre as propriedades de argamassas frescas à base de cal têm sido pouco explorados. E de acordo com a literatura revisada são aqueles envolvendo cal-pozolana como ligante são ainda mais escarssos. Portanto neste trabalho a influência do resíduo de caulim, tanto como aglomerante e como material inerte nas propriedades das argamassas frescas a base de cal, serão avaliada através das duas características descritas anteriormente.

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